Juan Pablo Vojvoda comenta sobre objetivos, carreira e Fortaleza; veja entrevista completa

O treinador tricolor tratou também da saudade da família e revela ter deixado de lado uma carreira na medicina para seguir sonho no futebol

Legenda: O técnico argentino Juan Pablo Vojvoda tem contrato com o Fortaleza até o fim de 2021
Foto: Kid Júnior / SVM

Ser treinador de futebol sempre foi um sonho para o atual comandante do Fortaleza. Em entrevista exibida no Esporte Espetacular, da TV Verdes Mareso argentino Juan Pablo Vojvoda revelou o motivo de ter abandonado uma possível carreira como médico e deu detalhes de como caminharam as negociações para assinar o contrato com Tricolor do Pici. 

Apaixonado pela família, que ainda está morando na Argetina, Vojvoda lembrou dos tempos como jogador, tendo se classificado como mediano. Mas garantiu que todo o foco da carreira, neste momento, está em executar o melhor trabalho possível pelo Fortaleza. 

O treinador do Leão ainda lembrou como foi a oportunidade de ter enfrentado Diego Armando Maradona em La Bombonera, estádio do Boca Juniors, e mencionou o desejo de reencontrar com a torcida em "Castelão lotado". 

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Confira a entrevista completa com Juan Pablo Vojvoda:

Com pouco mais de um mês no Fortaleza, morando na capital cearense, e treinando o Fortaleza Esporte Clube, como tem sido a sua adaptação e do que você tem mais gostado até aqui no Tricolor? 

A adaptação é verdade e tem sentido que ela tem sido muito rápida, tanto ao clube como às pessoas que trabalham aqui no dia a dia, o que tem me ajudado muito. Mas precisamo ser realistas e os resultados ajudam muito, e eles estão vindo ao nosso favor. Quando isso acontece, o funcionamento e as ideias passam mais rapidamente para os atletas. A 

O que o fez vir treinar o Fortaleza e como foi o primeiro contato com a diretoria do clube? Para você, o convite foi surpresa o convite? 

Eu tenho de ser realista. Eu trabalhei na Argentina e no Chile, e o futebol brasileiro é visto em toda a América do Sul, então quando os times brasileiros disputam competições internacionais, todo mundo assiste. Eu buscava muito uma oportunidade de trabalhar no futebol brasileiro. A negociação começou com um chamado do Marcelo (Paz) e do Alex, que é diretor esportivo, e nas nossas entrevistas eu sempre buscava informações sobre o Fortaleza, pois se vou para o clube, tenho de saber e observar as partidas da equipe. Parecia uma equipe com bons jogadores e bons profissionais vinculados ao clube acompanhando o dia a dia do futebol. Parecia uma decisão muito correta. 

Ser técnico de futebol sempre fui um sonho seu? 

Eu fui jogador de futebol. Toda a minha família está vinculada ao futebol e esse sempre foi um sonho. E os sonhos precisam ser alimentados com paixão e muito trabalho. 

Tem algum técnico que te inspirou a buscar esse sonho de ser treinador? Você se inspira em alguém desse mercado? 

Eu creio que todo treinador está em busca de aperfeiçoar sua capacidade de trabalhar com um grupo de jogadores que busca melhorar constantemente. Acredito que minha inspiração não foi em uma pessoa só, mas tenho que reconhecer que fui formado no News Old Boys e eles tiveram muitos treinadores de nível internacional, como Marcelo Bielsa, (Gerardo) Martino, (Mauricio) Pochettino, e a partir daí eu sempre escolhi aprender algo deles. Além disso, sempre olhei tendências do futebol nacional e internacional, já que devemos estar atualizados constantemente. 

Você quase se formou em medicina, mas porque não concluiu esse objetivo? Teve alguma proposta que te fez seguir outro caminho?

Eu cursava medicina enquanto jogava e tive a possibilidade de jogar na Espanha, então deixei essa carreira e fui jogar futebol. Depois de passar 12 anos sem tocar em um livro de medicina, encerrei minha carreira e voltei a estudar medicina, me dedicando às matérias. Mas faltando um mês para terminar o período de prática de medicina, me surgiu a oportunidade de dirigir um time da primeira divisão e isso me fez deixar essa carreira de medicina para seguir a carreira de futebol. A minha paixão sempre foi o futebol. 

Você ainda pensa na medicina e continuar aquilo que ficou parado? 

Não. Eu tenho de ser sincero. Da parte da minha mãe veio o ramo da medicina e do pai veio o ramo do futebol. Mas essa segunda área sempre foi muito mais forte em mim e isso deve seguir para sempre. Posso ter leituras em medicina, mas não é a minha paixão. 

Que dificuldades você enfrentou para virar jogador e para iniciar a carreira de técnico?

Tive dificuldades como todos. Essa é uma profissão que requer paixão e responsabilidade, além de cuidado pessoal. E para ser treinador, são as mesmas coisas, só que potencializadas. Como jogador, as responsabilidades são pessoais, enquanto como treinador é preciso entender que você tem de levar um grupo adiante. E essas pessoas são muito mais do que jogadores, são seres-humanos com alegrias, problemas, mas que vivem o futebol. Às vezes, o torcedor enxerga o jogador como alguém que ganha muito dinheiro, que tem o que quer, mas não é tão assim. Existem uma pessoa por trás que tem alegrias e problemas. E, como treinador, você precisa estar presente nesses momentos. 

Esses atletas, muitas vezes, são muito jovens. Eles têm 20, 22 anos, e eu penso muito no que eu estava fazendo nessa idade, então eu preciso sempre entender o que eles estão passando. 

Você é argentino, mas existe uma relação da sua família com a Itália, correto? 

Eu nasci na argentina, assim como meus pais. Mas meus avós paternos nasceram na Croácia e minha avó materna veio da Itália, então eu sou uma mescla dessas histórias. 

Além do futebol, o que você trabalha com os jogadores? A gente vê você motivando muito os atletas, mas como é o trabalho fora das quatro linhas?

Eu acho que o principal do futebol são os jogadores. Futebol é um esporte muito apaixonante, mas aqueles que jogam e correm são os jogadores. Eu sei que os treinadores são importantes na parte de organização, e cada treinador tem uma visão para por as ideias em prática, mas eu busco sempre uma equipe que joga com a bola. Mas não critico quem joga diferente. Eu peço que os meus times fiquem com a bola no pé o máximo possível, mas, às vezes, temos de nos adaptar. A partir daí pensamos no trabalho tático e para isso precisamos de organização. Muitas vezes o futebol precisa de inspiração de jogadores de criatividade, mas precisamos de trabalho, inteligência e organização, e trabalhamos isso. 

O Maradona foi um dos maiores jogadores da história, mas você teve alguma relação direta com ele durante a sua carreira? 

Com Maradona eu só o tenho como ídolo. Eu assistia aos jogos do Maradona quando era criança e só joguei três vezes contra ele, mas nunca joguei com ele. Eu tive a honra de enfrentar Maradona na Bombonera, mas nossa relação se resume a isso. Maradona representa muito para o futebol argentino e mundial. Jogadores como ele, são genais, e são eles que criam lances espetaculares e forçam a defesa a jogar mais do que todos os outros. Mas essa qualidade é para poucos. 

Que nota você se daria como jogador de futebol? 

Eu me daria uma nota normal. Eu era um jogador aplicado, esforçado taticamente, mas tecnicamente normal. 

Sua cabeça está, hoje, no trabalho do Fortaleza, mas onde você imagina que pode chegar no futuro como treinador? 

Cada vez que estou em um trabalho, o mais importante é o dia a dia. Nesse momento, não há nada mais importante que o Fortaleza. No futuro, o próprio futebol nos coloca em um lugar ou outro. Mas não sonho para onde vou amanhã. Eu quero trabalhar o dia a dia com responsabilidade. 

O que você mais sente falta da Argentina? 

Eu sinto falta da minha família, minha mulher, meus filhos, minha irmã. Mas o mundo já está muito globalizado, então há a possibilidade de fazer chamadas de vídeo e isso ajuda muito. E eu prefiro estar trabalhando com algo que gosto do que estar necessariamente  no meu país sem fazer nada, e minha mulher sabe disso. Meus filhos que o pai é apaixonado por futebol e eu estou feliz com eles. Mas eu necessito do futebol para ficar feliz com a minha vida. Eles estão na Argentina hoje e devem vir aqui, mas minha cabeça está no Fortaleza e eu até prefiro assim para focar no trabalho. 

Você ainda está morando no centro de treinamentos do Fortaleza? 

Eu estou morando no Pici, e o Campeonato Brasileiro dificulta muito a busca por um outro lugar para morar porque temos um calendário apertado. Mas estou buscando, sim, um local novo para morar. 

A torcida do Fortaleza é conhecida por fazer belas festas com os mosaicos e você já os viu. Mas você deseja poder encontrar com esses torcedores no estádio e ver essas festas com as pessoas? 

Eu vi muitas imagens da torcida no Castelão lotado e quero viver isso o mais rápido possível para desfrutar dessa festa com a torcida. A pandemia não nos deixa fazer isso no momento, mas estou esperando que isso possa se resolver logo para estar em contato logo com a torcida. E eu espero que os resultados acompanhem esse momento, porque a gente sabe que o torcedor tem suas cobranças.