'Doutor Resolve': Saiba como atuava o articulador do esquema que beneficiou membros de facções

O auxiliar de advogado é tido o principal interlocutor do grupo de advogados presos na Operação Rábula. O esquema modificou a tramitação de processos e falsificou documentos para beneficiar criminosos

Escrito por Rômulo Costa , romulo.costa@verdesmares.com.br
Legenda: Membros do Ministério Público deram detalhes da denúncia na última sexta-feira (2)
Foto: FOTO: FABIANE DE PAULA

O nome de Cil Farney Soares do Santos se repete na denúncia apresentada pelo Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE) no âmbito da Operação Rábula, deflagrada na última sexta-feira (2). Sem formação em Direito, o auxiliar de advogado, autoproclamado como "Doutor Resolve", é acusado de ser o principal articulador do grupo criminoso que forjava documentos e conseguia testemunhas falsas em esquema que beneficiou membros de facções criminosas no Ceará.

Advogados, servidores efetivo e terceirizados do Tribunal de Justiça do Ceará e um soldado da Polícia Militar do Ceará também integravam o grupo criminoso.

Com base em interceptações telefônicas, os promotores do Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas (Gaeco) afirmam que Cil Farney assumia “ares de liderança” entre o grupo. Para eles, o acusado intermediava práticas criminosas entre clientes, advogados e agentes públicos corrompidos.

Cil Farley tinha como função cooptar clientes e definir qual advogado teria maior influência para atuar nos casos específicos. Ele também negociava o pagamento de propina com os presos e seus familiares e coordenava a interferência de servidores públicos e particulares em inquéritos policiais e processos judiciais.

Atividade

A denúncia apresentada pelo MPCE demonstra a capilaridade de Cil Farney no esquema, a partir das ligações telefônicas interceptadas. Conforme os procuradores, o acusado tinha estreita ligação com Luciano Firmino Bernardo Junior, outro auxiliar de advogado que atuava no esquema.

Em uma dos telefonemas, “Doutor Resolve” aparece orientando Luciano a receber antecipadamente R$ 1,5  mil de uma pessoa que aguardava facilitação em uma sentença judicial. O parceiro se incomodou com a cobrança e foi orientado a buscar um dos advogados, dizendo: “Dr, a mulher já deu o dinheiro e quer a sentença hoje”.

Cil Farley também atuava na obtenção de documentos forjados que seriam encaminhados para a Justiça, além de articular com pessoas ligadas ao Poder Judiciário para conseguir vantagens.

Documentos falsos

Também denunciada pelo MPCE, Juliane da Costa Negreiros é acusada de preparar cartas de emprego falsas para serem anexadas nos processos criminais visando a progressão de regime. Em abril de 2018, o "Doutor Resolve" pediu que Juliane preparasse, com prazo de apenas um dia, uma carta do tipo para um cliente. O documento falsificado custaria R$ 1 mil.

Cil Farley teria ainda articulação com pelo menos duas pessoas que circulavam pelo Poder Judiciário e poderiam obter vantagens aos clientes. Com Francisco Lindoval Diógenes de Lima, outro denunciado, ele facilitava a escolha do estabelecimento prisional ao qual os custodiados seriam encaminhados. Durval, como é conhecido, seria responsável por intermediar com um "canal" a transferência dos presos. Um esquema desse tipo rendeu R$ 1 mil ao "Doutor Resolve" em abril de 2018.

O trânsito entre Cil Farley e o núcleo de advogados que atuavam no esquema também é descrito na denúncia dos promotores. O grupo era responsável por formalizar os interesses do conjunto criminoso junto aos agentes públicos corrompidos e também incluindo nos processos os documentos falsos.

Em uma das ligações interceptadas, Cil Farley aparece em diálogo com o advogado Hélio Nogueira Bernardino descrevendo um delegado da seguinte maneira: “o homem aqui gosta de dinheiro”.

O caso

Oito advogados foram presos na última sexta-feira (2) durante a Operação Rábula, deflagrada pelo Minsitério Público do Ceará (MPCE) e pela Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS). O objetivo foi desarticular o esquema criminoso, que também incluía um servidor efetivo e dois funcionários terceirizados do Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE), além de um soldado da Polícia Militar do Ceará (PMCE).

A Vara de Delitos de Organizações Criminosas expediu 15 mandados de prisão (sendo oito preventivas e sete temporárias) e 25 mandados de busca e apreensão. Eles foram cumpridos em residências e escritórios de advocacia, em Fortaleza, Caucaia e Maracanaú. Os investigados são acusados de organização criminosa, corrupção ativa e passiva, concussão, tráfico de influência, exploração de prestígio e estelionato, conforme a participação individual.

Lista dos alvos da operação

Advogados com mandado de prisão preventiva
Hélio Nogueira Bernardino
Phablo Henrik Pinheiro do Carmo
Samya Brilhante Lima
Suellen Brilhante Lima.

Advogados com mandados de prisão temporária
Erlon Sílvio Moura de Oliveira
Fabíola Joca Nolêto
Ilonius Máximo Ferreira Saraiva
Maria do Socorro Maia Landim

Outros participantes com mandados de prisão temporária
Antônio Elton de Oliveira Lima
Francisco Santorélio da Costa Pontes
Luciano Firmino Bernardo Junior
  

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