Não houve tentativa de socorro às vítimas, diz testemunha de tragédia em Milagres

Após os disparos de fuzil que fizeram as vítimas tombarem, policiais não teriam buscado verificar sinais de vida. Estava clara a morte. Os adolescentes pernambucanos estão entre os primeiros reféns mortos na ação desastrosa.

Escrito por Melquíades Júnior , melquiades.junior@diariodonordeste.com.br
Legenda: Na estrada após chegarem a Juazeiro do Norte, Claudineide e o filho Gustavo fazem selfie com Vinícius, que foi buscá-los.

Ainda no mês de dezembro, a reportagem revelou que os corpos de cinco reféns foram empilhados na caçamba do veículo Amarok, de propriedade do vice-prefeito da cidade, Abraão Sampaio. Outros corpos, dos suspeitos dos ataques, foram levados em seguida em duas ambulâncias.

Testemunhas oculares observaram que, uma vez cessados os tiros, não houve verificação de sinais vitais em qualquer das vítimas fatais. Antes do vice-prefeito, chegou ao local o Tenente Georges, secretário municipal de Segurança de Milagres. Um dos policiais havia lhe pedido, minutos antes, que providenciasse veículos para "juntar os corpos". Eram Vinícius com o pai João Batista e Gustavo com os pais Claudineide e Cícero. Depois, os suspeitos.

Seria, agora em morte, a segunda viagem de carro que faria na mesma madrugada a família pernambucana após aterrissagem no Aeroporto de Juazeiro do Norte. Na primeira, quando entravam na Ranger de João Batista, Vinícius tirou uma selfie com seu celular e encaminhou para a mãe. Estava feliz de rever a tia e o primo quase de sua idade.

"Chegamos"

O mês de dezembro seria de muita celebração na família. Cleoneide segura o celular do sobrinho e faz a foto do "chegamos", enviada aos familiares pelo WhatsApp. Os dois pais, João Batista e Cícero Tenório, vão na frente conversando. Tem afinidades de assuntos, pois ambos trabalhavam com negócios de produtos eletrônicos - João Batista sempre fazendo as compras em São Paulo, onde já havia morado.

A viagem durou cerca de 50 minutos. Terminaria já passados cinco quilômetros depois da entrada à direita, que dá para Milagres. Até terem que voltar, por ordem de seus sequestradores.

Após o primeiro sorriso, só restou pânico. Chegando ao Centro de Milagres, desceu na Rua José Esmeraldo, próximo ao Bradesco, começando a ocupar uma área quase deserta. As câmeras mostraram sua aproximação.

Outros ângulos

Um padeiro também observa, sem saber que ali havia reféns, apenas percebendo duas picapes com faróis altos ofuscantes. Ainda viu quatro homens descendo "encapuzados", dois deles com armas na mão, espingardas calibre 12. Ouviu falas nervosas vindas da direção dos carros.

- Mão na cabeça, vagabundo!

Era um dos homens que haviam chegado e ele observava. Assustado, entra na padaria e baixa a porta. Passados dez minutos, ouve a sequência de tiros, que demoraria outros 25 minutos. Logo após, outras vozes: "Foram embora". "Um morreu". Percebendo calmaria, resolve sair para a rua. Era o momento em que policiais colocavam os corpos da família na caçamba da Amarok do vice-prefeito de Milagres.