Ceará tem mais de 2,7 mil mortes por doenças respiratórias em 2019

Maior número de casos ocorre, historicamente, de janeiro a maio; período concentrou quase metade dos óbitos em dez anos, apontam números do Ministério da Saúde levantados pelo Núcleo de Dados do Sistema Verdes Mares

Escrito por Theyse Viana e Felipe Mesquita , metro@verdesmares.com.br
Legenda: Fumaça de cigarros e de veículos, além de poeira e restos de construção, contribuem para as doenças respiratórias
Foto: Foto: Camila Lima

Um dos transtornos silenciosos, mas comuns, do período chuvoso no Ceará tem causado mais mortes ano a ano: de 2009 a 2018, foram registrados 56.623 óbitos por doenças respiratórias em todo o Estado. Já neste ano, somente de janeiro a maio, 2.758 pessoas morreram em consequência de influenza, pneumonia, asma, bronquiolite, doenças crônicas e outras infecções agudas das vias aéreas inferiores. Os números são do Ministério da Saúde e da Secretaria Estadual da Saúde (Sesa), levantados pelo Núcleo de Dados do Sistema Verdes Mares.

Entre 2009 e 2017, a quantidade de mortes causadas por doenças no aparelho respiratório aumentou mais de 74% nos municípios cearenses, saindo de 4.426 para 7.725 casos. Já em 2018, a quantidade de óbitos no Estado por essas causas diminuiu em relação a 2017, sendo contabilizadas 7.041 ocorrências.

Há uma predominância clara de qual período do ano concentra as mortes: os meses de janeiro a maio, que incluem toda a quadra chuvosa no Ceará. De acordo com os dados, mais de 28,7 mil óbitos foram registrados exatamente nesse intervalo, de 2009 até este ano. A soma das mortes contabilizadas entre janeiro e maio de 2009 a 2018, aliás, corresponde a cerca de 46% de todas as mortes por doenças respiratórias no Estado nesses dez anos. Para fins de comparação fiel com os totais anuais, não incluímos casos de 2019.

Causas

Em 11 anos, o mês de maio foi o que mais registrou mortes em cinco ocasiões (2010, 2012, 2013, 2014 e 2016), seguido por abril, que liderou quatro vezes (2009, 2015, 2018 e 2019). Fevereiro e março foram os meses com mais ocorrências graves que levaram à morte em 2011 e 2017, respectivamente. Este último ano, aliás, se destaca em toda a série histórica: foi em 2017 que houve o maior número de óbitos causados por doenças no aparelho respiratório de janeiro a maio, com 4.035 vítimas.

Exatamente nesse intervalo, as ocorrências por doenças respiratórias demandam maior atenção, sobretudo pela condição do clima, que potencializa novos diagnósticos de doenças virais, como frisa o presidente da Sociedade Cearense de Pneumologia e Tisiologia (SCPT), Ricardo Coelho Reis. Contudo, para além do período invernoso, o médico cita outros fatores que causam o agravamento da condição clínica do paciente.

"É importante que a população fique atenta à poluição ambiental, poeira fragmentada, essa partícula pequena que está no ar, às vezes invisível, normalmente formada por micro-organismos, restos de construção civil, fumaça dos automóveis e de cigarros, poeira de fezes de pássaros. As pessoas ainda têm o hábito ruim de dar comida para pombo".

Preocupação

A combinação de período chuvoso e início da vida escolar foi determinante para quebrar a imunidade do pequeno Matheus, 2, vítima de duas doenças respiratórias somente neste ano. Segundo a mãe dele, a personal trainer Fabiana Ribas, 38, resfriados aparentemente comuns evoluíram para pneumonia e bronquite. "Em fevereiro, ele apresentou sintomas de resfriado, e piorou. A febre era alta, baixava com a medicação, mas não cessava. Fizemos exames do pulmão e foi diagnosticada a pneumonia", relembra.

Fabiana relata que foi necessária uma semana para a criança "melhorar, voltar a dormir e se alimentar bem" - mas o retorno à escola enfraqueceu novamente a saúde de Matheus, que, após duas gripes, foi diagnosticado com bronquite.

"O tratamento, dessa vez, foi iniciado mais rapidamente. Ele passou menos tempo para ficar bom e a doença não foi tão agressiva. O diagnóstico já no início foi importante, porque se demorasse mais, poderia ter se tornado uma segunda pneumonia", analisa.

De fato, a gripe pode evoluir para doenças respiratórias mais graves. O pneumologista Ricardo Coelho Reis explica que, enquanto o resfriado acomete apenas nariz e garganta, a gripe tem um curso mais ofensivo. "Ela pode acometer o pulmão e causar pneumonia ou ainda deixar o organismo debilitado e causar uma pneumonia bacteriana", pondera.

Fortaleza lidera isoladamente a quantidade de mortes por doenças respiratórias em todos os anos entre 2009 e 2019: no total, em 11 anos, foram 17.335 registros de óbitos por complicações nas vias aéreas. Em seguida, os dados apontam Caucaia, na Região Metropolitana, com 1.928 mortes; Juazeiro do Norte, com 1.893; Sobral, com 1.456; e Maracanaú, também na RMF, com 1.081 óbitos no período.

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