80% da drenagem do Riacho Pajeú está obstruída por lixo

Município irá realizar saneamento básico do córrego. Lixo, entulho e ligações de esgoto clandestinas bloqueiam água de chuvas que ocasionam pontos históricos de alagamento . Obra deve ser iniciada no início de 2020

Escrito por Redação ,
Legenda: Riacho Pajeú, que será drenado, passa por vários pontos de Fortaleza
Foto: Foto: Helene Santos

A capital cearense foi construída no entorno do Riacho Pajeú pela facilidade do consumo de água, segundo conta os historiadores. Hoje, o córrego sofre com a poluição que causa diversos pontos de alagamentos na cidade. Conforme Manuela Nogueira, titular da Secretaria Municipal de Infraestrutura (Seinf), 80% da drenagem do Riacho Pajeú, que percorre boa parte do Centro da capital, está obstruído por lixo, esgotos clandestinos e outros resíduos sólidos de obras. Desde 2013, a Pasta já realizou cerca de 10 intervenções paliativas na região para amenizar os problemas.

Com o objetivo de resolver os problemas causados por precipitações, o Município criará um novo sistema de drenagem saneado do Riacho Pajeú. A Prefeitura de Fortaleza abriu licitação, por meio da Seinf, no valor de R$ 41,7 milhões com o intuito de resolver os problemas de obstrução da rede por detritos, lixo, sedimentos, assoreamento e interferências na drenagem com os sistemas de rede de água e esgoto. O projeto deve ser iniciado nos primeiros meses de 2020.

"O leito do Riacho Pajeú há anos não é o leito que a gente vê hoje. A própria Avenida Heráclito Graça, por cerca de 1920, tinha trechos do Riacho Pajeú. Os locais de alagamento são justamente onde o córrego, antigamente, era a céu aberto e com o tempo foi drenado e canalizado. O real problema é que um sistema muito antigo que está, praticamente, com 80% do percurso obstruído. Não tem mais o funcionamento da forma como foi projetado inicialmente", explicou Manoela Nogueira.

De acordo com a titular da Pasta de Infraestrutura, a prefeitura vai fazer um novo sistema de drenagem. "Não é uma correção. Será construído uma drenagem paralela. Com isso será evitado 20 pontos alagamentos e eliminaremos as ligações clandestinas. A drenagem antiga será isolada e interditada", revelou a gestora.

Obra

De acordo com o Plano Municipal de Drenagem, incluido no projeto de saneamento do Riacho Pajeú, apesar da grande extensão, o sistema urbano deficiente causa severos transtornos no cotidiano dos habitantes de Fortaleza, principalmente nos períodos de grandes intensidades de chuvas, como por exemplo, inundações, engarrafamentos e a perda de bens materiais por parte das pessoas que habitam em áreas alagáveis.

"Além disso, pessoas que habitam nas margens dos rios e lagoas ficam expostas aos resíduos sólidos e esgotos trazidos pelo escoamento pluvial. Outro grande problema causador de alagamentos e deficiência na drenagem de Fortaleza, assim como em outras cidades, é a impermeabilização de áreas por parte da população, quando não respeita o índice de permeabilidade obrigatório em seus imóveis, e por parte da Prefeitura, quando do asfaltamento das ruas sem o devido estudo de implantação das galerias de águas pluviais", diz o Município no item de justificativa da obra.

Conforme documento de licitação do projeto da obra, disponibilizado no Portal de Compras do Município, para medidas estruturais foram diagnosticadas áreas críticas quanto ao risco de inundação, as mais vulneráveis e os principais aspectos para condições atuais e futuras para os diferentes riscos hidrológicos que a cidade venha passar.

No projeto são destacados 20 pontos mais propícios a alagamentos de Fortaleza que sofrem com o acumulo de precipitação. No Centro, por conta de obstruções da drenagem do Riacho Pajeú, são pontuados os cruzamentos da Avenida Heráclito Graça com Rua Solon Pinheiro e Avenida Heráclito Graça com Barão de Aracati. O mapa da licitação destaca ainda problemas históricos em cruzamentos nos bairros Aerolândia, Castelão, Dias Macêdo, Messejana, Itaperi, José Bonifácio, Pirambu e Padre Andrade.

No memorial descritivo da obra é pontuado que será construido uma galeria retangular em concreto armado, fazendo uma transposição de bacia hidrográfica do Riacho Pajeú, que corresponde à Sub Bacia de Vertente Marítima A3, para Sub Bacia de Vertente Marítima A4, que corresponde a drenagem do Poço da Draga. "Vale salientar, que no local já existente um sistema de drenagem, que será utilizado, como galeria auxiliar ao sistema projetado, que corresponde a segunda etapa do projeto", destaca a Seinf.

Custos

O professor do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Ceará (UFC), Jeovah Meireles, avalia a interdição do antigo sistema de drenagem do Riacho Pajeú como um problema. "Você fechar uma bacia e construir outra drenagem é complicado. Ou você constrói uma drenagem dentro de uma outra bacia ou de fato você extingue o riacho. Você poderia fazer de fato uma drenagem usando a engenharia para desviar as águas",ressaltou o professor.

Meireles ainda destaca que a construção de uma nova drenagem pode acarretar novos problemas, além de aumentar riscos de contaminação da água. "O que se necessita de fato é revitalizar as drenagem existentes. Esse novo sistema pode ser contaminante", destaca o professor.

Ainda segundo o professor, soluções mais baratas e, que pensem em reflorestamento, poderiam ser articuladas pela Prefeitura de Fortaleza. "Deveriam retirar essas interrupções do sistema de drenagem, pensar na qualidade da água, construir passeios, pensar em uma cidade para o futuro. Essa nova construção é um precedente que tem tudo haver com quem pensa a cidade para quem vive da especulação imobilizaria. Soluções com arborização, por exemplo, causariam a criação de áreas de climas mais agradáveis e absorção da água das chuvas".

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