Pecém receberá megacargueiros com expansão do Canal do Panamá

Com a entrega da obra neste domingo (26), o Porto do Pecém entrará na rota dos maiores navios cargueiros do mundo, os chamados Pós-Panamax. A expectativa é que o novo fluxo favoreça a criação de centros de distribuição de cargas e abra oportunidades em diversos setores da economia do Estado

Escrito por Bruno Cabral - Repórter ,

Marcada para este domingo (26), a entrega da expansão do Canal do Panamá abrirá oportunidades para diversas regiões portuárias, como a do Pecém, que ficarão na rota dos maiores navios cargueiros do mundo, chamados de Pós-Panamax. A expectativa é de que o novo fluxo favoreça, por exemplo, a criação de centros de distribuição de cargas, com impactos indiretos em vários setores da economia.

>Investimento em infraestrutura é gargalo para o CE

>Capacidade ampliada habilita a ser hub port

Dentre as oportunidades geradas para o Ceará, a possibilidade de fazer do Pecém um porto concentrador de cargas, chamado de "hub port", é a que mais anima o governo e empresários. "Pela nossa localização, nós somos um dos primeiros portos com profundidade e estrutura para receber esses navios maiores", diz Danilo Serpa, diretor-presidente da Cearáportos, administradora do Porto do Pecém.

O hub port funciona como ponto de carga e descarga de grandes embarcações, de modo que os produtos ali desembarcados sejam distribuídos para outras regiões por meio da cabotagem - navegação entre portos do mesmo país.

Além da posição geográfica favorável do Porto do Pecém, um dos terminais brasileiros mais próximos do Canal do Panamá, a infraestrutura existente já permite a atracação dos Pós-Panamax, sobretudo pelo calado de cerca de 15 metros de profundidade. Segundo Serpa, o terminal do Pecém já recebeu alguns Pós-Panamax de contêineres.

Expectativa

A abertura da terceira via de eclusas do Canal do Panamá mais do que dobra sua capacidade de carga, permitindo o tráfego de embarcações grande o bastante para carregar cerca de 14 mil contêineres. Até então, os cargueiros Panamax podiam cruzar o canal, pelas duas vias existentes, com, no máximo, 5 mil contêineres

Com até 365 metros de comprimento e 49 de largura, estes navios tinham de contornar a América do Sul para passar do Atlântico para o Pacífico, ou utilizar o Canal de Suez, no oriente médio, a depender do porto de origem. Mas a rota pelo Panamá é considerada pelos operadores a mais interessante para cargas enviadas ou recebidas da China, principal parceiro comercial do Ceará e do Brasil.

Volume

Das 340 milhões de toneladas em produtos que passaram pelo Canal do Panamá em 2015, 35 milhões tinham na costa leste da América do Sul, onde estão os portos brasileiros, o seu ponto de origem ou destino, segundo dados da Autoridade do Canal do Panamá (ACP). Ao todo, passam pelo canal, 6% do comércio mundial (em volume). E estima-se que 35% de todo o comércio entre a Ásia e as Américas passem pelo empreendimento, percentual que deve crescer fortemente nos próximos anos.

Impacto na região

A consolidação do Porto do Pecém como um hub port no Nordeste, por si só, alavancaria também o número de linhas de navios convencionais que passariam a operar no Ceará. Para que isso ocorra, o porto está investindo na aquisição de equipamentos e na ampliação do terminal de múltiplo uso (Tmut). "A junção desses fatores coloca o Porto do Pecém numa posição privilegiada para ser o portão de entrada para o Nordeste", diz Serpa.

As perspectivas geradas pelo desenvolvimento do Porto do Pecém nas próximas décadas devem favorecer desde o setor da indústria até o imobiliário. Apostando no crescimento populacional da região, o empresário Luciano Cavalcante decidiu desenvolver o projeto de uma cidade planejada para atender à demanda por imóveis para diversos perfis. A chamada Cidade Cauype conta com um investimento de R$ 120 milhões apenas na primeira fase. A expectativa é que o empreendimento abrigue aproximadamente 32 mil pessoas.

"Eu estou otimista. Eu estou fazendo uma cidade, não um loteamento. Estou pensando 50 anos para a frente", diz Cavalcante. "A consolidação do novo Canal do Panamá e as oportunidades que isso trará para o Porto do Pecém só mostram que temos o produto ideal para garantir à região um crescimento sustentável e planejado", completa.

A expectativa é que setores como o de frutas, calçados e de granito sejam beneficiados pela expansão do canal, além das empresas que se instalarem na Zona de Processamento de Exportação do Ceará (ZPE Ceará).

A construção da terceira via de eclusas do Canal do Panamá, com oito quilômetros de extensão, teve um orçamento inicial de US$ 5,25 bilhões, segundo a ACP. As obras tiveram início em setembro de 2007 e deveriam ter sido entregues no final de 2014, mas sofreram sucessivos atrasos por questões trabalhistas e também por problemas com o consórcio construtor. Desde o ano de 1914, quando o Canal do Panamá foi aberto, mais de 1 milhão de embarcações já passaram pelo local.

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