Servidores do IBGE pressionam órgão para adiamento do Censo Demográfico por causa da Covid-19

Trabalhadores da instituição defendem que o levantamento seja transferido para 2022 em razão da pandemia

Escrito por Estadão Conteúdo ,
Trabalhador do IBGE com aparelho
Legenda: Recenseador registrará as informações coletadas no Censo 2021 em Dispositivo Móvel de Coleta (DMC).
Foto: Simone Mello/Agência IBGE Notícias

As chefias estaduais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), além da direção do órgão, estão sendo pressionadas por servidores para que o Censo Demográfico seja adiado. O apelo ocorre frente ao agravamento da pandemia do novo coronavírus no País.

A pesquisa está prevista para ir a campo a partir de agosto de 2021, mas os trabalhadores da instituição defendem que o levantamento seja transferido para 2022. O órgão, inclusive, chegou a abrir processos seletivos para a realização do censo.

Como o movimento começou

O movimento começou no Rio Grande do Sul em fevereiro, quando coordenadores de área do estado ameaçaram, por meio de reuniões por videoconferência e em cartas à direção, entregar cargos coletivamente caso a presidência do IBGE mantivesse o cronograma atual.

Após isso, servidores nos estados da Bahia, Goiás, Maranhão, Paraíba, Paraná, Roraima e São Paulo também encaminhar pedidos pelo adiamento do censo  às chefias estaduais e à direção do IBGE. A informação é do sindicato nacional de funcionários do instituto, o Assibge.

No último fim de semana de fevereiro, os servidores votaram por aderir ao pleito de adiamento do Censo Demográfico para o ano que vem em plenária nacional realizada remotamente pelo sindicato.

"No país, vive-se a pior situação enfrentada desde o início desta emergência sanitária. Hoje, enfrentamos um colapso no sistema de saúde em praticamente todo o território nacional, com leitos hospitalares lotados - além de uma fila de espera enorme para atendimento — e com déficit de profissionais e de recursos para atender às demandas dos enfermos. Como se não bastasse, estão sendo descobertas novas variantes do vírus, mais transmissíveis, aumentando exponencialmente o perigo de infecção da população. Segundo especialistas, o ritmo da vacinação e a disponibilidade insuficiente das doses nos próximos meses também não contribuem para um cenário otimista para este ano, nem mesmo no seu 2º semestre. É cada vez mais evidente que encaramos circunstâncias muito mais difíceis neste ano do que no anterior (2020)", diz a carta enviada pelos servidores à chefia estadual do IBGE em Goiás.

Equipamentos inadequados

Servidores do órgão, de acordo com o sindicato, receberam apenas máscaras de tecido como equipamento de proteção individual contra a Covid-19, as quais foram consideradas inadequadas para o trabalho de campo pelos trabalhadores.

Conforme a executiva nacional do Assibge, 82% dos coordenadores rechaçam a realização do Censo Demográfico durante a pandemia de Covid-19. A pesquisa foi respondida por 246 coordenadores em 25 estados.

"O Censo Demográfico precisa e deve ser realizado, mas não agora não em meio à pandemia que marcará esta geração pelos milhares de mortes que já ocorreram e que, infelizmente, ainda vão ocorrer. O IBGE não pode se colocar na posição de potencializador de tal catástrofe", acrescenta a carta de Goiás, com conteúdo semelhante ao das cartas escritas pelos servidores das demais unidades estaduais.

Suspensão de teste

O IBGE teve, no início de março, de suspender a realização de um teste de coleta em campo do Censo Demográfico que faria no município Engenheiro Paulo de Frontin (RJ).  A prefeitura local comunicou ao órgão que teria de impor medidas restritivas para combater a disseminação do novo coronavírus na cidade.

Na semana passada, o IBGE encerrou as inscrições de um processo seletivo para preencher 204.307 vagas temporárias de recenseadores e agentes censitários para trabalhar na organização e na coleta do Censo Demográfico 2021. O levantamento, que já passou por cortes orçamentários, deveria ter ocorrido no ano passado, mas foi adiado em função da pandemia. O concurso aberto em 2020 foi cancelado, e o dinheiro das inscrições, devolvido.

Como será o Censo Demográfico

Os candidatos contratados no novo processo seletivo deverão visitar todos os cerca de 71 milhões de lares brasileiros, nos 5.570 municípios do Brasil, entre agosto e outubro deste ano. O IBGE espera que mais de 2 milhões de pessoas se inscrevam no processo seletivo, cujas provas objetivas serão aplicadas presencialmente no dia 18 de abril para as vagas de agentes censitários, e no dia 25 de abril para os recenseadores.

Enquanto era preparado, o Censo Demográfico foi orçado pela equipe técnica do IBGE em mais de R$ 3 bilhões, mas a presidente do órgão, Susana Cordeiro Guerra, anunciou em 2019 que faria o levantamento com R$ 2,3 bilhões. Em meio às restrições orçamentárias, o órgão decidiu que o questionário básico do Censo seria reduzido de 37 perguntas previstas na versão piloto para 26. Já o questionário mais completo, que é aplicado numa amostra que equivale a 10% dos domicílios, encolheu de 112 para 77 perguntas.

Com o adiamento em 2020, o governo federal enxugou para R$ 2 bilhões o valor destinado ao censo no orçamento deste ano enviado ao congresso.

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