Irmãos cavam terra em busca do pai em Petrópolis; tragédia é a maior da história na região

Atualmente, segundo informações da Defesa Civil, 154 pessoas seguem desaparecidas

Escrito por Estadão Conteúdo/Diário do Nordeste ,
Legenda: Até então, o número de mortos na tragédia segue em 152, enquanto 154 pessoas estão desaparecidas
Foto: divulgação/Governo do Rio de Janeiro

Desde quarta-feira passada, um dia após fortes chuvas atingirem o município de Petropólis, no Rio de Janeiro, os irmãos Priscila, Saimon e Danter passam o dia cavando a terra na Servidão de Frei Leão, na região do Morro da Oficina. Eles buscam pelo pai, Ely José Soares de Menezes, de 62 anos. A única pausa no trabalho duro e sofrido aconteceu sábado (19) quando foram enterrar a mãe, Solange. O casal estava em casa quando foi soterrado pelo deslizamento no local.

A alguns quilômetros dali, cerca de 40 voluntários e parentes de Gabriel Vilareal da Rocha se dividem para explorar dezenas de quilômetros do Rio Piabanha em busca do jovem de 17 anos, que estava num dos ônibus arrastado pela enxurrada. Ao todo, de acordo com os números recentes, 152 pessoas morreram na tragédia.

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A procura por familiares sumidos é um drama que acompanha muita gente em Petrópolis. Alguns, como Priscila e os irmãos, não têm mais esperança de encontrá-los com vida. Outros, como Alex de Melo Rocha, tio de Gabriel, mantêm a crença de que ao final terão boas notícias.

No caso de Priscila Neves Ouriques, a busca cansativa dela e dos irmãos é para colocar um ponto final na tragédia que se abateu sobre a família. "A gente está nessa busca incansável. Quando achamos minha mãe já foi um alívio. A gente tem que achar meu pai também, não queremos deixar ele aí jogado", disse ela, no fim da manhã deste domingo. "A gente não quer ter essa sensação de que não lutamos até o final."

Alex, por sua vez, conseguiu mobilizar voluntários para ajudar nas buscas pelo sobrinho. O pai de Gabriel, Leandro da Rocha, já estava desde quarta-feira percorrendo a margem do Piabanha em busca do filho. Desde sábado, ele ganhou o auxílio de amigos e voluntários.

"O Corpo de Bombeiros tem pouca gente, e a gente entende que eles estejam focando onde há pessoas soterradas. Nós resolvemos montar esse grupo para buscarmos por conta e descer o rio", declarou Alex. "Antes estávamos procurando no IML, nos hospitais, e depois formamos esse grupo."

Voluntários na busca

Somente no sábado os cerca de 40 voluntários percorreram 14 quilômetros do rio, que tem 80 de extensão. "Hoje nós dividimos o grupo. Um começou em Corrêas, e outro em Nogueira. Estamos expandindo o máximo possível", contou.

Segundo Alex, a família tem esperanças de encontrar Gabriel com vida. "Enquanto não encontrarem o corpo, teremos sempre esperança", disse. "A gente não pode se conformar com isso, achar que morreu, que está perdido. Vamos procurar até achar."

O Corpo de Bombeiros informou que todos os pontos onde há relatos de possíveis vítimas estão cobertos pelos militares.

E, em nota, fez um apelo: "O Corpo de Bombeiros entende a dor dos familiares, mas orienta a população, inclusive, a não ficar próxima das áreas de busca. O solo está instável e põe em risco a vida destas pessoas."

Grande tragédia

Segundo os números oficiais, o temporal em Petrópolis atingiu a marca de ao menos 152 mortos neste sábado (19), superando os desastres registrados em 1988 e 2011 no mesmo município.

O monitoramento de chuvas e tragédias desse tipo na região fica a cargo da Defesa Civil Municipal desde 1932.

Até então,154 pessoas seguem desaparecidas após o temporal que arrasou a cidade fluminense há seis dias. Além disso, conforme informações da prefeitura local, 812 pessoas estão desabrigadas, ocupando 21 unidades escolares.

 

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