África do Sul vive onda de violência e mortes após prisão de ex-presidente Jacob Zuma

Aumento de roubos, saques e assassinatos são registrados no país há seis dias consecutivos

Escrito por AFP ,
Saques na África do Sul
Legenda: Uma possível escassez de combustível e de alimentos contribui negativamente para a crise de segurança
Foto: AFP

Desde a prisão do ex-presidente Jacob Zuma, há seis dias, a África do Sul vive uma onda de roubos e de violência que já causou 72 mortes. Na terça-feira (13), diversos soldados foram enviados às províncias afetadas.   

A crise de segurança pública agrava a situação precária do país, que registra altos índices de desemprego e novas restrições anticovid-19. Nesta quarta-feira (14), uma possível escassez de combustível e de alimentos contribui negativamente para o cenário.   

Um homem carregando uma arma de mão afasta uma multidão de supostos saqueadores do lado de fora do shopping Chris Hanni em Vosloorus, em 14 de julho de 2021
Legenda: Em alguns bairros, os moradores se organizaram para garantir a segurança de suas lojas
Foto: AFP

Os primeiros incidentes, com estradas bloqueadas e caminhões em chamas, ocorreram na última sexta-feira (9), um dia após a prisão de Zuma, condenado à prisão por desacato à Justiça. Os atos de violência se espalharam no fim de semana na aglomeração de Joanesburgo, capital econômica do país.   

Os ataques continuaram nesta terça-feira, observaram vários jornalistas da AFP, especialmente em Soweto, um enorme município (áreas carentes reservadas para pessoas "não brancas") a oeste de Joanesburgo.    

Mortes crescentes  

Um primeiro-ministro provincial anunciou na terça-feira que dez pessoas foram perseguidas durante roubos em um shopping center em Soweto, a sudoeste de Joanesburgo.   

"A polícia descobriu dez corpos na noite de segunda-feira [12]. Essas pessoas morreram em uma debandada", informou o primeiro-ministro David Makhura a repórteres, especificando que o número total de mortos na província de Gauteng, onde fica Joanesburgo, capital econômica da África do Sul, subiu para 19 pessoas. 

Tropas na áfrica do Sul
Legenda: Tropas foram enviadas às províncias para ajudar a polícia no combate aos distúrbios
Foto: AFP
  

No início desta terça-feira, Sihle Zikalala, primeiro-ministro da província de Kwazulu-Natal (leste), o epicentro da violência e da região de origem de Jacob Zuma, informou que 26 pessoas morreram nessa localidade.   

Zikalala indicou que várias das mortes ocorreram em "uma debandada neste contexto de agitação", sem especificar um local.   

O presidente Cyril Ramaphosa anunciou na segunda-feira o envio de tropas para ajudar a polícia que enfrenta os distúrbios, com intuito de "restaurar a ordem".  

Mais de mil presos

Até terça-feira, pelo menos 1.200 pessoas já foram detidas, informou a Polícia. No mesmo dia, dezenas de mulheres, homens e crianças invadiram as câmaras frigoríficas do açougue Roots, na praça Diepkloof, em Soweto. De lá, saíam com pesadas caixas de carne congelada nos ombros, ou sobre a cabeça.  

Um único segurança particular permaneceu no local, enquanto tentava se comunicar por telefone, supostamente para pedir reforços. A Polícia chegou quase três horas depois e disparou balas de borracha. 

Loja saqueada na áfrica do sul
Legenda: Supermercado saqueado em um shopping em Vosloorus
Foto: AFP
 

Ao anunciar o envio de militares, o presidente Ramaphosa disse ser de "vital importância que restauremos a calma e a estabilidade, sem demora, em todas as partes do país".  

"O caminho da violência, os saques e a anarquia levam apenas a mais violência e devastação", advertiu.  

"Não há agravante, nem qualquer razão política, que possam justificar a violência e a destruição"
Cyril Ramaphosa
presidente da África do Sul
 

Prisão de Jacob Zuma 

Zuma, de 79 anos, presidente da África do Sul de 2009 a 2018, foi condenado pelo Tribunal Constitucional, por desacato à Justiça, no final de junho.   

Na segunda-feira (12), este mesmo tribunal fez uma audiência de 10 horas. Nela, os advogados de Zuma pediram que a sentença fosse revista. A corte reservou sua resposta para uma data posterior não especificada.   

Ele é acusado de ter roubado dinheiro durante os nove anos em que esteve no poder. Alvo de inúmeros escândalos, ele se viu obrigado a renunciar.  

Desde a criação em 2018 de uma comissão de investigação de corrupção de Estado, o ex-presidente  —  que já havia sido acusado por quarenta testemunhas  —  fez de tudo para evitar dar explicações. Sua condenação gerou protestos nas redes sociais e alguns seguidores do carismático ex-líder do Congresso Nacional Africano (ANC) foram até sua casa para manifestarem seu apoio. 

Veja a prisão do político

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