Como escolher o primeiro telescópio? Veja tudo que você precisa saber para comprar

Confira tipos, preços, montagens e dicas de especialista para iniciantes.

Escrito por
Carol Melo carolina.melo@svm.com.br
Legenda: Telescópios domésticos ajudam iniciantes a aprender conceitos básicos de Astronomia.
Foto: AstroStar/Shutterstock.

Observar a Lua, os planetas e as estrelas de casa é o desejo de muitos fãs de Astronomia. Porém, com tantas opções disponíveis no mercado, como escolher o primeiro telescópio ideal? A decisão depende de fatores como objetivo de uso, tipo de montagem, abertura e distância focal.

Neste guia completo, com explicações do especialista Yarlei dos Santos Azevedo, membro do Laboratório de Ensino e Pesquisa em Astronomia (LEPA), do Observatório Astronômico Otto de Alencar, ligado à Universidade Estadual do Ceará (Uece), você vai entender quais são os melhores modelos e marcas e conferir os preços para começar a explorar o Universo.

Quem inventou o primeiro telescópio do mundo? 

O nome do inventor do instrumento é incerto, mas o fato é que ele surgiu por volta do século XVII. 

Segundo o portal StarChild, da Nasa, o registro mais antigo de um telescópio é um pedido de registro de patente feito pelo fabricante de óculos Hans Lippershay (também encontrado como Lipperhey), na Holanda, em 2 de outubro de 1608.

Ele solicitou direitos exclusivos para fabricar e distribuir um instrumento que permitiria observar objetos distantes como se estivessem próximos. O equipamento era constituído por uma lente positiva na extremidade de um tubo estreito e uma lente negativa na outra.

Na época, a reivindicação de Lippershay foi logo contestada por algumas pessoas. Então, as autoridades holandesas acabaram decidindo que a situação era confusa e se recusaram a conceder a patente a qualquer indivíduo.

No entanto, independentemente de quem o inventou, o telescópio continuou a ser um dos dispositivos científicos mais importantes do século XVII, permitindo marcos como:

  • Observações de fenômenos no universo que, eventualmente, comprovaram que o Sol está no centro do Sistema Solar; 
  • O cientista Galileu Galilei foi o primeiro a usar o equipamento para a Astronomia e fez descobertas relacionadas a objetos como a Lua da Terra e as luas de Júpiter.

Vale a pena comprar um telescópio doméstico? 

Sim, se você gosta de Astronomia e tem o desejo de observar, em detalhes, os corpos celestes, como a Lua, os planetas e até mesmo algumas estrelas ou nebulosas. 

Yarlei dos Santos explica que um telescópio doméstico permite que o usuário aprenda como funciona a observação astronômica e desenvolva noções de óptica, de coordenadas celestes e identificação do céu noturno. 

"É importante salientar que se deve evitar modelos muito baratos, de baixa qualidade, pois eles frustram o iniciante por terem lentes ruins e montagens instáveis. Por isso, muito cuidado e calma quando for adquirir um telescópio."
Yarlei dos Santos Azevedo
Membro do Lepa

O que você precisa definir antes de comprar o seu 

Antes de sair comprando o primeiro telescópio que encontrar, é importante se atentar a alguns fatores básicos, como o local onde será instalado o equipamento, valor disponível e objetivo. 

A seguir, o especialista lista algumas perguntas que você deve se fazer para definir qual equipamento comprar:

  • Qual é o objetivo principal? — observação da Lua e planetas, ou céu profundo (nebulosas, galáxias), ou uso em aula, ou somente lazer. 
  • Como é o local de observação? — capitais e metrópoles têm mais poluição e interferência luminosa, já cidades no interior ou menores possuem o céu mais limpo e escuro.
  • Qual é o orçamento disponível? 
  • Quais são o espaço e a forma de transporte disponíveis? — alguns telescópios são grandes e pesados, o que pode dificultar o uso em alguns locais. 
  • Qual é o seu nível de interesse? — se for somente uma curiosidade inicial, vale a pena apostar em um modelo mais simples. Já se for algo mais duradouro, é indicado investir em um dispositivo mais sofisticado.

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Escolha o tipo de telescópio  

Existem diversos tipos de telescópio no mercado. Mas, para os iniciantes, os mais indicados são o refrator e/ou o refletor. 

Para saber qual deles é o melhor, é preciso analisar o que você deseja observar:

  • telescópio refrator fácil de usar, exige pouca manutenção e é ideal para observar a Lua e os planetas;
  • telescópio refletor, tipo Dobsoniano — com uma abertura mais ampla e um preço baixo, é ideal para explorar o céu profundo, focando em nebulosas e aglomerados de estrelas.

"Para uso doméstico, recomenda-se começar com um refrator de 70 mm a 102 mm ou um refletor de 130 mm."
Yarlei dos Santos Azevedo
Membro do Lepa

Avalie a abertura e a distância focal 

Imagem mostra homem de óculos e barba observando através de um telescópio.
Legenda: Abertura do telescópio determina a quantidade de luz captada e a nitidez da imagem.
Foto: True Touch Lifestyle/Shuttertsock.

A abertura é o "tamanho da boca" do telescópio, e é responsável por determinar o quanto de luz é captada pelo equipamento: quanto mais iluminação, mais detalhes são visíveis.

No modelo refrator, a abertura faz referência ao diâmetro da lente, enquanto no refletor é ao espelho.

Para iniciantes, existem algumas aberturas que são mais indicadas, dependendo do tipo de objeto que deseja observar: 

  • abertura de 50-70 mm — permitir ver a Lua e os planetas;
  • abertura de 100-130 mm — indicado para observar nebulosas e objetos mais distantes.

O especialista destaca que, no começo, é melhor priorizar a abertura e não a possibilidade de aumento. "Muitos anúncios enganam ao destacar ampliações de '300x', mas isso não garante qualidade de imagem e, muitas vezes, frustra os iniciantes."

a distância focal é o comprimento, em milímetros (mm), entre a lente/espelho e o ponto onde a imagem se forma. Ela influencia o campo de visão e o aumento máximo possível. 

  • Focal curta (300 mm–600 mm)  com campo de visão amplo, é ideal para ver objetos grandes, como a Lua inteira e aglomerados estelares.
  • Focal longa (900 mm–1300 mm) — de campo estreito, é indicado para observar planetas e detalhes.

Para iniciantes, o ideal é algo intermediário, entre 700 mm e 1000 mm, pois permite versatilidade entre objetos maiores ou mais próximos da Terra, como Lua, Sol, Júpiter etc."
Yarlei dos Santos Azevedo
Membro do Lepa

Escolha uma montagem adequada 

Tipos de montagem
Características principais Desvantagens
Altazimutal Permite mover o telescópio da esquerda para direita e de cima para baixo. Geralmente, não permite acoplar um motor para seguir objetos.
Equatorial Possui um dos eixos alinhado com o eixo polar da Terra. Requer conhecimento prévio sobre alinhamento polar (colimação). É menos intuitivo, tanto para montagem quanto para observação.
Dobsoniano Geralmente é um telescópio newtoniano com base no chão ou suporte robusto. Mais pesado e volumoso; base fixa não permite rastreamento automatizado.

Um telescópio refrator simples, 70 mm altazimutal, já é o suficiente para observar objetos conhecidos e de beleza inestimável. Além de mais acessíveis, tanto financeiramente quanto no quesito montagem x operação, proporcionam um primeiro contato mais satisfatório do que com um dobsoniano, por exemplo."
Yarlei dos Santos Azevedo
Membro do Lepa

Quais acessórios comprar  

A seguir, Yarlei dos Santos sugere uma lista de apetrechos para o iniciante investir:

  • oculares adicionais com diferentes distâncias focais (ex: 25 mm e 10 mm) — variam as possibilidades de aumento;
  • lente Barlow (2x ou 3x)  duplica ou triplica o aumento da ocular;
  • filtro lunar — por reduz o brilho da Lua, melhora o contraste.
  • filtro solar — apesar de ser mais caro, permite observar a superfície solar e, enxergar, por exemplo, as manchas solares.
  • buscador (finder) — ajuda a apontar o telescópio com precisão.
  • tripé firme — fundamental para a estabilidade;
  • adaptador para celular — auxilia na captura de fotos simples e registro de observações.

Três curiosidades sobre os telescópios  

1. Qual a diferença do telescópio terrestre para o telescópio espacial? 

Telescópio terrestre é o tipo de dispositivo instalado na superfície da Terra. Equipamentos dessa categoria observam o céu através da atmosfera, o que limita a nitidize devido à turbulência do ar e a poluição luminosa.

Formado por quatro telescópios com espelhos principais de 8,2 metros e instalado no Deserto do Atacama, no Chile, o Very Large Telescope (VLT), do Observatório Europeu do Sul (da sigla em inglês ESO), é atualmente o maior telescópio terrestre.

Em breve, ele será superado em tamanho pelo Extremely Large Telescope (ELT), do mesmo observatório. O equipamento está em construção na mesma região e terá um espelho primário de 39 metros. 

Imagem mostra o Very Large Telescope (VLT) do ESO no topo do Cerro Paranal, uma montanha de 2.600 metros de altura, localizada a cerca de 120 km ao sul de Antofagasta, no Deserto de Atacama, no Chile.
Legenda: Além dos quatro principais, o dispositivo conta ainda com quatro telescópios auxiliares móveis, com espelhos de 1,8 metros.
Foto: ESO/José Francisco Salgado.

Já um telescópio espacial é instalado fora da atmosfera da Terra. Por estar no espaço, o equipamento capta a luz sem distorções atmosféricas, além de conseguir observar objetos em várias faixas de espectro (infravermelho, ultravioleta, etc.).

Devido a esses fatores, o dispositivo obtém imagens mais nítidas e alcança regiões profundas do Universo, possibilitando a observação de corpos muito distantes e antigos no Cosmos.

Os telescópios Hubble e James Webb são exemplos de telescópio espaciais. Ambos da Nasa, eles já realizaram descobertas inéditas, como uma anã branca "engolindo" um corpo gelado semelhante a Plutão ou a galáxia mais distante do Universo

Imagem mostra modelo em tamanho real do Telescópio Espacial James Webb montado no gramado do Centro Espacial Goddard, nos Estados Unidos, ao lado de um grupo de pessoas.
Legenda: O Telescópio Espacial James Webb é o maior, mais poderoso e mais complexo telescópio já lançado ao espaço.
Foto: NASA.

2. Qual é a diferença entre luneta e telescópio? 

O especialista explica que a luneta é um refrator pequeno, que capta imagem direita (não invertida), e, geralmente, é utilizada em observações terrestres, como paisagens, navios, etc.

Já o telescópio é usado para observar astros e pode ser refrator, refletor ou catadióptrico, além de, normalmente, gerar imagem invertida. 

Enquanto a luneta se limita à observação para objetos próximos, o telescópio observa objetos mais distantes."
Yarlei dos Santos Azevedo
Membro do Lepa

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3. Qual o telescópio ideal para ver planetas? 

Para iniciantes observarem planetas, o profissional explica que o telescópio ideal deve ter as seguintes características:

  • abertura média (90-150 mm);
  • distância focal longa (igual ou maior que 900 mm);
  • montagem estável [Alta Azimutal (Alt-Az) ou Equatorial (EQ3)].

Yarlei dos Santos detalha que os modelos mais indicados são os telescópios Uranum Pegasus-1 70 mm (refrator) e Sky-Watcher 114 mm (Newtoniano refletor)

Com esses equipamentos é possível observar, com nitidez, as crateras da Lua, as luas de Júpiter, os anéis de Saturno, as fases de Vênus, a Nebulosa de Órion, o aglomerado das Plêiades e até mesmo Marte em oposição.

Quais são as melhores marcas em 2025? 

  • Celestron — referência mundial, boa qualidade e garantia;
  • Sky-Watcher — excelente custo-benefício, especialmente nos modelos Dobsonianos;
  • Orion — muito usada em clubes e instituições;
  • Svbony — bastante popular entre astrônomos amadores e profissionais pelo ótimo desempenho óptico e custo-benefício;
  • Meade — tradicional e com bom desempenho óptico;
  • Uranum e Greika — opções nacionais/intermediárias mais acessíveis.

Quanto pode custar um telescópio? 

O especialista destaca que um telescópio para iniciantes, que equilibre custo e qualidade, pode custar em torno de R$ 700 a R$ 1.500. 

A seguir, Yarlei dos Santos detalha a faixa de preço do equipamento por tipo de abertura:

  • básico (50 mm–70 mm refrator): de R$ 150 a R$ 400.
  • intermediário (90 mm–130 mm): de R$ 800 a R$ 2.500.
  • avançado (com montagem motorizada): a partir de R$ 5.000.

Conheça os tipos de lentes disponíveis no mercado 

  • acrílicas simples — comum em modelos baratos, sofrem distorções chamadas de aberrações cromáticas.
  • acromáticas — resultado da combinação de duas lentes, têm menos aberrações cromáticas e são mais comuns e acessíveis.
  • apocromáticas — usadas em equipamentos profissionais, corrigem quase todas as aberrações, mas são mais caras.

Então, como escolher o seu primeiro telescópio? 

O primeiro passo para o escolher um telescópio é refletir sobre qual é o seu objetivo, como é local onde ele vai ser instalado, quanto você quer gastar e seu nível de interesse no tema. 

Para iniciantes, existem dois tipos principais do dispositivo: o refrator e o refletor. Escolher qual deles é melhor depende do que você deseja observar no Universo

No mercado, há telescópios recomendados para iniciantes que custam, em média, de R$ 700 a R$ 1.500. Ainda é possível encontrar equipamentos mais baratou ou mais caros, basta avaliar qual deles vale mais a pena para você. 

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