Como escolher o primeiro telescópio? Veja tudo que você precisa saber para comprar
Confira tipos, preços, montagens e dicas de especialista para iniciantes.
Observar a Lua, os planetas e as estrelas de casa é o desejo de muitos fãs de Astronomia. Porém, com tantas opções disponíveis no mercado, como escolher o primeiro telescópio ideal? A decisão depende de fatores como objetivo de uso, tipo de montagem, abertura e distância focal.
Neste guia completo, com explicações do especialista Yarlei dos Santos Azevedo, membro do Laboratório de Ensino e Pesquisa em Astronomia (LEPA), do Observatório Astronômico Otto de Alencar, ligado à Universidade Estadual do Ceará (Uece), você vai entender quais são os melhores modelos e marcas e conferir os preços para começar a explorar o Universo.
Quem inventou o primeiro telescópio do mundo?
O nome do inventor do instrumento é incerto, mas o fato é que ele surgiu por volta do século XVII.
Segundo o portal StarChild, da Nasa, o registro mais antigo de um telescópio é um pedido de registro de patente feito pelo fabricante de óculos Hans Lippershay (também encontrado como Lipperhey), na Holanda, em 2 de outubro de 1608.
Ele solicitou direitos exclusivos para fabricar e distribuir um instrumento que permitiria observar objetos distantes como se estivessem próximos. O equipamento era constituído por uma lente positiva na extremidade de um tubo estreito e uma lente negativa na outra.
Na época, a reivindicação de Lippershay foi logo contestada por algumas pessoas. Então, as autoridades holandesas acabaram decidindo que a situação era confusa e se recusaram a conceder a patente a qualquer indivíduo.
No entanto, independentemente de quem o inventou, o telescópio continuou a ser um dos dispositivos científicos mais importantes do século XVII, permitindo marcos como:
- Observações de fenômenos no universo que, eventualmente, comprovaram que o Sol está no centro do Sistema Solar;
- O cientista Galileu Galilei foi o primeiro a usar o equipamento para a Astronomia e fez descobertas relacionadas a objetos como a Lua da Terra e as luas de Júpiter.
Vale a pena comprar um telescópio doméstico?
Sim, se você gosta de Astronomia e tem o desejo de observar, em detalhes, os corpos celestes, como a Lua, os planetas e até mesmo algumas estrelas ou nebulosas.
Yarlei dos Santos explica que um telescópio doméstico permite que o usuário aprenda como funciona a observação astronômica e desenvolva noções de óptica, de coordenadas celestes e identificação do céu noturno.
"É importante salientar que se deve evitar modelos muito baratos, de baixa qualidade, pois eles frustram o iniciante por terem lentes ruins e montagens instáveis. Por isso, muito cuidado e calma quando for adquirir um telescópio."
O que você precisa definir antes de comprar o seu
Antes de sair comprando o primeiro telescópio que encontrar, é importante se atentar a alguns fatores básicos, como o local onde será instalado o equipamento, valor disponível e objetivo.
A seguir, o especialista lista algumas perguntas que você deve se fazer para definir qual equipamento comprar:
- Qual é o objetivo principal? — observação da Lua e planetas, ou céu profundo (nebulosas, galáxias), ou uso em aula, ou somente lazer.
- Como é o local de observação? — capitais e metrópoles têm mais poluição e interferência luminosa, já cidades no interior ou menores possuem o céu mais limpo e escuro.
- Qual é o orçamento disponível?
- Quais são o espaço e a forma de transporte disponíveis? — alguns telescópios são grandes e pesados, o que pode dificultar o uso em alguns locais.
- Qual é o seu nível de interesse? — se for somente uma curiosidade inicial, vale a pena apostar em um modelo mais simples. Já se for algo mais duradouro, é indicado investir em um dispositivo mais sofisticado.
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Escolha o tipo de telescópio
Existem diversos tipos de telescópio no mercado. Mas, para os iniciantes, os mais indicados são o refrator e/ou o refletor.
Para saber qual deles é o melhor, é preciso analisar o que você deseja observar:
- telescópio refrator — fácil de usar, exige pouca manutenção e é ideal para observar a Lua e os planetas;
- telescópio refletor, tipo Dobsoniano — com uma abertura mais ampla e um preço baixo, é ideal para explorar o céu profundo, focando em nebulosas e aglomerados de estrelas.
"Para uso doméstico, recomenda-se começar com um refrator de 70 mm a 102 mm ou um refletor de 130 mm."
Avalie a abertura e a distância focal
A abertura é o "tamanho da boca" do telescópio, e é responsável por determinar o quanto de luz é captada pelo equipamento: quanto mais iluminação, mais detalhes são visíveis.
No modelo refrator, a abertura faz referência ao diâmetro da lente, enquanto no refletor é ao espelho.
Para iniciantes, existem algumas aberturas que são mais indicadas, dependendo do tipo de objeto que deseja observar:
- abertura de 50-70 mm — permitir ver a Lua e os planetas;
- abertura de 100-130 mm — indicado para observar nebulosas e objetos mais distantes.
O especialista destaca que, no começo, é melhor priorizar a abertura e não a possibilidade de aumento. "Muitos anúncios enganam ao destacar ampliações de '300x', mas isso não garante qualidade de imagem e, muitas vezes, frustra os iniciantes."
Já a distância focal é o comprimento, em milímetros (mm), entre a lente/espelho e o ponto onde a imagem se forma. Ela influencia o campo de visão e o aumento máximo possível.
- Focal curta (300 mm–600 mm) — com campo de visão amplo, é ideal para ver objetos grandes, como a Lua inteira e aglomerados estelares.
- Focal longa (900 mm–1300 mm) — de campo estreito, é indicado para observar planetas e detalhes.
Para iniciantes, o ideal é algo intermediário, entre 700 mm e 1000 mm, pois permite versatilidade entre objetos maiores ou mais próximos da Terra, como Lua, Sol, Júpiter etc."
Escolha uma montagem adequada
|
Características principais | Desvantagens | |
|---|---|---|---|
| Altazimutal | Permite mover o telescópio da esquerda para direita e de cima para baixo. | Geralmente, não permite acoplar um motor para seguir objetos. | |
| Equatorial | Possui um dos eixos alinhado com o eixo polar da Terra. | Requer conhecimento prévio sobre alinhamento polar (colimação). É menos intuitivo, tanto para montagem quanto para observação. | |
| Dobsoniano | Geralmente é um telescópio newtoniano com base no chão ou suporte robusto. | Mais pesado e volumoso; base fixa não permite rastreamento automatizado. |
Um telescópio refrator simples, 70 mm altazimutal, já é o suficiente para observar objetos conhecidos e de beleza inestimável. Além de mais acessíveis, tanto financeiramente quanto no quesito montagem x operação, proporcionam um primeiro contato mais satisfatório do que com um dobsoniano, por exemplo."
Quais acessórios comprar
A seguir, Yarlei dos Santos sugere uma lista de apetrechos para o iniciante investir:
- oculares adicionais com diferentes distâncias focais (ex: 25 mm e 10 mm) — variam as possibilidades de aumento;
- lente Barlow (2x ou 3x) — duplica ou triplica o aumento da ocular;
- filtro lunar — por reduz o brilho da Lua, melhora o contraste.
- filtro solar — apesar de ser mais caro, permite observar a superfície solar e, enxergar, por exemplo, as manchas solares.
- buscador (finder) — ajuda a apontar o telescópio com precisão.
- tripé firme — fundamental para a estabilidade;
- adaptador para celular — auxilia na captura de fotos simples e registro de observações.
Três curiosidades sobre os telescópios
1. Qual a diferença do telescópio terrestre para o telescópio espacial?
Telescópio terrestre é o tipo de dispositivo instalado na superfície da Terra. Equipamentos dessa categoria observam o céu através da atmosfera, o que limita a nitidize devido à turbulência do ar e a poluição luminosa.
Formado por quatro telescópios com espelhos principais de 8,2 metros e instalado no Deserto do Atacama, no Chile, o Very Large Telescope (VLT), do Observatório Europeu do Sul (da sigla em inglês ESO), é atualmente o maior telescópio terrestre.
Em breve, ele será superado em tamanho pelo Extremely Large Telescope (ELT), do mesmo observatório. O equipamento está em construção na mesma região e terá um espelho primário de 39 metros.
Já um telescópio espacial é instalado fora da atmosfera da Terra. Por estar no espaço, o equipamento capta a luz sem distorções atmosféricas, além de conseguir observar objetos em várias faixas de espectro (infravermelho, ultravioleta, etc.).
Devido a esses fatores, o dispositivo obtém imagens mais nítidas e alcança regiões profundas do Universo, possibilitando a observação de corpos muito distantes e antigos no Cosmos.
Os telescópios Hubble e James Webb são exemplos de telescópio espaciais. Ambos da Nasa, eles já realizaram descobertas inéditas, como uma anã branca "engolindo" um corpo gelado semelhante a Plutão ou a galáxia mais distante do Universo.
2. Qual é a diferença entre luneta e telescópio?
O especialista explica que a luneta é um refrator pequeno, que capta imagem direita (não invertida), e, geralmente, é utilizada em observações terrestres, como paisagens, navios, etc.
Já o telescópio é usado para observar astros e pode ser refrator, refletor ou catadióptrico, além de, normalmente, gerar imagem invertida.
Enquanto a luneta se limita à observação para objetos próximos, o telescópio observa objetos mais distantes."
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3. Qual o telescópio ideal para ver planetas?
Para iniciantes observarem planetas, o profissional explica que o telescópio ideal deve ter as seguintes características:
- abertura média (90-150 mm);
- distância focal longa (igual ou maior que 900 mm);
- montagem estável [Alta Azimutal (Alt-Az) ou Equatorial (EQ3)].
Yarlei dos Santos detalha que os modelos mais indicados são os telescópios Uranum Pegasus-1 70 mm (refrator) e Sky-Watcher 114 mm (Newtoniano refletor).
Com esses equipamentos é possível observar, com nitidez, as crateras da Lua, as luas de Júpiter, os anéis de Saturno, as fases de Vênus, a Nebulosa de Órion, o aglomerado das Plêiades e até mesmo Marte em oposição.
Quais são as melhores marcas em 2025?
- Celestron — referência mundial, boa qualidade e garantia;
- Sky-Watcher — excelente custo-benefício, especialmente nos modelos Dobsonianos;
- Orion — muito usada em clubes e instituições;
- Svbony — bastante popular entre astrônomos amadores e profissionais pelo ótimo desempenho óptico e custo-benefício;
- Meade — tradicional e com bom desempenho óptico;
- Uranum e Greika — opções nacionais/intermediárias mais acessíveis.
Quanto pode custar um telescópio?
O especialista destaca que um telescópio para iniciantes, que equilibre custo e qualidade, pode custar em torno de R$ 700 a R$ 1.500.
A seguir, Yarlei dos Santos detalha a faixa de preço do equipamento por tipo de abertura:
- básico (50 mm–70 mm refrator): de R$ 150 a R$ 400.
- intermediário (90 mm–130 mm): de R$ 800 a R$ 2.500.
- avançado (com montagem motorizada): a partir de R$ 5.000.
Conheça os tipos de lentes disponíveis no mercado
- acrílicas simples — comum em modelos baratos, sofrem distorções chamadas de aberrações cromáticas.
- acromáticas — resultado da combinação de duas lentes, têm menos aberrações cromáticas e são mais comuns e acessíveis.
- apocromáticas — usadas em equipamentos profissionais, corrigem quase todas as aberrações, mas são mais caras.
Então, como escolher o seu primeiro telescópio?
O primeiro passo para o escolher um telescópio é refletir sobre qual é o seu objetivo, como é local onde ele vai ser instalado, quanto você quer gastar e seu nível de interesse no tema.
Para iniciantes, existem dois tipos principais do dispositivo: o refrator e o refletor. Escolher qual deles é melhor depende do que você deseja observar no Universo.
No mercado, há telescópios recomendados para iniciantes que custam, em média, de R$ 700 a R$ 1.500. Ainda é possível encontrar equipamentos mais baratou ou mais caros, basta avaliar qual deles vale mais a pena para você.