Cometa 3I/Atlas cruza órbita de Marte e intriga cientistas

Objeto interestelar se aproxima do Sol e revela pistas sobre a origem de outros sistemas planetários

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Redação producaodiario@svm.com.br
Legenda: O brilho registrado foi fraco, quase um borrão no espaço, mas suficiente para comprovar que o visitante está vivo e reagindo à luz do Sol.
Foto: Divulgação / NASA.

Um viajante vindo do espaço profundo passou discretamente pelo Sistema Solar nas últimas semanas. O cometa 3I/Atlas, um corpo gelado e misterioso que não pertence ao nosso sistema, cruzou a órbita de Marte entre os dias 1º e 7 de outubro, num evento raro observado pelas sondas da Agência Espacial Europeia (ESA).

As missões ExoMars Trace Gas Orbiter (TGO) e Mars Express registraram a passagem a cerca de 30 milhões de quilômetros de distância — o ponto mais próximo já captado do objeto por instrumentos humanos.

O brilho registrado foi fraco, quase um borrão no espaço, mas suficiente para comprovar que o visitante está vivo e reagindo à luz do Sol.

Conhecendo o cometa

O 3I/Atlas é o terceiro objeto interestelar já identificado — depois do famoso ʻOumuamua, em 2017, e do Borisov, em 2019. Sua trajetória é hiperbólica, o que significa que ele veio de fora do Sistema Solar e seguirá seu caminho, sem nunca mais voltar.

Para os astrônomos, cada aparição como essa é uma chance única de observar material formado em outro sistema estelar, bilhões de anos atrás.

Imagem mostra a posição do cometa.
Legenda: Descoberto em 1º de julho de 2025 pelo telescópio Atlas, no Chile, o cometa despertou o interesse imediato dos astrônomos.
Foto: David Rankin / Observatorio de Saguaro / AFP.

Sem cauda, mas com brilho próprio

Diferente do que se espera de um cometa, o 3I/Atlas ainda não exibiu a clássica cauda de poeira e gás. O que se vê nas imagens é um halo difuso em torno do núcleo — uma tênue atmosfera criada quando o calor do Sol começa a sublimar o gelo da superfície.

Mesmo com as câmeras de alta precisão do sistema CaSSIS, embarcado na missão ExoMars, o núcleo não pôde ser identificado. A ESA comparou a dificuldade à tentativa de “enxergar um celular na Lua a partir da Terra”.

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Um cometa antigo

Descoberto em 1º de julho de 2025 pelo telescópio Atlas, no Chile, o cometa despertou o interesse imediato dos astrônomos. Estima-se que ele tenha até 7,6 bilhões de anos — três bilhões a mais que o próprio Sistema Solar.

Em julho, o Telescópio Espacial Hubble capturou o objeto a 446 milhões de quilômetros da Terra. As imagens mostraram uma nuvem em forma de gota envolvendo o núcleo, que pode medir entre 440 metros e 5,6 quilômetros de diâmetro.

A próxima etapa da jornada

O 3I/Atlas continuará sua rota em direção ao Sol, devendo alcançar o periélio, o ponto mais próximo da estrela em 30 de outubro de 2025, pouco dentro da órbita de Marte. A NASA afirma que o cometa não oferece qualquer risco à Terra, que ficará a cerca de 270 milhões de quilômetros de distância.

A ESA planeja acompanhar a trajetória com a missão Juice, voltada ao estudo das luas geladas de Júpiter. As novas observações poderão revelar mais sobre a composição do cometa. Os resultados estão previstos para fevereiro de 2026.

Depois de cruzar o Sol, o 3I/Atlas deve seguir para a região de Júpiter e, em seguida, deixar o Sistema Solar para sempre, voltando a vagar no espaço interestelar de onde veio, talvez rumo a outra estrela.