Troca de comandos das polícias do CE será feita ‘se houver necessidade’, diz secretário da Segurança

Em entrevista ao Diário do Nordeste, gestor aponta que “postura e entrega” das lideranças são avaliadas de forma permanente

Escrito por Theyse Viana, Emerson Rodrigues e Karine Zaranza , seguranca@svm.com.br
Fachada da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social, no bairro Aeroporto, em Fortaleza
Legenda: Fachada da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social, no bairro Aeroporto, em Fortaleza
Foto: Fabiane de Paula

Menos de um mês após assumir o cargo de secretário da Segurança Pública e Defesa Social do Ceará (SSPDS), o carioca Roberto Sá, delegado aposentado da Polícia Federal (PF), enfrenta um desafio complexo: restabelecer a sensação de segurança diante de uma onda de violência no Estado.

Com a escalada de mortes no último fim de semana, o gestor revelou, em entrevista exclusiva ao Diário do Nordeste, nessa segunda-feira (24), que tem cobrado esforços dos dirigentes das polícias do Estado a fim de retomar o objetivo que estabeleceu como meta de gestão: diminuir os crimes violentos letais intencionais. 

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Questionado sobre a possibilidade de trocar o comando da Polícia Militar do Ceará (PMCE) e o delegado geral da Polícia Civil (PCCE), o secretário frisou que chegou ao Estado “com autonomia pra montar a equipe” e que está “avaliando” a atuação dos dirigentes de forma constante.

“A possibilidade existe, mas, neste momento, falei: trabalhem, trabalhem, trabalhem. Esse é o lema. Liderem suas forças, coloquem as pessoas pra trabalhar. Mas, se houver necessidade, a gente oxigena e coloca outras pessoas. No serviço público é assim”, reconheceu.

Avalio permanentemente a postura, a entrega, a dedicação, a liderança, a legitimidade e experiência de todos. Eles sabem disso. Estou cobrando, mas também junto com eles, com todos os esforços para revertermos essa tendência de alta dos crimes letais.
Roberto Sá
Secretário da Segurança e Defesa Social do Ceará

Os formatos de atuação das polícias no Estado, conduzidos pelos gestores, têm sido questionados inclusive pelas próprias corporações. Um dos exemplos é o sistema de patrulhamento composto por apenas dois PMs por viatura, o que, conforme policiais ouvidos pela reportagem, os deixaria expostos durante as abordagens – mas que será mantido, como garantiu Roberto Sá.

“Existem diversas modalidades de policiamento. Para cada uma há estudos de muitos e muitos anos. Em área urbana, regiões mais tranquilas, que não são conflagradas, no Brasil inteiro é feito a dois policiais. Mas quando tem a necessidade de estar numa área conflagrada, você aciona reforço, vai com duas, três, quatro viaturas”, ilustra o secretário.

Roberto Sá, secretário da Segurança e Defesa Civil do Ceará
Legenda: Roberto Sá, secretário da Segurança e Defesa Civil do Ceará
Foto: Fabiane de Paula

A ideia, conforme resume o titular da SSPDS, é otimizar a distribuição do efetivo de policiais em expediente e ampliar ao máximo a presença de policiamento nos bairros – o que, para o secretário, contribui para transmitir “maior sensação de segurança”.

“Se você tem 30 policiais e usa três (por equipe), terá 10 viaturas. Se usar dois, terá 15 viaturas circulando. É uma estratégia que acompanhamos no Brasil inteiro, utilizada de forma modular. Isso não exige que o PM entre numa área conflagrada com dois policiais”, destaca.

"Quanto mais viaturas patrulhando essas áreas, maior é a sensação de segurança, a presença policial, inibindo a ação de criminosos. E não se exige que se entre em área conflagrada com dois policiais em viatura, em hipótese alguma."

Delegacias de plantão

No Ceará, um a cada três (32,7%) crimes violentos letais intencionais (CVLIs) entre janeiro e maio deste ano foi cometido entre sábado e domingo. Dos 1.455 homicídios, 60% ocorreram nos turnos da tarde e da noite, segundo dados da Superintendência de Pesquisa e Estratégia em Segurança Pública (Supesp).

É justamente no fim de semana que as delegacias do Estado funcionam em regime de plantão, por meio de “centrais de flagrantes”, como define Roberto Sá. O esquema, que reduz o número de equipamentos e de profissionais em atuação, não deve passar por mudanças.

“Em princípio, será mantido. Temos que aumentar o efetivo da Polícia Civil, há um concurso sendo finalizado. Mas o tamanho do Estado é muito grande, o trabalho da polícia investigativa é mais pós-fato. O modelo de centrais de flagrantes é adotado em outros estados”, justifica Roberto Sá.

O secretário afirma que a tecnologia tem sido usada “a favor” da atuação policial. Algumas diligências e medidas adotadas, ele ilustra, são realizadas por meio de videoconferências. Apesar disso, para o sistema funcionar melhor, ele reconhece, é preciso uma maior integração entre as polícias.

“Há uma recomendação minha para que a Polícia Civil, ao estabelecer essas centrais de flagrantes, faça combinada com a PM, para facilitar o deslocamento. Não deslocar muito as viaturas na distância nem no tempo, para que elas permaneçam no policiamento ostensivo”, finaliza o secretário, destacando sempre o reforço do policiamento nos territórios como chave para prevenção da criminalidade.

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