Poeta e instrumentista de 20 anos é morto a tiros no Bom Jardim, em Fortaleza

Geovanne Rodrigues Xavier chegou a ser socorrido, mas não resistiu aos ferimentos

Escrito por Lígia Costa , ligia.costa@svm.com.br

Geovanne Rodrigues Xavier, 20, fazendo uma selfie no celular
Legenda: Geovanne Rodrigues Xavier, 20, era poeta e instrumentista do coletivo Tambores do Gueto
Foto: Reprodução/Instagram

O poeta e instrumentista Geovanne Rodrigues Xavier, de 20 anos, foi morto a tiros no último sábado (9), na periferia de Fortaleza, no Grande Bom Jardim.

Conforme a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), o jovem caminhava em via pública quando foi abordado por indivíduos em uma motocicleta, que realizaram disparos de arma de fogo. 

Geovanne chegou a ser socorrido para uma unidade hospitalar, mas não resistiu aos ferimentos. Equipes da Polícia Militar do Ceará (PMCE), segundo a SSPDS, foram acionadas e realizaram buscas na região onde o crime aconteceu.

O 32º Distrito Policial (DP) da Polícia Civil do Estado do Ceará (PC-CE) está à frente das investigações do caso, informou ainda a Pasta, em nota, acrescentando que a vítima tinha antecedentes por posse de drogas e desacato.

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O corpo de Geovanne foi sepultado no fim da tarde desse domingo (10), no Cemitério Memorial Morada da Paz, em Caucaia, Região Metropolitana de Fortaleza (RMF). Na ocasião, estiveram presentes membros de diferentes organizações de direito da criança e do adolescente, como o Centro de Defesa da Criança e do Adolescente no Ceará (Cedeca).

No Instagram, a instituição lamentou a morte do jovem e mencionou o trecho de uma poesia escrita por ele, na qual descrevia a tristeza de saber que "os moradores da periferia são o maior alvo".

"Nossa solidariedade à família, amigos e amigas, e a toda a comunidade. Tristes, nos inspiramos nas palavras de Geovanne para continuar lutando pela vida das juventudes que aqui estão e pela memória das vidas interrompidas ainda jovens'", somou o Cedeca. 

"Vinha no melhor momento da vida dele" 

Geovanne era conhecido por atuar no movimento cultural de Fortaleza. Além de escrever poesias, o jovem se engajava em ações de combate à violência, como o projeto Jovens Agentes da Paz, desenvolvido pelo Centro de Defesa da Vida Herbert de Souza (CDVHS), no Bom Jardim, bairro onde residia. Ele também era instrumentista do grupo de percussão Tambores do Gueto, fundado em 2017.

Para a coordenadora do Cedeca Ceará, Mara Carneiro, a violência letal contra crianças e adolescentes tem um "número absurdo" no Estado. E, em muitos casos, os jovens assassinados - tais como Geovanne - são colocados na condição de culpados pela própria morte. 

"O Geovanne vinha no melhor momento da vida dele: estava conseguindo levar a sua arte [ao público], era um poeta, tinha acabado de fazer um estágio no CCBJ [Centro Cultural Bom Jardim], inclusive, é um equipamento do Estado, estava trabalhando, organizando a sua vida, mesmo tendo apenas 20 anos".

Mara afirma que a autoria do assassinato que vitimou Geovanne não veio de quem disparou a arma, "mas de tudo o que a gente denuncia: quem defende que a gente possa usar arma, quem não garante direitos de crianças e adolescentes, quem não enfrenta as causas de verdade da violência", diz, revelando um "sentimento de impotência" diante da realidade. 

"É doloroso saber que é uma ambiência geral que gera violência. E não é o primeiro [assassinato]. Há alguns anos, tivemos outro adolescente do mesmo coletivo [Tambores do Gueto] também no Bom Jardim assassinado. Então, fica sempre a pergunta: 'até quando a gente vai enterrar os nossos jovens?'".

Luto 

O Centro Cultural Bom Jardim, equipamento da Secretaria da Cultura do Estado do Ceará (Secult), também divulgou nota de pesar, declarando luto à "partida precoce" de Geovanne. 

A nota elenca que o jovem foi "percussionista, poeta, skatista, brincalhão sempre com este sorriso largo da foto, gostava de animais domésticos e de dançar reggae, estava como um dos integrantes dos Jovens Agentes de Paz (JAP), foi integrante do grupo Tambores do Gueto, no ciclo de 2019 foi aluno do Ateliê de Produção da Escola de Cultura e Artes do CCBJ e em 2020 foi estagiário do CCBJ, em que colaborou com a nossa Ação Cultural".

Por fim, o equipamento acrescenta que o jovem os "deixará com o peito cheio de saudades, mas seguimos conectados com as boas lembranças da força da juventude periférica". 

Denúncias

A população pode contribuir com as investigações repassando informações que auxiliem os trabalhos policiais. As denúncias podem ser feitas para o número 181, o Disque-Denúncia da SSPDS, ou para o WhatsApp (85) 3101-0181, pelo qual podem ser feitas denúncias via mensagem, áudio, vídeo e fotografia.

As informações podem ser direcionadas ainda para o (85) 3101-6104, que é o telefone do 32° DP. A Secretaria da Segurança Pública diz garantir o sigilo e o anonimato.

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