PF deflagra nova operação contra facção a partir de delação de piloto acusado de matar Gegê e Paca
Felipe Morais foi solto pelo TJCE no dia 12 de abril deste ano. Operação visa núcleo financeiro da organização criminosa
A Polícia Federal (PF) deflagrou, nesta segunda-feira (3), nos Estados de São Paulo e Rio de Janeiro, além do Distrito Federal, a Operação Tempestade, que tem como alvo uma facção criminosa paulista. A ação é mais um desdobramento da delação premiada realizada pelo piloto Felipe Ramos Morais, acusado de participar dos assassinatos de Rogério Jeremias de Simone, o 'Gegê do Mangue', e Fabiano Alves de Sousa, o 'Paca', no Ceará, em fevereiro de 2018.
Felipe foi solto pelo Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE) no dia 12 de abril deste ano. O magistrado considerou o quadro de saúde debilitado do réu - que utiliza um balão intragástrico que já explodiu - para conceder a liberdade provisória. O piloto chegou a negociar uma delação premiada com o Ministério Público do Ceará (MPCE), mas foi com a PF que o acordo foi homologado pela Justiça e já auxiliou em outras duas operações contra a facção paulista.
De acordo com a Polícia Federal, a Operação Tempestade é a segunda fase da Operação Rei do Crime e tem o objetivo de desarticular núcleo financeiro da facção responsável pela lavagem de dinheiro do tráfico de drogas e da corrupção.
A PF, com apoio do Departamento Penitenciário (Depen), cumpriu cinco mandados de prisão (quatro preventivas e uma temporária), interdição judicial de seis empresas, interdição de atividade de um contador e 22 mandados de busca e apreensão, distribuídos entre os Municípios de São Paulo, Tietê, Guarujá (todos no Estado de São Paulo), Rio de Janeiro e Brasília.
A investigação possibilitou a identificação, localização e sequestro de valores de aproximadamente R$ 30 milhões - entre imóveis, veículos e a interdição das empresas; e ainda o bloqueio de valores em contas das pessoas físicas e jurídicas no limite de R$ 225 milhões.
Segundo informações fornecidas pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), o grupo investigado realizou operações financeiras atípicas superior a R$ 700 milhões.
A Polícia Federal detalha que o núcleo financeiro da facção criminosa paulista desenvolvia atividades voltadas à lavagem de dinheiro do tráfico de drogas e da corrupção, tendo como modus operandi a entrega física de valores a suspeitos de práticas ilícitas.
O grupo abria empresas fictícias, que eram utilizadas como “cortina de fumaça”, para a realização de depósitos de valores em uma instituição financeira de “fachada”, cujo papel no esquema era providenciar os saques dos valores e posterior entrega, em espécie, a terceiros com indícios de envolvimento em atividades ilícitas.
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Outras investigações
A Polícia Federal informou sobre o acordo de delação premiada com o piloto Felipe Morais à Justiça do Ceará em outubro de 2020. Segundo o documento, o piloto prestou informações que auxiliam a PF em outras investigações pelo País, sem relação direta com o duplo homicídio ocorrido em território cearense.
De acordo com o ofício, "ficou claro que o réu colaborador possuía um vasto conhecimento a respeito de diversos crimes de competência da Justiça Federal, supostamente praticados por membros da facção criminosa". E, por isso, as autoridades dividiram o depoimento do piloto "em dois processos distintos de delação premiada, sendo um com o MPCE, relacionado exclusivamente aos fatos referentes ao duplo homicídio, e um segundo com a Polícia Federal, que abarcaria todos os demais fatos de conhecimento do réu".
As informações repassadas por Felipe colaboraram com a PF na Operação Laços de Família, que investiga uma organização criminosa instalada na região da fronteira sul do Mato Grosso do Sul, que traz drogas do Paraguai e distribui pelo Brasil. Deflagrada em 2018, a Operação já apreendeu cerca de 30 toneladas de maconha, aeronaves, veículos de luxo, armas de fogo e outros bens.
E também na Operação Rei do Crime, deflagrada no dia 30 de setembro de 2020 para desarticular um braço financeiro da facção, em São Paulo. Foram bloqueados R$ 730 milhões em contas bancárias, interditadas 73 empresas e presos 13 suspeitos - inclusive o ex-proprietário do helicóptero utilizado para matar 'Gegê' e 'Paca'.
Em contrapartida, o MPCE negou acordo de delação premiada com Felipe à Justiça Estadual, apesar do piloto afirmar várias vezes, dentro do processo do duplo homicídio, que o acordo foi selado. Ele e outros réus pediram pela nulidade do processo, devido à suposta delação, mas os juízes negaram.
Duplo homicídio no Ceará
Felipe Ramos Moras foi preso em um condomínio de luxo no Município de Caldas Novas, em Goiás, em 14 de maio de 2018, três meses após os assassinatos de 'Gegê do Mangue' e 'Paca', em uma reserva indígena em Aquiraz, Região Metropolitana de Fortaleza (RMF).
Primeiro acusado detido pelo duplo homicídio, Felipe teria levado vítimas e assassinos para uma emboscada, motivada por um racha na facção. Conforme as investigações da Polícia Civil do Ceará (PCCE), o grupo criminoso não aceitava a vida de luxo que a dupla levava em terras cearenses e suspeitava de desvios financeiros.
O piloto conta que foi sequestrado e torturado por homens subordinados a Wagner Ferreira da Silva, o 'Cabelo Duro', um mês antes das mortes de 'Gegê' e 'Paca'. O caso foi registrado em Boletim de Ocorrência (B.O.), na Delegacia de Polícia de Guarujá, em São Paulo, em 13 de janeiro de 2018. Considerado o principal articular do plano criminoso, 'Cabelo Duro' também foi executado, em São Paulo, poucos dias após o crime ocorrido no Ceará.
Dez pessoas são réus pelos assassinatos de 'Gegê' e 'Paca', das quais quatro estão presas. O processo anda, e os acusados devem ser ouvidos pela Justiça Estadual, por videoconferência, nos dias 1, 2, 7 e 8 de junho deste ano. São réus:
- Gilberto Aparecido dos Santos, o 'Fuminho' (preso);
- André Luís da Costa Lopes, o 'Andrezinho da Baixada' (preso);
- Jefte Ferreira Santos (preso);
- Carlenilto Pereira Maltas (preso);
- Felipe Ramos Morais;
- Erick Machado Santos;
- Ronaldo Pereira Costa;
- Tiago Lourenço de Sá Lima;
- Renato Oliveira Mota;
- Maria Jussara da Conceição Ferreira Santos.