Mestres investigados por abuso sexual, incluindo dois do Ceará, são expulsos de grupo de capoeira

Presidente da Cordão de Ouro, também investigado por assédio, se afastou "por razões médicas" nesta semana

Escrito por Matheus Facundo , matheus.facundo@svm.com.br
instrumentos de capoeira no chão
Legenda: Dezenas de denúncias de crimes sexuais por parte de mestres da Cordão de Ouro são investigadas pelo MPCE
Foto: Shutterstock

O Grupo Cordão de Ouro decidiu afastar definitivamente mestres de capoeira, incluindo dois com atuação no Ceará, que estão sendo investigados por abusar sexualmente de jovens. Decisão acontece dois dias após o presidente da entidade, Mestre Suassuna, também acusado de assédio por vítima cearense, anunciar afastamento temporário das atividades por "razões médicas".

De acordo com nota oficial do Cordão de Ouro, divulgada nesta quinta-feira (10), foram expulsos da organização os cearenses Eliomar Vale de Lima, o Mestre Paiakan, e Marcos Antônio Lopes de Souza, o Mestre Espirro Mirim. Outro integrante do grupo, de São Paulo, Lúcio Flávio de Campos Torres, o Mestre Quebrinha, também foi afastado. 

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O anúncio dos afastamentos foi assinado por Edison Nascimento, vice-presidente da organização de capoeira. Decisão, segundo o documento, visa "dissociar o grupo desses membros e dos possíveis atos ilegais que possam ter cometido e que são veementemente repudiados pelo nosso grupo". 

Segundo Nascimento, a entidade "não compactua com quaisquer atos que infrinjam as leis do Brasil ou o bem-estar e respeito de qualquer cidadão".Os envolvidos nas denúncias anteriormente já estavam afastados de suas funções no Cordão de Ouro, mas somente até que as investigações fossem concluídas. 

Crimes sexuais 

Os mestres estão sendo investigados pelo Ministério Público do Ceará (MPCE) por suspeita de crimes sexuais contra dezenas de jovens do Ceará e de outros estados. A informação foi revelada pela Agência Pública e confirmadas pelo Diário do Nordeste no começo deste mês. 

Quatro homens relataram ao Diário do Nordeste terem sido vítimas de estupro pelo mestre Espirro Mirim, quando tinham entre 12 e 13 anos. O modus operandi era o mesmo, todos eram atraídos à casa dele, no bairro Henrique Jorge, e tinham as partes íntimas tocadas. 

Um dos denunciantes detalhou que o crime ocorreu após um treino de capoeira, quando o mestre ofereceu ao adolescente tomar banho na casa dele. Quando o jovem estava deitado em uma cama, descansando, foi violentado.

Outro alega ter sido constantemente assediado por meio das redes sociais. O mestre fazia promessas, inclusive de viagens para eventos internacionais de capoeira, e pedia para ver o corpo do jovem.

Mestre Espirro Mirim nega acusações 

Marcos Antônio Lopes de Souza, o Espirro Mirim, emitiu nota, na última segunda-feira (7), para rebater e repudiar as acusações de que cometeu crimes sexuais. Segundo o documento, as denúncias se tratam de "notícias falsas envolvendo, de forma caluniosa, a minha pessoa".

Os comentários divulgados em publicações recentes nas redes sociais Facebook, Instagran, blogs e televisão, além de absurdos, desrespeitosos e mentirosos, ferem de morte a minha honra e integridade moral, pois repudio veemente a prática de qualquer ilícito penal
Espirro Mirim
Mestre de capoeira

Abertura de investigação

Conforme a Agência Pública, um depoimento dado por uma mulher em 2019 contribuiu para que o MPCE abrisse a investigação contra os capoeiristas. Uma das acusações contra Eliomar Vale de Lima, o mestre Paiakan, data de 2009 e aconteceu em Fortaleza.

O relato dá conta que uma menina, à época com 13 anos, teria andado de moto com Paiakan para buscar instrumentos, mas ele acabou desviando o caminho para um matagal e tentou abusar dela. A menina conseguiu fugir e, por muitos anos, segundo a reportagem, não conseguiu contar para a família por ter sido ameaçada pelo mestre de capoeira. 

Um documento da Procuradoria Especial da Mulher em Fortaleza, obtido pela Pública, afirma que mestre Paikan tinha o costume de sair e tentar abusar de várias de suas alunas de capoeira e de projetos sociais, todas menores de idade. 

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