Jovem afirma que mestre de capoeira pedia fotos do corpo dele pela Internet; suspeito nega acusações
O mestre fazia promessas, inclusive de viagens para eventos internacionais de capoeira, segundo a vítima
O Ministério Público do Ceará (MPCE) recebeu novas denúncias contra mestres do grupo de capoeira Cordão de Ouro por crimes sexuais, nesta segunda-feira (7). Um jovem relatou que um suspeito pedia fotografias do corpo do mesmo pela Internet. O mestre, entretanto, rebateu as acusações, em nota.
O homem - que pediu para não ser identificado - contou que, por volta dos 12 anos, começou a se destacar na capoeira em Fortaleza e a chamar a atenção de Marcos Antônio Lopes de Souza, conhecido como mestre 'Espirro Mirim', que liderava o Grupo no Ceará.
Segundo a vítima, 'Espirro Mirim' começou a ligar para a residência do mesmo e falar com ele por uma rede social. O mestre fazia promessas, inclusive de viagens para eventos internacionais de capoeira, e pedia para ver o corpo do jovem.
Eu não tinha computador e internet em casa. Acho que isso até me preveniu de algo maior. Eu ia para a lan house. Ele pedia para ver a minha barriga, que era sarada, e pedia para continuar treinando que ele ia me levar para o exterior.
O jovem afirma ainda que os outros mestres do Grupo sabiam dos crimes sexuais cometidos por 'Espirro Mirim': "Todo mundo, principalmente a velha guarda da capoeira, que convivia com o mestre quando ele dava aula em Fortaleza, sabia o que acontecia, e todo mundo falava. Inclusive dava conselhos e 'brincava' com isso, dizendo 'não fica sozinho com o mestre, não, senão o mestre te pega', 'ele quer só um beijinho'".
Outros três homens relataram ao Diário do Nordeste ter sofrido estupro de 'Espirro Mirim'. Todos tinham por volta de 12-13 anos, foram atraídos para a casa do mestre, no bairro Henrique Jorge, e tiveram as partes íntimas tocadas. O último detalhou que o crime ocorreu após um treino de capoeira, quando o mestre ofereceu ao adolescente tomar banho na casa dele. Quando o jovem estava deitado em uma cama, descansando, foi violentado.
Mestre nega as acusações: 'notícias falsas'
Marcos Antônio Lopes de Souza, o 'Espirro Mirim', emitiu nota, nesta segunda (7), para rebater e repudiar as acusações de que cometeu crimes sexuais. Segundo o documento, as denúncias se tratam de "notícias falsas envolvendo, de forma caluniosa, a minha pessoa".
Os comentários divulgados em publicações recentes nas redes sociais Facebook, Instagran, blogs e televisão, além de absurdos, desrespeitosos e mentirosos, ferem de morte a minha honra e integridade moral, pois repudio veemente a prática de qualquer ilícito penal.
O mestre diz ainda, na nota, acreditar "se tratar de pessoas mal intencionadas e invejosas, que queiram denegrir minha imagem e meu trabalho de anos como mestre de capoeira, tanto no âmbito nacional como no âmbito internacional, na qual sempre desempenhei meu trabalho nesse esporte de forma ética e respeitosa, sem jamais, em anos desenvolvendo a capoeira, ter sofrido qualquer tipo de calúnia e perseguição, como a que vem ocorrendo nos últimos dias".
De acordo com a nota, o mestre 'Espirro Mirim' sofre de transtornos psicológicos, comprovados por atestados médicos, e o quadro do mesmo piorou após as denúncias. Entretanto, ele garante que está à disposição das autoridades para prestar esclarecimentos e colaborar com as investigações.
Denúncias investigadas pelo Ministério Público
O Ministério Público informou, em nota, que investiga as denúncias de crimes sexuais no grupo de capoeira a partir do Núcleo de Investigação Criminal (Nuinc), que dá o devido tratamento a toda e qualquer demanda recebida de outros órgãos do MPCE ou da população. "Vale ressaltar que o Nuinc, não informou ou informa fatos relacionados aos objetos dos procedimentos instaurados, em respeito ao sigilo decretado", completa o Órgão.
As denúncias são recebidas pelo Núcleo de Atendimento às Vítimas de Violência (Nuavv) e repassadas ao Nuinc. O Nuavv já recebeu contatos de vítimas de crimes sexuais, ocorridos dentro do grupo Cordão de Ouro, que moram no Ceará, em outros estados do Brasil e até em outro país. Os casos de estupro foram revelados em reportagem da Agência Pública, na última terça-feira (1º), e confirmados pelo Diário do Nordeste.
A Associação de Capoeira Cordão de Ouro foi fundada em 1967, na Bahia, e se espalhou pelo Brasil e pelo mundo - tem sedes em 31 países, segundo o site oficial da Associação. As denúncias revelam a prática de crimes sexuais dentro do Grupo desde a década de 1970, passando de geração em geração, com o consentimento de mestres que não cometiam os crimes.
Além de 'Espirro Mirim', também é suspeito de cometer crimes sexuais o próprio fundador do Cordão de Ouro, Reinaldo Ramos Suassuna, o mestre 'Suassuna', que mora em São Paulo. Em nota, ele negou as acusações e repudiou os crimes.
"De antemão, mesmo sem conhecimento do referido processo que estaria ocorrendo em segredo de justiça, o Grupo repudia de forma veemente toda e qualquer prática relacionada à pedofilia e, no caso de eventual notificação, se coloca à disposição das autoridades para qualquer esclarecimento", afirmou 'Suassuna'.