Homicídios e ameaças de facções assustam moradores e comerciantes de cidades do Vale do Jaguaribe

Moradores de Quixadá e Morada Nova relatam que nestes municípios impera o medo.

Escrito por Emanoela Campelo de Melo , emanoela.campelo@svm.com.br
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Legenda: A população se diz amedrontada e busca as autoridades
Foto: Divulgação/PCCE

A guerra pelo domínio de território protagonizada por facções criminosas vem impactando a rotina de trabalho de comerciantes no Interior do Ceará, de uma nova forma, e fazendo mais vítimas. Criminosos determinam quem pode abrir as portas e atender a população nas cidades do Vale do Jaguaribe.

Em troca do funcionamento dos pontos comerciais exigem, por vezes, mensalidades ou até mesmo que se aliem aos seus interesses, comercializando apenas o que eles autorizam. A prática já noticiada há um ano em Fortaleza e Região Metropolitana, agora toma conta das cidades na região sul do Estado. 

Moradores de Quixadá e Morada Nova relatam que nestes municípios impera o medo. Aos que não obedecem, são feitas ameaças que, muitas vezes, têm como desfecho tragédias.

"Há dois meses eles tomam o nosso ganha pão, passam recolhendo as máquinas e e dizem que quer quiser trabalhar para eles, que trabalhe. Mas ninguém quer trabalhar para o crime, entendemos que de certa forma está interligado", relata uma morada, de identidade preservada.

Outro popular conta que na última semana, as ameaças se intensificaram: "disseram que dentro de Quixadá vão fechar todas as bancas de jogos bet, porque só vai poder a deles. Começaram a ameaçar comerciantes de outras áreas. Cobram cinco mil, dez mil em troca deles ficarem com as portas abertas".

"Está um caos. É ameaça todos os dias. Vivemos a sombra do medo"
Morador de Quixadá


Um policial militar que atua nos municípios citados confirma a existência do problema. O agente, que optou por não ter nome divulgado, destaca a necessidade das vítimas prestarem queixa oficialmente às autoridades, para que as medidas cabíveis sejam tomadas.

"A situacao é verdade, mas não chegou ao nosso conhecimento um fato específico tão gritante. Não digo que as ameaças não existem, mas precisamos saber que os criminosos se aproveitam do momento de fragilidade da sociedade para replicar o que eles querem", disse o oficial.

A reportagem chegou a solicitar entrevista à Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), mas foi respondida por meio de nota. Conforme a Pasta,  todos os casos que chegam ao conhecimento das autoridades policiais são devidamente apurados pela Polícia Civil do Estado do Ceará (PC-CE).

"A SSPDS ressalta que é imprescindível que qualquer tipo de ameaças seja comunicada às autoridades por por meio do Disque Denúncia da SSPDS, pelo número 181, ou registradas em unidades policiais municipais e regionais da PC-CE", disseram.


GUERRA TRAVADA RESULTA EM MORTES

Conforme dados da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), de janeiro a abril de 2022, houve 52 mortes violentas na Área Integrada de Segurança (AIS) 20 e 66 armas de fogo apreendidas. A área abrange as cidades de Senador Pompeu, Pedra Branca, Milhã, Dep. Irapuan Pinheiro, Solonópole, Ibicuiting, Morada Nova, Quixadá, Choró e Ibaretama. 

Ainda no início deste ano, três homens morreram devido a um confronto com policiais do Comando Tático Rural (Cotar). Eles teriam reagido a uma abordagem em Uiraponga, distrito de Morava Nova. Todos eles chegaram a ser apontados como principais suspeitos de uma 'onda de assalto' no distrito.

Em abril, uma tragédia na mesma localidade. Pai e filho foram assassinados a tiros. Conforme a PM, as vítimas estavam em uma residência no distrito de Uiraponga, zona rural, e foram surpreendidos por criminosos armados.

Um dos corpos foi encontrado já do lado de fora da residência, e o outro, dentro. Pai e filho foram identificados apenas como 'Tenório' e 'Caíque', respectivamente. 

Ainda por nota, a Secretaria reforçou que as forças de segurança do Ceará têm focado em ações estratégicas voltadas para a identificação e captura de chefes de grupos criminosos: "Os trabalhos desenvolvidos tem o intuito de reprimir o tráfico de drogas no Estado e, desta forma, descapitalizar organizações criminosas que possuem a comercialização de ilícitos como a principal fonte de renda. Impactando, consequentemente, na redução de crimes em todo o Estado".

 

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