Filho de empresária diz que agressões de advogado eram frequentes

A reportagem apurou que o advogado Aldemir Pessoa Júnior agredia a empresária Jamile de Oliveira Correia com frequência, e na frente do filho dela. Dias depois, ela morreu com um tiro no peito

Escrito por Emanoela Campelo de Melo/Messias Borges/Emerson Rodrigues , seguranca@verdesmares.com.br
Foto: Foto: Camila Lima

O comportamento agressivo de Aldemir Pessoa Júnior começa a ser revelado. A reportagem apurou que o advogado agredia com frequência a empresária Jamile de Oliveira Correia. Na noite de ontem, o filho de Jamile, um adolescente de 14 anos, prestou depoimento à Polícia Civil, na sede do 2º Distrito Policial (Aldeota). As falas do jovem revelaram que a mãe vinha sofrendo há meses, sendo vítima das agressões por parte do namorado.

Em um desses episódios, o adolescente presenciou uma discussão entre Jamile e Aldemir, em um sítio. O jovem afirmou às autoridades que a mãe teve o cabelo puxado diversas vezes e recebeu ofensas por parte do companheiro. Em uma outra ocasião, o jovem teria ficado com medo de Aldemir, que dirigia em alta velocidade e discutia com a mãe e ele decidiu pular do carro.

No dia do disparo fatal, 29 de agosto de 2019, o casal havia protagonizado mais uma discussão e Jamile entrado desesperada no apartamento da família. Outro episódio que Jamile esteve como vítima foi em um restaurante, dias antes da morte da mulher. A agressão aconteceu dentro de um restaurante, no bairro Varjota, na Capital, durante o último mês de agosto. Funcionários do estabelecimento se incomodaram com a violência, tentaram intervir e discutiram com o advogado.

Uma testemunha do episódio já foi chamada pela Polícia Civil para prestar depoimento na investigação da morte de Jamile e confirmou a agressão. Outra amiga da mulher afirmou à reportagem que o casal vivia um relacionamento abusivo e que o homem tinha interesses financeiros sobre a empresária. "A única coisa que ele queria dela era o patrimônio", disse.

A morte de Jamile, antes considerada como suicídio, teve uma reviravolta na investigação da Polícia Civil e começou a ser tratada como feminicídio, com o ex-companheiro da vítima como suspeito.

Ainda ontem, dois médicos que atenderam a empresária quando ela foi levada ao Instituto Doutor José Frota (IJF), prestaram depoimentos no 2º DP. Um dos médicos relatou à delegada que, enquanto recebia os primeiros socorros, Jamile disse que "foi um tiro que dei em mim". Aldemir estava no local quando ela teria falado essa frase. O médico não informou se outra pessoa ouviu a mesma coisa.

Já o outro médico disse ter estranhado a trajetória do ferimento por arma de fogo, mais compatível com um homicídio. Ele também afirmou que Jamile estava consciente, mas não falou nada sobre o que havia ocorrido.

Revelação

Um novo vídeo, obtido pelo Sistema Verdes Mares ontem, mostra outra agressão cometida por Aldemir à namorada, desta vez na noite de 29 de agosto deste ano, minutos antes de a mulher sofrer um tiro no peito. Uma câmera de segurança do condomínio de luxo onde o casal morava, localizado na Rua Joaquim Nabuco, bairro Meireles, filmou o homem agredindo a mulher, dentro de um veículo.

Mais de 20 minutos depois, outra câmera capta Jamile apressada pelo corredor para entrar no elevador de serviço e subir para o seu apartamento, que fica no 18º andar. O homem vem atrás, mas não chega a tempo de entrar no elevador junto com ela e tem que procurar outro meio para subir. Outro vídeo, da madrugada do dia 30, já mostra a mulher baleada sendo arrastada pelo próprio filho, de apenas 14 anos, até o elevador social.

Reviravolta

Aldemir Júnior chega ao elevador depois e leva a mulher ao Instituto Doutor José Frota (IJF), no Centro, onde fornece a informação que ela tentou suicídio. Entretanto, o homem a deixa sozinha no hospital e volta ao apartamento para limpá-lo e apropriar-se do aparelho celular da companheira para mandar mensagens pelo aplicativo WhatsApp como se fosse ela, conforme a investigação.

A Polícia e a própria família de Jamile Correia não foram avisados pelo advogado sobre a suposta tentativa da mulher de tirar a própria vida - e os parentes foram encontrá-la no hospital apenas na noite de 30 de agosto. Às 7h do dia seguinte, ela morreu. As atitudes de Aldemir levantaram a suspeita contra ele.

Ao ser interrogado, Aldemir contou que ele e o adolescente tentaram evitar o tiro fatal, mas a versão também não convenceu. A reportagem apurou que o laudo cadavérico aponta que a trajetória da bala que atingiu o corpo de Jamile não condiz com o relato do suspeito. Na última sexta-feira (13), o advogado passou a ser considerado pela investigação como suspeito de ser o autor do crime. A arma, uma pistola calibre 380, utilizada no episódio e que pertence a Aldemir foi apreendida.

Os delegados Socorro Portela e Felipe Porto, responsáveis pela investigação, não quiseram dar entrevista nem fornecer detalhes do inquérito. A Polícia Civil do Ceará informou, em nota, que o caso está em andamento e não vai se pronunciar para não comprometer o trabalho policial.

O suspeito e o advogado dele foram procurados pela reportagem, durante o dia de ontem, para esclarecer as novas denúncias, mas ambos não atenderam as ligações. Na última segunda-feira (16), Aldemir garantiu que não cometeu o crime: "Eu não a matei. O filho dela estava comigo no apartamento. Quer uma prova maior do que esta? Tenho minha consciência tranquila". Os advogados de Aldemir Pessoa foram procurados e informaram que pretendem se posicionar posteriormente.

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