'É uma luta que nunca vai ter fim': mães do Curió fazem ato na véspera de decisão do 3º julgamento

Neste júri, oito policiais militares são julgados por 11 homicídios, três tentativas de homicídio e quatro crimes de tortura

Escrito por Gabriela Custódio e Beatriz Irineu ,
Ato pelas vítimas da chacina do curió
Legenda: A força para suportar os 8 anos de espera pelo julgamento vem da união e do amor pelos filhos, de acordo com Maria Suderly, mãe de Jardel Lima dos Santos
Foto: Beatriz Irineu

Na espera pela decisão do terceiro julgamento do episódio conhecido como ‘Chacina do Curió’, integrantes do coletivo Mães e Familiares do Curió fazem vigília em frente ao Fórum Clóvis Beviláqua desde a tarde deste sábado (16). As mulheres aguardam a decisão do júri, que está no quinto dia.

A expectativa é de que o resultado seja divulgado até a madrugada deste domingo (17). Neste júri, oito policiais militares são julgados por 11 homicídios, três tentativas de homicídio e quatro crimes de tortura, ocorridos entre os dias 11 e 12 de novembro de 2015, na Grande Messejana, em Fortaleza.

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No primeiro julgamento, em junho deste ano, quatro agentes foram condenados a mais de 1.100 anos de prisão, se somadas as penas. No segundo, oito militares foram absolvidos pelo júri popular. Neste terceiro julgamento, são réus:

  • Antônio Carlos Marçal
  • Clenio Silva da Costa
  • José Wagner Silva de Souza
  • José Oliveira do Nascimento
  • Antônio Flauber de Melo Brazil
  • Francisco Helder de Souza Filho
  • Maria Barbara Moreira
  • Igor Bethoven Sousa de Oliveira

Maria Suderly de Lima, mãe de Jardel Lima dos Santos, morto aos 17 anos, afirmou que, para mães e familiares das vítimas e sobreviventes da chacina, a busca por justiça é "uma luta que nunca vai ter fim".

Nós não temos comemoração nenhuma, pelo contrário, seja por absolvição ou por condenação. Nós estamos aqui hoje para dignificar e para limpar o nome dos nossos filhos, que até hoje, infelizmente, não foram limpos.
Maria Suderly de Lima
mãe de Jardel Lima dos Santos, morto aos 17 anos

A força para suportar os 8 anos de espera pelo julgamento vem da união e do amor pelos filhos, de acordo com Maria Suderly. "O nosso psicológico é trabalhado 24 horas, porque é um filme, que infelizmente, independente de júri ou não, nós vivemos essa realidade. E esse filme passa 24 horas na nossa cabeça", afirma

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Edna Souza, mãe de Alef Souza, destaca que a luta do coletivo é "justa": "a nossa luta é por igualdade, para que os jovens da periferia tenham vida". Ela relata expectativa de conseguir justiça. "Nós não podemos continuar pagando a bala que mata os nossos filhos", afirma.

Mãe de dois sobreviventes e tia de Alef Souza, Silvia Helena Pereira de Lima diz que a absolvição dos oito militares no segundo julgamento aumentou a vontade de buscar por justiça. Para ela, a inocência das vítimas da Chacina do Curió apenas será "coroada" quando todos os julgamentos forem concluídos e os assassinos forem condenados.

Enquanto não houver as condenações, nós ainda estaremos nas buscas. E essas buscas não é só por eles. Nós sabemos o quanto acontecem, todos os dias, esses mesmos assassinatos nas periferias de Fortaleza e de todo o Brasil, e é por essas famílias também que nós estamos nessa luta.
Silvia Helena Pereira de Lima
Mãe de dois sobreviventes e tia de Alef Souza

A defensora pública geral Elizabeth Chagas afirma que a expectativa é de que haja uma responsabilização efetiva dos réus e que ela represente uma "sinalização" para que outros casos como esse não ocorram com outras mães e familiares. "Já vão três julgamentos de muita memória e muita dor", lamenta.

Em 2024, outros julgamentos vão ser realizados, e Elizabeth Chagas aponta que a Defensoria Pública do Estado do Ceará estará ao lado das mães durante "todo o tempo". "Nós vamos continuar apoiando, estando junto dessas mães até o fim, não só nos julgamentos, também no apoio psicossocial, na parte administrativa, na parte cível", afirma.

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PRIMEIRO JULGAMENTO

Conforme noticiou o Diário do Nordeste, quatro policiais militares foram condenados a mais de 1.100 anos de prisão, se somadas as penas, por participação na Chacina do Curió, em junho deste ano, após mais de 60 horas de julgamento. O Colegiado de Juízes decretou a perda do cargo público dos réus, que já recorreram da sentença. 

Ideraldo Amâncio, Wellington Veras Chaves e Marcus Vinícius Sousa da Costa saíram do 1º Salão do Júri do Fórum Clóvis Beviláqua presos e foram levados ao Presídio Militar. Já Antônio José de Abreu Vidal Filho foi detido nos Estados Unidos, em agosto último.

SEGUNDO JULGAMENTO

Após quase 100 horas de julgamento, oito PMs foram absolvidos da acusação de participar da Chacina do Curió, na última quarta-feira (6). São eles:

  • Gerson Vitoriano Carvalho
  • Thiago Veríssimo Andrade Batista de Carvalho
  • Josiel Silveira Gomes
  • Thiago Aurélio de Souza Augusto
  • Ronaldo da Silva Lima
  • José Haroldo Uchoa Gomes
  • Gaudioso Menezes de Mattos Brito Goes
  • Francinildo José da Silva Nascimento

O Colegiado de Juízes revogou as medidas cautelares e de restrições de direito dos militares. Assim, os agentes voltarão a estar aptos a atuar no policiamento ostensivo e terão direito a obter promoção retroativa na Corporação. O Ministério Público do Ceará (MPCE) irá recorrer da absolvição ao Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE).

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