Cinco acusados de matar torcedor que voltava de jogo de futebol do Ceará vão a júri popular

O adolescente de 15 anos de idade teria sido morto por torcedores de um time rival. O crime aconteceu com requintes de crueldade

Escrito por Emanoela Campelo de Melo , emanoela.campelo@svm.com.br
vitima othoniel
Legenda: "Othoniel tinha apenas 15 anos quando foi espancado, até a morte, pelos réus, pelo simples fato de vestir uma camisa de time de futebol", diz o Ministério Público do Ceará (MPCE).
Foto: Arquivo Pessoal

Os acusados pela morte do adolescente Othoniel Sousa Fialho, 15, devem ir a júri popular por homicídio triplamente qualificado. A Justiça pronunciou quatro homens e uma mulher, réus pelo crime que vitimou o menino, enquanto ele voltava de um jogo do Ceará, no ano de 2019. A informação é que o crime foi motivado por uma rixa entre torcidas organizadas rivais. Os réus aguardam a marcação da data do julgamento, em liberdade.

Francisco Flávio de Aguiar Júnior, o 'Roliço'; Francisco Everton de Sousa, 'Barbudo'; Rawel Felipe Carneiro; Rosinaldo Ferreira; e Shirley Maria Coelho Abreu também são acusados por uma tentativa de homicídio. Conforme a denúncia, o grupo agrediu as vítimas, porque elas vestiam camisa do Ceará. Um dos jovens sobreviveu. Othoniel foi brutalmente assassinado com chutes, socos, golpes de barras de ferro e pauladas, no pós-jogo sediado em 24 de novembro de 2019, na Arena Castelão.

"Othoniel tinha apenas 15 anos quando foi espancado, até a morte, pelos réus, pelo simples fato de vestir uma camisa de time de futebol", diz o Ministério Público do Ceará (MPCE). O menino chegou a ser socorrido e ficou hospitalizado durante dois dias, mas não resistiu aos ferimentos.

As defesas dos denunciados chegaram a pedir pela impronúncia. Todos eles permaneceram soltos durante o trâmite processual. O juiz da 3ª Vara do Júri, alega que os acusados "não impuseram qualquer empecilho ao andamento do feito, além de não haver indícios de que possam se furtar à aplicação da lei penal, já que possuem endereço informado nos autos".

As defesas dos acusados entraram com recurso pedindo a impronuncia.

Conforme os advogados que representam Rawel Felipe, Shirley Maria e Francisco Flávio, há ausência de prova suficiente para a condenação. Já o advogado de Rosinaldo Ferreira, Roberto Castelo, acrescentou se manifestando nos autos que "os fatos não ocorreram como narra a peça delatória" e que o denunciado "não estava no local do crime"

Com base na decisão proferida na 3ª Vara do Júri, Francisco Flávio, Francisco Everton, Rawel Felipe e Rosinaldo ainda devem ser julgados por organização criminosa. Um outro acusado, Gilberto Leandro da Silva Fernandes, teve extinta a punibilidade, já que morreu durante a instrução criminal.

SUSPEITA DE MOTIVO TORPE

Os primeiros detidos sob suspeita do assassinato foram Francisco Flávio de Aguiar Júnior e Shirley Maria Coelho Abreu. Na época, o delegado Marcelo Veiga afirmou que a dupla era vinculada à Torcida Uniformizada do Fortaleza (TUF). A Justiça expediu mandados de busca e apreensão em locais ligados aos suspeitos.

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Um deles foi cumprido na sede da TUF, no bairro Benfica, em Fortaleza, onde os policiais apreenderam a quantia de R$ 5 mil e "objetos que não sabemos identificar ainda se são sinalizadores ou explosivos", segundo investigador.

A TUF chegou a afirmar que a quantia de dinheiro apreendida é proveniente da venda de ingressos para o jogo e os artefatos se tratavam de fogos de artifício "de uso exclusivo nas coreografias que são realizadas dentro da Arena Castelão". A Torcida Organizada não se tornou foco da investigação.

O PRIMEIRO CRIME

Testemunhas dos crimes foram essenciais para elucidar os ataques. Primeiro, um jovem foi vítima de agressão, enquanto estava na companhia de um primo e amigos. O sobrevivente foi abordado por membros de um veículo Fiat Uno Amarelo e outros dois carros, de modelos não identificados. Neles estariam Francisco Flávio, Francisco Everton e Rosivaldo.

Francisco Everton ordenou à vítima e às testemunhas “Não corre ninguém, nós queremos só as camisas”, fazendo clara alusão à camisa do time do Ceará que as vítimas vestiam, conforme o inquérito.

O jovem teria sido espancado, e o primo conseguido se esconder em casa. A vítima só parou de ser agredida, quanto já estava desacordada, "tendo esta sobrevivido somente por ter sido levada prontamente ao hospital por parente, local onde necessitou, inclusive, ficar internado".

Testemunhas identificaram Shirley como a mulher que dirigiu um dos carros envolvidos na ação.

MORTE DE OTHONIEL

Othoniel e mais três amigos voltavam do jogo Ceará x São Paulo, quando desceram de um ônibus fretado, na Rua Cônego de Castro. O grupo caminhava e foi abordado por um veículo Gol. Dois homens desceram em posse de um pedaço de ferro, dentre estes o réu Felipe, fato que dispersou os quatro torcedores, tendo Othoniel fugido em direção oposta a dos demais".

O adolescente de 15 anos foi interceptado por outro carro, identificado posteriormente como o veículo Fiat Uno, de cor amarelo. Segundo a investigação, o menino foi levado até a Rua Paroara, no bairro São Bento, onde sofreu as agressões.

A família do torcedor soube do caso minutos depois, através de uma ligação da Polícia Militar acionada para o local. O jovem foi socorrido por uma ambulância do Samu e levado para o Instituto Doutor José Frota (IJF). Dois dias depois, foi constatada a morte em decorrência de um traumatismo craniano, que resultou em um coágulo no cérebro da vítima. Os órgãos de Othoniel foram doados pelos parentes.

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