Briga entre cafetinas: mulher trans e companheiro são condenados por matarem travesti em Fortaleza

Casal foi sentenciado a uma pena total de 32 anos de prisão. A defesa dos réus irá recorrer da condenação

Escrito por Messias Borges , messias.borges@svm.com.br
Samylla Marry Windson foi baleada na Avenida Beira Mar e socorrida a uma unidade hospitalar, mas não resistiu aos ferimentos
Legenda: Samylla Marry Windson foi baleada na Avenida Beira Mar e socorrida a uma unidade hospitalar, mas não resistiu aos ferimentos
Foto: Reprodução

Uma mulher trans e o companheiro foram condenados a um total de 32 anos de prisão (somadas as penas), pela Justiça Estadual, por matarem a travesti Samylla Marry Windson, de 25 anos, na Avenida Beira Mar, em Fortaleza, em novembro de 2020. Segundo a acusação, o crime foi motivado por uma briga entre cafetinas (mulheres que coordenam a prostituição). A defesa dos réus irá recorrer da condenação.

O julgamento foi realizado pela 5ª Vara do Júri de Fortaleza, entre as últimas quinta (6) e sexta-feira (7). O júri popular formou maioria para condenar a mulher trans identificada como *Priscila, de 32 anos, e Michael Jonatan Barbosa de Sousa, 27, por homicídio duplamente qualificado (por motivo torpe e recurso que dificultou a defesa da vítima). 

O juiz Raimundo Lucena Neto definiu a pena de 16 anos e 4 meses de reclusão para cada réu e manteve o decreto de prisão preventiva para ambos. Priscila foi detida no último dia 22 de maio, em Belo Horizonte (Minas Gerais). Já Michael Jonatan está foragido e é procurado pelas autoridades.

A defesa dos réus, representada pelos advogados Abdias Carvalho e Márcio Oliveira, lamentou a condenação dos clientes, a qual considerou "injusta". "O julgamento ocorreu em total desacordo com as provas contidas nos autos, contrariando todas as evidências apresentadas", indicou.

Irresignada, a defesa anuncia que irá recorrer desta decisão. E ainda, levará ao conhecimento do Tribunal de Justiça do Ceará as várias questões de ordem processual (nulidades) que surgiram ao longo do julgamento, algumas de natureza absoluta, o que, inevitavelmente, resultaria na anulação do julgamento. Acreditamos na justiça cearense e confiamos que ela irá corrigir os rumos desta ação, garantindo um julgamento justo e de acordo com a lei."
Abdias Carvalho e Márcio Oliveira
Advogados de defesa

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Como aconteceu o crime

Priscila e Michael Jonatan Barbosa de Sousa foram acusados pelo Ministério Público do Ceará (MPCE) por participarem do assassinato a tiros de Samylla Marry Windson, na Avenida Beira Mar, bairro Meireles, em Fortaleza, na madrugada de 1º de novembro de 2020.

Conforme a denúncia apresentada pelo MPCE à Justiça no dia 17 de dezembro daquele ano, Samylla se encontrava no calçadão da Beira Mar com dois amigos, quando foi surpreendida pela aproximação de um carro Chevrolet Prisma, que era dirigido por Priscila. Michael saiu do automóvel armado, se direcionou ao grupo e efetuou os disparos contra a vítima.

No dia seguinte ao crime, o casal chegou a ser abordado por uma composição da Polícia Militar do Ceará (PMCE) no salão de embarque do Aeroporto de Fortaleza e levado a uma delegacia da Polícia Civil do Ceará (PCCE), por suspeita de participar do crime. Entretanto, o delegado não viu circunstâncias para justificar uma prisão em flagrante e liberou os suspeitos.

Com o andamento da investigação, a Justiça Estadual expediu um mandado de prisão preventiva contra Priscila, que foi cumprido apenas no último dia 22 de maio (poucos dias antes do julgamento), em Belo Horizonte, onde ela morava. Já Michael Jonatan continua foragido.

Na denúncia, o MPCE aponta que o homicídio foi cometido por motivo torpe, "consistente na vingança, por questões que envolvem atividades de prostituição". Segundo as investigações, Samylla era cafetina (uma espécie de coordenadora da prostituição) e teria brigado com duas travestis que trabalhavam para Priscila, que também era cafetina. A mulher condenada à prisão teria ameaçado de morte a vítima, antes do cometimento do crime.

*Na sentença, o juiz informa que a condenada Priscila é civilmente registrada como Diógenes Ferreira Sousa Santos

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