Acusado por Chacina das Cajazeiras se envolve em briga com mais de 200 detentos em presídio cearense
Diretor do presídio abriu um Procedimento Administrativo Disciplinar contra o detento, por participação na confusão
Uma briga generalizada, entre duas facções criminosas, com mais de 200 presos envolvidos e 31 feridos, ocorreu em um presídio cearense. Um dos acusados pela Chacina das Cajazeiras (em que 14 pessoas foram mortas em Fortaleza) irá responder a um Procedimento Administrativo Disciplinar (PAD) no Sistema Penitenciário, por participação na confusão, ocorrida em dezembro do ano passado.
A 2ª Vara do Júri de Fortaleza, da Justiça Estadual, abriu vistas ao Ministério Público do Ceará (MPCE), no último dia 3 de abril, para se manifestar sobre a instauração do PAD contra Ruan Dantas da Silva, conhecido como 'RD'.
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Conforme documentos obtidos pelo Diário do Nordeste, o Procedimento Administrativo foi aberto pelo diretor da Unidade Prisional Professor José Sobreira de Amorim (UP-Sobreira Amorim), localizada em Itaitinga, em razão de Ruan Dantas "incitar ou participar de movimento para subverter a ordem ou a disciplina; desobediência ao servidor e respeito a qualquer pessoacom quem deva relacionar-se, comportamento indisciplinado, desrespeito no trato com osdemais condenado e participar de motim de presos".
A briga ocorreu por volta de 10h do dia 5 de dezembro de 2022, quando policiais penais realizavam uma vistoria em celas da Unidade Prisional e os detentos tomavam banho de sol. "De repente, os internos começaram uma briga generalizada envolvendo mais de 200 internos e com agressões múltiplas", narrou o diretor, na Portaria que instaurou o PAD.
Segundo o registro, os detentos seriam integrantes de duas facções cearenses. Policiais penais da Unidade precisaram intervir com disparos de calibre 12. O grupo que estava em menor quantidade ficou encurralado em uma grade. Outros agentes foram acionados para dar apoio, mas a confusão continuou. Até que o diretor da UP-Sobreira Amorim lançou uma granada de efeito moral, o que finalmente interrompeu a briga.
Dois internos tiveram ferimentos mais graves e precisaram ser levados ao Instituto Doutor José Frota (IJF), no Centro de Fortaleza. Outros 29 presos (dos quais 22 seriam pertencentes a uma facção e 7, ao outro grupo criminoso) também foram lesionados, mas receberam atendimento médico rápido e foram encaminhados a uma delegacia da Polícia Civil do Ceará (PC-CE), para prestarem esclarecimentos, e à Coordenadoria de Medicina Legal (Comel), para Exame de Corpo de Delito. Na Delegacia Municipal de Horizonte, o caso foi registrado como Crime Contra a Administração Pública.
Chacina das Cajazeiras deixou 14 mortos
No dia 27 de janeiro de 2018, membros de uma facção criminosa fundada no Ceará colocaram em ação um plano minuciosamente pensado para aterrorizar e mostrar aos rivais quem mandava no território: "Aqui é tudo três", gritaram ao invadir o Forró do Gago, efetuando disparos de arma de fogo, indiscriminadamente.
O grupo chegou ao Forró do Gago em pelo menos dois veículos determinado a acabar com a festa e com vidas. O objetivo era atacar integrantes de uma facção carioca que dominava a região em volta da casa de shows - e conquistar mais um território em Fortaleza para o tráfico de drogas. 14 pessoas foram mortas a tiros - das quais 11 sequer tinham antecedentes criminais.
Foram mortos: Maíra Santos da Silva (de 15 anos); José Jefferson de Souza Ferreira (21); Raquel Martins Neves (22); Luana Ramos Silva (22); Wesley Brendo Santos Nascimento (24); Natanael Abreu da Silva (25); Antônio Gilson Ribeiro Xavier (31); Renata Nunes de Sousa (32); Mariza Mara Nascimento da Silva (37); Raimundo da Cunha Dias (48); Antônio José Dias de Oliveira (55); Maria Tatiana da Costa Ferreira (17); Brenda Oliveira de Menezes (19); Edneusa Pereira de Albuquerque (38).
As investigações policiais levaram à prisão e à acusação de 14 homens. Três deles já foram inocentados, em razão de a Justiça decidir pela impronúncia dos mesmos (isto é, não levá-los a julgamento): Deijair de Souza Silva, Francisco de Assis Fernandes da Silva, conhecido como 'Barrinha', e João Paulo Félix Nogueira.
Seguem a responder pelo processo, que tramita há 5 anos na Justiça: Noé de Paula Moreira, Misael de Paula Moreira, Auricélio Sousa Freitas, Zaqueu Oliveira da Silva, Ednardo dos Santos Lima, Fernando Alves de Santana, Francisco Kelson Ferreira do Nascimento, Ruan Dantas da Silva, Joel Anastácio de Freitas, Victor Matos de Freitas e Ayalla Duarte Cavalcante.
Ruan Dantas, o 'RD', é apontado pelos investigadores como um dos executores da Chacina. Ele responde a pelo menos outros dois processos por homicídios e pelo crime de integrar organização criminosa, na Justiça Estadual.