Acusado de matar homem por furto de relógio com golpes de facão e jogar corpo em sofá vai a júri
O MP afirma que o crime aconteceu por motivo fútil. O acusado nunca foi preso após o assassinato
A Justiça decidiu levar ao Tribunal do Júri o acusado Anderson Peixoto da Silva, pela morte de Jefferson Loran da Silva Lima. A vítima foi assassinada a golpes de facão, no bairro Planalto Ayrton Senna, em Fortaleza, no ano de 2017. Anderson diz ter agredido Jefferson, mas que não foi o responsável por consumar a morte.
Conforme decisão de pronúncia da juíza da 5ª Vara do Júri, proferida no último dia 4 de julho, a qual a reportagem teve acesso, a magistrada afirma está "convencida da existência do crime e dos indícios suficientes de que o réu, em tese, foi o autor".
A defesa do réu disse ao Diário do Nordeste que irá "interpor recurso contra a sentença de pronúncia, considerando que a denúncia falha em identificar o verdadeiro autor do crime". Ainda não há data para o julgamento acontecer.
O Ministério Público do Ceará (MPCE) expôs na denúncia que o crime aconteceu por motivo fútil, "eis que acreditava que a vítima havia lhe furtado um relógio" e que "o acusado utilizou recurso que dificultou a defesa da vítima, uma vez que foi atraída até o local e foi atacada por mais de uma pessoa, em atitude semelhante à emboscada".
Veja também
Testemunhas contaram às autoridades que encontraram o corpo de Jefferson Loran dentro de um sofá, abandonado na rua. Três homens teriam carregado o sofá deixado em uma calçada e quando a Polícia chegou saíram correndo do local.
O pai da vítima acredita que o assassinato do filho foi um crime premeditado
O QUE DIZ A DENÚNCIA
O Diário do Nordeste também teve acesso à denúncia, que foi oferecida pelo MPCE quase seis anos após o crime. Segundo a acusação, Anderson convidou a vítima e outros dois homens para consumirem drogas na casa dele.
"Ao chegarem na casa, Anderson trancou a porta, de forma a impossibilitar a saída dos presentes. De forma inesperada, o acusado sacou um facão, que portava, e começou a ameaçar os indivíduos com o instrumento, afirmando que um relógio seu havia sido furtado e que ele sabia quem tinha sido o ladrão. Assim, se o culpado não confessasse, Anderson mataria o ladrão"
Os outros dois teriam negado ter furtado o relógio. Então, o réu afirmou que o ladrão era Jefferson, começando a agredi-lo com socos e pontapés e depois golpeado a vítima com um facão.
Um familiar do acusado teria ouvido o barulho e entrado no quarto. Foi quando os outros dois homens, identificados como Gabriel Guedes da Silva, o 'Billy' e 'Cabeça de Crânio' fugiram do local.
"Ao saírem correndo da casa, foram vistos por uma viatura da polícia militar – a equipe, estranhando os fatos, se dirigiu à residência da qual os indivíduos tinham saído e encontraram o cadáver de Jefferson", conforme a acusação.
FORAGIDO
Anderson nunca foi localizado pelas autoridades desde o crime. No entanto, ele respondeu à acusação por meio da defesa e disse que "teria agredido a vítima com uma garrafa de bebida, mas não teria participado da consumação da morte de Anderson".
Ele afirma ainda que "estava bêbado, alcoolizado, que no momento lhe veio a fúria, que estava com uma garrafa de bebida na mão e desferiu contra Jefferson. Em seguida iniciou a confusão. Que todos começaram a agredir Jefferson, inclusive ele", mas que um outro homem, identificado como Gabriel, pegou o facão e começou a golpear a vítima.
O réu disse ter ficado traumatizado com a situação e saiu, tendo Gabriel ficado na casa dele ainda desferindo golpes. Consta nos autos que Gabriel morreu em 2021.
Nas alegações finais que a reportagem teve acesso, a defesa do réu disse ainda que Gabriel é quem conhecia a vítima e teria levado ele para a casa de Jefferson.
"Relatou em sede de audiência que, ao abrir a porta, Gabriel o chamou para usar maconha, então o mandou entrar e encostar a porta, pois o mesmo não usava drogas ou bebia fora de casa; que estava com o copo na mão, e o mesmo já estava vazio e foi ao quarto encher o copo, momento em que viu Gabriel empurrando Jefferson e o chamando de “pirangueiro”, “safado”, “foi esse pirangueiro que roubou seu relógio”, e continuou o chamando de “pirangueiro, safado, quem rouba na favela tem que morrer”. Momento que Anderson ouviu aquilo, bêbado, já arremessou a garrafa de whisky em sentido a Jefferson, e ali começou uma briga entre os três", segundo a defesa.