A “Tropa do Lampião” e a guerra do tráfico no Rio envolvem criminosos que migraram do Ceará

A investigação que começou com a Operação Guilhotina, da Polícia Civil do Ceará, e já apreendeu quase duas toneladas de droga, ajudou na localização do grupo no estado fluminense e na morte de quatro deles

Escrito por Emerson Rodrigues , emerson.rodrigues@svm.com.br
arma apreendida
Legenda: Na última operação, os policiais apreenderam um fuzil com o cearense, que acabou morto no tiroteio

A migração de assaltantes de bancos e traficantes do Ceará para o Rio de Janeiro é o pivô de uma disputa sangrenta entre criminosos no Complexo das Almas, comunidade localizada no município de São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio, e resultou na intensificação das operações policiais na região. O balanço parcial aponta para a morte de quatro integrantes de um bando conhecido como a “Tropa de Lampião” ou “Bonde do Fantasma”, sendo três deles cearenses, o último morto na última quinta-feira (8), e no racha entre integrantes de uma das maiores facções do País.

Há pelo menos um ano, os integrantes da organização foram se refugiar no Rio de Janeiro após o cerco da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco) contra eles no Ceará. Eles receberam apoio de lideranças da facção carioca e pretendiam se aliar com criminosos locais para tomar territórios de grupos rivais. Receberam carregamentos de armas de grosso calibre e partiram para o ataque.

Os confrontos chamaram a atenção da Polícia, o que não agradou a todos os chefes do tráfico e gerou um “racha” no grupo. Além do tráfico, eles passaram a fazer assaltos na região.

A reportagem apurou que o chefe da célula da facção no Ceará e que deu nome ao grupo, Max Miliano Machado da Silva, 33, o ‘Pio’, ‘Gordão’ ou ‘Lampião’, saiu do Rio com medo de ser preso, deixou os comparsas por lá e foi para o Norte do País.

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Max é ex-membro de uma facção amazonense, mas se transferiu para a organização criminosa carioca e virou o principal importador de drogas do grupo no Ceará. Ele e Roberto Rodrigo Di Jackson Oliveira Freitas, o ‘Fantasma’, foram presos durante a operação Guilhotina, em fevereiro deste ano. 

Os dois estavam em um apartamento de luxo em Belém, no Pará. Na operação, os policiais civis apreenderam mais de 1,7 tonelada de drogas, o equivalente a R$ 70 milhões.

Legenda: 633 kg de entorpecentes (entre cocaína e crack) foram apreendidos pelas polícias Civil do Ceará e Pará neste mês
Foto: Reprodução

Já os seus comandados permaneceram em São Gonçalo fazendo ações cinematográficas como arrastões nas rodovias do Rio e longos tiroteios com grupos rivais e com a Polícia. 

Fim da Tropa do Lampião?

No entanto, com as últimas ações e mortes dos integrantes da facção, a “Tropa do Lampião”, uma alusão ao cangaceiro Virgulino Ferreira da Silva, parece estar com os dias contados. A mais recente incursão policial do Rio de Janeiro ocorreu na manhã de quinta-feira (8), na BR-101, no bairro Itaúna, em São Gonçalo, e culminou na morte do cearense Lemoel da Silva Santos, o ‘Panda’.

Lemoel
Legenda: Lemoel da Silva Santos usava documento falso no Rio de Janeiro. Ele havia fugido do Ceará em 2020 após quebrar tornozeleira eletrônica

O homem, que já havia sido preso no Ceará por ameaçar nas redes sociais o então secretário da Segurança André Costa, tombou morto com um fuzil em um tiroteio com policiais militares do Rio de Janeiro. Lemoel usava documento falso no Rio de Janeiro e também era investigado pela Draco, da Polícia Civil do Ceará (PCCE) e fazia parte da ‘Tropa do Lampião’. No Ceará, ‘Panda’ respondia por crimes como homicídio, assalto, porte ilegal de arma e associação criminosa.

Ele estava em prisão domiciliar em Fortaleza desde março do ano passado com monitoramento eletrônico, mas quebrou a vigilância em junho. A partir daí passou a ser procurado pela Polícia e fugiu para o Rio de Janeiro com o apoio dos comparsas da facção até ser morto na quinta-feira (8).

Outras mortes

Além de ‘Panda’, na terça-feira (6), durante uma operação realizada no Complexo do Salgueiro, dois cearenses foram localizados e mortos após o compartilhamento de informações repassadas pela Polícia Civil do Ceará para a Polícia Civil do Rio de Janeiro (PCRJ). Os homens foram identificados como José Erasmo de Sousa Filho, 31, conhecido como ‘Bigode’ e Carlos Menezes Bezerra, 40, o ‘Carlinhos’. 

Os dois eram alvos de investigações no Ceará. Erasmo atuava no bairro Vicente Pinzón, em Fortaleza, onde diversos homicídios são atribuídos a ele. Devido à posição de destaque alcançada na facção, ele se deslocou para o Rio de Janeiro, onde passou a integrar outro coletivo ilícito.

O criminoso, inclusive, é apontado como autor de um vídeo com exibição de grande quantidade de armas, o qual circulou pelas redes sociais. Na gravação, feita já em sua estada no Complexo do Salgueiro, Erasmo exalta o grupo criminoso e faz ameaças a outras pessoas.

 Também morreu no mesmo tiroteio o carioca Dalton Luiz Vieira Santana, o ‘DT’, investigado por tráfico de drogas e também por matar e esquartejar a ex-namorada dele, Bianca Lourenço Silva, 24.  Durante a operação  foram apreendidos fuzis, pistolas, carregadores, munições, drogas e trajes camuflados. 

A Polícia Civil do Ceará foi procurada para comentar as ações do grupo e informou, em nota, que o suspeito morto em confronto com a Polícia do Rio de Janeiro, era investigado pela Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas. O homem era alvo da operação Guilhotina e fazia parte do mesmo grupo criminoso que outros dois foragidos da Justiça do Ceará também foram mortos em confronto no Estado do Rio de Janeiro, no último dia 6.

Como denunciar

A Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco) recebe denúncias da população para investigação de ações criminosas. Os cidadãos podem entrar em contato por meio do WhatsApp (85) 98969-0182 e enviar mensagens de texto, fotos, áudios e vídeos que auxiliem os trabalhos policiais.

O repasse de informações também pode ser feito pelo Disque-Denúncia da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), cujo número é o 181. As autoridades garantem sigilo e anonimato.

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