“Seu Lunga” conquista popularidade com seu jeito zangado de ser

Escrito por Redação ,
Legenda:
Foto: Francisco Demontier

Poucos sabem quem é Joaquim Santos Rodrigues. Porém, “Seu Lunga” é conhecido de todos. Uma fama que não lhe agrada, inclusive, já teria parado na Justiça mediante ação promovida pelo comerciante contra o poeta e xilógrafo, Abraão Batista (ver matéria abaixo). Quem o conhece de perto não vê a figura de um homem zangado e é por isso que Seu Lunga refuta as ignorância atribuída a ele. Pelo contrário, é calmo, paciente e de poucas palavras.

“Tem gente que diz que no meu comércio não se pode pedir menos. Todo mundo sabe que nunca tive dois preços. Se a peça pode ser vendida por cinco não vou pedir seis reais prá depois baixar”, explica Seu Lunga, mostrando seu lado prático da vida, como prefere considerar. Ele diz que costuma até apontar ao cliente outras casas comerciais que vendem a mesma peça, mas que pede que volte se não encontrar preço melhor. “Com pouco tempo, tá o freguês de novo na minha porta”, declara, num tom publicitário.

Aos 75 anos de idade, ele diz que a saúde é “média”, não fosse a “fraqueza” que sente nas pernas. Porém, já fez exames e está tomando medicamentos, segundo afirma. O vício do cigarro contraído aos 17 anos, há bastante tempo ficou pelo caminho. “Um dia tava abaixado fazendo um serviço e levantei tonto vendo uns cavalinhos voando na minha frente”, recorda Seu Lunga, acrescentando que jogou o cigarro fora e “nunca mais os cavalos apareceram”. Para ele, “beber, jogar e fumar é negócio sem futuro”.

Natural de Juazeiro do Norte, ele ostenta uma rotina de casa para o trabalho e vice-versa, onde se alimenta, vê televisão até o término do Jornal Nacional, da Rede Globo, e vai dormir. O seu transporte é uma velha bicicleta que pedala com desenvoltura por entre os carros até sua residência na Praça do Memorial Padre Cícero, a cinco quarteirões da sucataria. A “picape” americana marca Willis, do ano de 1951, vendeu a um empresário de Fortaleza e lhe restou uma Brasília fabricada há 37 anos.

A sucataria fica num antigo prédio localizado na Rua Santa Luzia, Centro de Juazeiro, onde está desde 1960 rodeado por todos os lados pelo ferro velho que compra e vende. Seu Lunga mora com a esposa Carmelita Rodrigues Camilo, 74 anos, e foi desse matrimônio que nasceram 13 filhos. Nos finais de semana, costuma ir ao sítio da sua propriedade que fica na localidade de Pedrinhas. Nas 108 tarefas cultiva frutas e legumes, além da criação de gado para o abate.

Seu Lunga não esconde a resignação quando o assunto é política, e avalia que existe muita coisa errada no Brasil. A principal delas, segundo afirma, é a violência. “A Polícia prende o criminoso e, no outro dia, ele tá na rua de novo. Sem punição não dá”. O seu discurso moralista foi derrotado em 1988 quando disputou sua única eleição para vereador e obteve 273 votos pelo PMDB ficando na 56ª posição. “A política é muito suja e a gente só vê bandalheira”, lamenta.

Ele considera ter sido bem votado na época e estranha o fato de que no dia posterior às eleições lhe apareceram muitas pessoas garantindo que sufragaram seu nome, “mas o voto não apareceu na seção”. Seu Lunga jamais quis enfrentar uma nova candidatura, pois a única coisa que ganhou foi um processo na Justiça eleitoral. Após o pleito, numa entrevista concedida à imprensa, ele disse, inadvertidamente, que tinha dado alguns pares de sandálias a eleitores.

O juiz de então, Suenon Bastos Mota, o convocou para esclarecer sobre a captação ilegal de votos. Caso tivesse sido eleito, garante que jamais iria fechar a sucataria e o propósito era mostrar aos juazeirenses como se deve atuar na Câmara. “O papel do vereador é dá fé dos malfeitos que tem na cidade para o prefeito corrigir”, ensina.

Apesar da decepção, ele sempre vai às urnas mesmo que a idade não o obrigue mais. Seu Lunga revela que, este ano, votou em Raimundo Macedo (PSDB) para prefeito e Sávio Bezerra (PTB) para vereador.

Francisco Demontier
sucursal Juazeiro do Norte