Pouco reconhecidas, estátuas espalham memória política no Centro da Capital
Personalidades políticas e outras figuras históricas estão materializadas em monumentos instalados na Capital. No Centro, a presença de vários deles, porém, contrasta com percepções de distanciamento da população
Elas são imponentes, quase impossíveis de não serem vistas. Algumas exibem tanta altura que é preciso inclinar a cabeça para trás com o intuito de vê-las. Ainda assim, estátuas que carregam memórias do passado do Ceará, sejam de personalidades políticas ou de outras figuras históricas, nem sempre são reconhecidas pela população que lhes cerca no Centro da Capital.
General Tibúrcio, que deu nome à hoje popular Praça dos Leões, é um exemplo de estátua que, apesar da imponência, tem importância histórica pouco conhecida por muitos que passam pelo local. A estátua do soldado, nascido em Viçosa do Ceará em 1837, foi a primeira do Estado. Ele é considerado por historiadores um "herói" da Guerra do Paraguai, maior conflito armado internacional ocorrido na América do Sul.
Apesar do título, o vendedor Paixão Freire, que frequenta a Praça dos Leões todos os dias, confessa não saber quem é General Tibúrcio. "Tenho nem ideia, deve ser alguém do Exército", opina. O aposentado Gilson Menezes, 78 anos, frequenta a Praça desde 1970, mas também pouco sabe sobre o General. "Não lembro quem ele é, mas sei que o Exército sempre vem aqui para homenageá-lo. Ele tem essa estátua por merecimento, sei que foi um grande soldado", afirma.
Político
Não longe dali, na Rua Floriano Peixoto, o vendedor Marcelo Xavier, 41 anos, passa, diariamente, pela Praça Waldemar Falcão, mas não sabe quem foi o político que dá nome ao local - e cujo busto está no centro da Praça. "Tá difícil!", responde, ao ser questionado sobre o homem representado na estátua. "Foi um jornalista e ministro que fez muito pelo Brasil na época de Getúlio Vargas", diz, por sua vez, o bancário aposentado Misael Estevão,68 anos.
Cearense de Baturité nascido em 1985, Waldemar Falcão foi deputado federal constituinte eleito em 1933, senador, ministro do Trabalho de Getúlio Vargas, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) e presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Faleceu no ano de 1946.
Para a historiadora do Grupo de Estudos e Pesquisa em Patrimônio e Memória da Universidade Federal do Ceará (UFC), Karla Cristine, os monumentos e estátuas são resquícios do passado que contam a história do presente de quem construiu os objetos.
"Temos que entender que esses monumentos narram história, não só na peça em si, como na legenda e nas ritualizações, como as reinaugurações, que agregam novas narrativas ao objeto". Karla ressalta, inclusive, que a altura das estátuas passa um significado.
Relações
"Na Praça dos Leões, temos a estátua da Raquel de Queiroz. Está em um banco, permite uma interação. Já a do General Tibúrcio está em um pedestal, alta, foi feita com intuito diferente, que é o da contemplação. Muitos vão saber quem é a Raquel pela proximidade, já o General, não", compara.
Contudo, o quesito identificação não deixa de ser importante para o povo. Em junho de 2017, uma estátua do ex-governador do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, foi instalada na Travessa do Crato, no Centro, pelo PDT. O monumento logo recebeu críticas de quem trabalha na Travessa, com a indagação sobre a relação do político com o Ceará.
Após ser alvo de vandalismos, em julho deste ano, a estátua de Brizola foi retirada pela Prefeitura de Fortaleza para ser reparada. "A relação das pessoas com a estátua era de amor e ódio. Alguns elogiavam, outros xingavam, diziam que nada tinha a ver com a Travessa", revela o vendedor Marcus Penha.
Embora algumas sejam pouco conhecidas, as estátuas, contudo, são, de acordo com a historiadora Karla Cristine, "um despertar para a curiosidade". "Não necessariamente a gente tem que conhecer todas, não dá. Mas só de a gente entender os motivos e os atores envolvidos para existir aquilo (a estátua), já é válido".