Governo Bolsonaro avalia os próximos passos após saída de Moro
Ainda sem substituto anunciado para o Ministério da Justiça e Segurança Pública, o Planalto pensa alternativas para a Pasta. Enquanto isso, a Polícia Federal identifica Carlos Bolsonaro como articulador em esquema criminoso
O presidente Jair Bolsonaro (Sem Partido) avalia os próximos passos após o pedido de demissão de Sérgio Moro do Ministério de Justiça e Segurança Pública. Entre os cenários projetados pelo Governo, a separação definitiva entre as duas áreas da Pasta e a recriação do Ministério de Segurança. No entanto, apenas um dia após o agora ex-ministro acusar o presidente de tentar interferir na Polícia Federal, veio à tona que o órgão identificou o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do presidente, como um dos articuladores de um esquema criminoso de fake news, conhecido como Gabinete do Ódio.
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Nos bastidores da PF, a tentativa de Bolsonaro de trocar o diretor-geral da corporação teria entre os motivadores proteger o filho, chamado pelo presidente de 02. Ainda na sexta-feira (24), dia da demissão de Moro, aliados do presidente davam como certo o diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Alexandre Ramagem, para o cargo.
Carlos é investigado sob a suspeita de ser um dos líderes de grupo que monta notícias falsas e age para intimidar e ameaçar autoridades públicas na internet. A PF também investiga a participação de seu irmão Eduardo Bolsonaro, deputado federal pelo PSL de São Paulo.
O inquérito foi aberto em março do ano passado pelo presidente do STF, Dias Toffoli, para apurar o uso de notícias falsas para ameaçar e caluniar ministros do tribunal. Ramagem é amigo de Carlos Bolsonaro. Os dois se aproximaram durante a campanha de 2018, quando Ramagem atuou no comando da segurança do então candidato Bolsonaro após a facada que ele sofreu em Juiz de Fora (MG).
Substituição
Por enquanto, o presidente ainda não anunciou o substituto de Moro. Um dos nomes cotados para assumir o cargo, o atual ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Jorge Oliveira, relatou a interlocutores que está preocupado com sua possível escolha.
Advogado, Jorge Oliveira tem relação de décadas com a família Bolsonaro. O pai dele, já falecido, foi chefe de gabinete de Bolsonaro na Câmara durante 20 anos. O próprio Jorge já trabalhou como assessor parlamentar de Bolsonaro quando ele era deputado. E foi chefe de gabinete na Câmara de Eduardo Bolsonaro, durante o primeiro mandato de deputado federal do filho do presidente.
Ele estava nesse cargo quando foi chamado pelo presidente a assumir a Secretaria-Geral da Presidência. Oliveira entende que os laços com a família podem levar a críticas ainda mais duras contra Bolsonaro e fragilizar o Governo.
O nome de André Mendonça, da Advocacia-Geral da União, também é cogitado para a Justiça. Mas o cenário segue incerto porque o presidente quer muito Jorge Oliveira como novo ministro da Justiça e, segundo interlocutores, ele talvez não tenha escolha.
Uma das possibilidades também avaliadas é desmembrar a Pasta em duas: uma da Justiça e outra, da Segurança Pública. A possibilidade já havia sido ventilada em 2019, ainda sob o comando de Moro, o que acabou não efetivado.
Desde essa época, o ex-deputado federal Alberto Fraga era o nome mais ventilado para assumir uma Pasta voltada para a Segurança Pública. Fraga, assim como Jorge Oliveira, é amigo pessoal do presidente Bolsonaro. No caso de Jorge Oliveira, contudo, sua relação pessoal se estende aos filhos do presidente.
Farpas
Sérgio Moro e Jair Bolsonaro continuaram trocando farpas no dia seguinte à saída do ex-juiz do Governo Federal. Em sua conta no Instagram, o presidente publicou a mensagem: "A Vaza Jato começou em junho de 2019. Foram vazamentos sistemáticos de conversas de Sérgio Moro com membros do MPF. Buscavam anular processos e acabar com a reputação do ex-juiz. Em julho, PT e PDT pediram prisão dele. Em setembro, cobravam o STF. Bolsonaro, no desfile, fez isso". A mensagem acompanha uma imagem do presidente ao lado de Moro.
Moro respondeu: "Sobre reclamação na rede social do senhor presidente quanto à suposta ingratidão: também apoiei o PR quando foi injustamente atacado. Mas preservar a PF de interferência política é uma questão institucional, de Estado de Direito, e não de relacionamento pessoal", disse o ex-ministro no Twitter.
Repercussão
Pesquisa de opinião feita pela XP Investimentos/Ipespe indicou que 67% dos entrevistados consideram que a saída de Moro trará impactos negativos para a gestão Jair Bolsonaro. O levantamento foi feito entre as 18 horas de quinta-feira (23) e as 18 horas de da sexta-feira.
Ação
Os senadores Randolfe Rodrigues (Rede-AP) e Fabiano Contarato (Rede-ES) entraram na Justiça com uma ação popular que pede a anulação da exoneração de Maurício Valeixo do comando da Polícia Federal e a revogação da nomeação de Alexandre Ramagem para o cargo. O documento se baseia nas alegações de Sérgio Moro.