Empresa contesta acusações e decide responder a ataques

Escrito por Redação ,
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Negando a existência de prejuízos aos servidores estaduais, responsável pela ABC reage à rescisão do contrato

O diretor superintende da Administradora Brasileira de Cartões S/A e um dos sócios da Promus - Produtora de Crédito e Cobranças Extrajudiciais Ltda - Bruno Barbosa Borges, disse, ontem, em entrevista ao Diário do Nordeste que não vai mais aceitar servir de "trampolim político" para o deputado Heitor Férrer (PDT), parlamentar que denunciou na Assembleia Legislativa suposto esquema de tráfico de influência no Governo do Estado para a concessão de empréstimos consignados para servidores. Bruno Borges disse ainda que vai contestar, administrativamente, a rescisão do contrato da ABC com o Governo.

Desde 2011, deputados da oposição, questionam a relação entre a empresa Promus, no negócio dos consignados, em razão da relação familiar de um dos sócios, Luis Antônio Ribeiro Valadares de Sousa ser genro do secretário da Casa Civil, Arialdo Pinho. Este mês, o secretário de Planejamento e Gestão do Estado (Seplag), Eduardo Diogo, anunciou a rescisão do contrato com a ABC, - dentro de prazo contratual de 90 dias - empresa que administra as margens de créditos dos servidores que buscam empréstimos.

"Nós achamos até precipitada, por parte da Seplag, essa denunciação (do contrato)", confessou Borges, acrescentando que o contrato da ABC com o Governo foi firmado após a empresa ter ganho a licitação para fazer a ligação entre o Estado e os estabelecimentos creditícios autorizados para a operarem os empréstimos consignados.

Ele confirma que, enquanto pessoa física, é sócio de Luis Antônio Ribeiro Valadares de Souza, na empresa Promus, mas garante que não há como haver benefícios a mais para essa empresa - uma espécie de correspondente bancária que trabalha prestando assessoria relacionada a consignados - já que são os bancos, Bradesco e Caixa Econômica Federal, que mantêm relação com essas correspondentes.

Exclusividade

Então, garante o empresário que não pode haver nenhum tipo de exclusividade com correspondentes porque o cliente é quem escolhe com qual deles quer se relacionar ou procurar diretamente o banco preferido. "Nós não vamos mais aceitar servir de trampolim político para o deputado Heitor Férrer", avisou o diretor da ABC, acrescentando que o parlamentar tem feito "denúncias infundadas", embora admita que poderá tratar diretamente com Heitor, para esclarecer dúvidas, desde que ele se dispa da condição de deputado para tratar como cidadão civil.

Viés político

Bruno Borges explicou ainda que a empresa preferiu não se pronunciar desde o início das discussões relacionadas aos empréstimos consignados porque afirma ter um "viés político" nesses questionamentos com grandes prejuízos de ordem empresarial em razão de a ABC não prestar serviços apenas para o setor público.

O empresário se disse surpreso ao receber da Seplag os ofícios solicitando informações e com a denunciação do contrato. "Para a gente, isso foi uma surpresa, o fato de sermos oficiados com o pedido de informações e, logo depois, recebemos esse ofício da pessoa de Eduardo Diogo colocando que o nosso prazo contratual agora era de 90 dias", ressaltou Bruno Borges.

O empresário disse que vai tentar "reverter" a intenção da Seplag de cancelar o contrato e avisou que está à disposição do secretário Eduardo Diogo para esclarecer dúvidas. "A ideia é nos posicionarmos junto ao secretário de maneira que possamos esclarecer melhor algum ponto que talvez não esteja mais claro, para que a gente possa tentar reverter isso".

Servidor

Acrescentou Borges que vai procurar saber do Governo em que ponto a ABC está prejudicando o servidor. A empresa não tem poder de estabelecer percentual de juros para os empréstimos. Só o banco faz isso. A remuneração paga pelos bancos às empresas relacionadas como correspondentes não acrescenta os juros cobrados dos servidores e por fim a empresa vinha cumprindo com todas as obrigações contratuais.

Bruno Borges explicou que o papel da ABC é monitorar as margens referentes aos salários dos servidores para saber quem pode ou não contrair empréstimos. Essas informações são enviadas mensalmente ao Governo do Estado e aos bancos que possuem contrato com o Governo, Caixa e Bradesco. Disse ainda Bruno que o valor que recebe a ABC é de R$ 2,00 por cada novo empréstimo autorizado.

O empresário também declarou que não há como a ABC contratar ou sublocar nenhuma dessas correspondentes, como a Promus, por exemplo, porque quem decide isso são os bancos que concedem os empréstimos. Portanto, ele explica que, no que se refere ao contrato entre a ABC e o Governo do Estado, a única relação é com as agências creditícias escolhidas pelo Executivo para atender aos servidores, ou seja, Caixa e Bradesco.

Lucros ultrapassam R$ 100 milhões

Uma verdadeira mega-sena. Foi como o deputado Heitor Férrer (PDT) definiu o lucro da empresa Promus com os empréstimos consignados aos servidores do Estado do Ceará. Em visita ao Ministério Público (MP), na última quinta-feira, dia 19, o parlamentar teve acesso aos depoimentos e ao relatório anual dos recursos repassados às entidades financeiras.

De acordo com o pedetista, em apenas dois anos e dois meses, a empresa Promus, responsável por fazer a intermediação entre o servidor e o Bradesco, recebeu R$ 101,5 milhões com os empréstimos consignados. Segundo ele, está claro que a empresa lucra 19% em cima dos juros cobrados.

Férrer aponta que o técnico do Bradesco, Anderson Nogueira Borges, em depoimento, afirmou que as comissões repassadas à Promus, através dos consignados, são de 15% a 19%, quando o parlamentar diz ter a certeza de que o percentual é mesmo de 19%. Já o dono da Promus, Luís Antonio Ribeiro Valadares, afirmou durante seu depoimento ao MP, segundo Férrer, que o faturamento de sua empresa, por mês, é de R$ 2,7 milhões.

Recursos

Só esse valor, destacou o deputado, é mais do que uma mega-sena, porém afirma que não é apenas isso. Conforme Heitor Férrer, a Promus lucra mais do que R$ 3 milhões por mês. De acordo com o relatório anual dos recursos passados às entidades, apenas no mês de dezembro de 2010, foram contabilizados ao Bradesco e Caixa Econômica Federal (CEF), com consignados, R$ 21,8 milhões, dos quais R$ 4,1 milhões, ou seja 19%, ficaram com a Promus.

Férrer questionou o porquê da escolha da Promus para fazer parte desse esquema, se é devido o seu dono ser o genro do secretário-chefe da Casa Civil, Arialdo Pinho. Ele atentou ainda que os 62 mil servidores que possuem empréstimos consignados acabam sendo "empregados" da Promus e rendem para esta empresa R$ 130 mil por dia. Para ele, "existe podridão" dentro do Governo e o governador Cid deve expulsar esse esquema da administração.

O deputado Fernando Hugo (PSDB) também quer saber porque a Promus foi escolhida para fazer a ponte entre os servidores e o Bradesco. "O governador Cid Gomes está em uma sinuca de bico. Ele tem pavor que digam que é desonesto. Agora, Cid, se o senhor não for desonesto, o senhor é de uma incompetência cavalar, porque na beira da sua sala, na Casa Civil, há tráfico de influência. A empresa do genro do secretário está dentro desse esquema fedorento",pontuou.

Tráfico

O deputado Roberto Mesquita (PV) alega que basta ver o contrato realizado entre o Bradesco e Promus, estabelecendo que a empresa tem a exclusividade em fazer a ponte entre o banco e os servidores, para verificar que esse esquema dos consignados tem tráfico de influência.

A deputada Eliane Novais (PSB) defendeu que esse caso não fica encerrado porque o Governo anulou o contrato com a Administradora Brasileira de Cartões S/A (ABC). "Como encerrar um caso somente com a suspensão do contrato? Quer dizer que basta o governador afirmar que não há tráfico de influência e a sua palavra é uma sentença", questionou.

O líder do governo, Antônio Carlos (PT), defendeu que o governador tomou as medidas, designando o secretário de Planejamento para tratar do assunto e rescindindo o contrato com a ABC. "Vamos aguardar os fatos e a apuração em curso. Repito o que disse o governador: não aceito desonestidade e quem errou, que seja punido por isso", disse. Para o deputado Osmar Baquit (PSD), o governador fez o que tinha de ser feito.
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