Demora nas definições de secretariado de Sarto gera incômodo entre aliados

Membros da base governista do futuro prefeito reclamam da espera pelo anúncio da equipe, o que estaria inclusive atrasando definições no Legislativo. Nomes mais cotados incluem equipe de transição e irmão de Sarto Nogueira

Escrito por Igor Cavalcante ,
Legenda: Sarto já sinalizou que o anúncio da futura equipe do Paço Municipal poderia ocorrer entre esta terça (29) e quinta-feira (31)
Foto: Natinho Rodrigues

A três dias da posse do prefeito eleito de Fortaleza, o clima de mistério sobre a composição do quadro de auxiliares de Sarto Nogueira (PDT) gera expectativa e insatisfação entre aliados na Câmara Municipal de Fortaleza. Mesmo com alguns nomes já ventilados, integrantes da base governista afirmam que indefinições incomodam aliados e criam “clima ruim” dentro do PDT.

Na última terça-feira (22), o futuro chefe do Executivo municipal havia informado que o anúncio poderia ocorrer entre esta terça-feira (29) e a próxima quinta-feira (31), véspera da posse. Na Câmara Municipal, a expectativa era que ele antecipasse o anúncio. A pressa no Legislativo é porque eleitos para a Casa devem ser alçados a cargos no Executivo, cenário que voltaria a embaralhar as articulações para a eleição da nova Mesa Diretora, no dia 1º.

Renan Colares (PDT), por exemplo, afirma que o clima é de incerteza e ansiedade entre os integrantes da Casa, mesmo no recesso. “Estamos aguardando, até porque, a partir disso, é que o Antônio Henrique irá fechar a chapa para disputar a Mesa”, afirma. Adail Júnior (PDT), vice-presidente da Câmara, acrescenta que o tempo curto de transição neste ano é o responsável pela indefinição. “Realmente nunca tinha visto (a demora para anunciar), mas é porque o tempo é curto para definir muita coisa”, argumenta.

Para o vice-líder do Governo na Casa, Michel Lins (Cidadania), a decisão deve sair aos “45 minutos do segundo tempo”. “Ficamos aguardando, não tem como definir a (eleição na) Câmara sem isso. Se for definido algo entre os vereadores, pode acabar sendo desfeito pelo prefeito”, diz. Posicionamento semelhante tem o vereador reeleito Emanuel Acrízio (PP). “Estamos na expectativa. Em outros anos, dia 25, no máximo, já seria anunciado. Estamos caminhando para o dia 31”.

Insatisfação

A surpresa com a demora de Sarto em anunciar a equipe e a expectativa pelos nomes é comum entre nomes da base, tanto do PDT quanto de outros partidos ouvidos. “Essa demora está causando um clima ruim dentro do PDT. Tivemos pessoas que deixaram de atender a convites para secretarias em prefeituras da Região Metropolitana para priorizar a prefeitura daqui, agora está essa indefinição”, afirma um vereador.

Tradicionalmente, o anúncio do quadro de secretários da Prefeitura de Fortaleza ocorre nas últimas semanas do ano. Em 2012, por exemplo, Roberto Cláudio (PDT) anunciou no dia 20 de dezembro. Quando foi reeleito, em 2016, a data escolhida foi 23 de dezembro. 

Neste ano, devido à pandemia, a eleição foi adiada, encerrando o segundo turno somente no último dia 29 de novembro. Ainda assim, Fortaleza é o único dos quatro maiores colégios eleitorais do Estado a não ter oficializado a equipe. Em Caucaia, Vitor Valim (Pros) já divulgou parte do secretariado ao longo deste mês. Em Juazeiro do Norte, Glêdson Bezerra (Podemos) fez uma coletiva de imprensa no último dia 23 de dezembro para comunicar sobre toda a equipe que irá compor seu Governo. Em Maracanaú, Roberto Pessoa (PSDB) também já anunciou seus auxiliares.

Definição

Irmão de Sarto e um dos 43 vereadores eleitos no pleito deste ano, Elpídio Nogueira (PDT) é cauteloso com o anúncio da equipe que irá gerir o Executivo. Ele, que é um dos mais cotados para estar no próximo quadro de secretários, não descarta uma composição mista, composta por técnicos e políticos. “Não tem problema um político assumir cargo (na gestão), desde que tenha competência, formação, treinamento, capacidade e interesse”, defende.

Interlocutores de Sarto apontam ainda outros nomes como prováveis secretários. Pelo menos três vereadores pedetistas devem receber cargos na Prefeitura. Entre os mais apontados estão Ésio Feitosa (PSB), atual líder do Governo que não conseguiu se reeleger, e Iraguassú Filho (PDT), também suplente, além de Júlio Brizzi (PDT) ou Lúcio Bruno (PDT). 

Nesse cenário, Didi Mangueira (PDT) e Carlos Mesquita (PDT) assumiriam vagas no Parlamento. “Sarto saberá onde posso melhor servi-lo. Na minha opinião, posso ajudá-lo na Câmara, no grupo de líderes, mas posso ser vereador da base e, se ele me quiser no Executivo, também tenho experiência”, diz Mesquita. Também na Casa, Cláudia Gomes (DEM) poderá ser convocada. Assim, Sarto contemplaria com uma vaga no Parlamento Adams Gomes, suplente e filho do deputado estadual Tin Gomes (PDT).

Transição

Em meio às indefinições, a equipe de transição trouxe a única sinalização do prefeito eleito. O grupo é composto por Samuel Dias, atual secretário de Governo, Marcelo Pinheiro, secretário-chefe de gabinete, Élcio Batista, vice-prefeito eleito, Ferrucio Feitosa, secretário da Regional II, e Renato Lima, secretário de Gestão Regional. Para interlocutores, os secretários devem permanecer, mas em diferentes funções na gestão.

Membros do PDT comentam que o núcleo duro do Governo será formado por nomes técnicos, como nas áreas da saúde e da educação. Nesse cenário, outros quadros da atual gestão devem ser aproveitados, como João Pupo e Alberto Sabóia, da Conservação e Serviços Públicos. Alexandre Pereira (Cidadania), secretário municipal do Turismo, também deve permanecer.

PT deve seguir na oposição

As diferentes correntes do PT do Ceará permanecem indefinidas sobre como será a posição da sigla em relação ao Governo do prefeito eleito Sarto Nogueira (PDT). Em uma das alas, ligada aos deputados José Airton, José Guimarães e Acrísio Sena, a busca é por um consenso que aproxime a sigla da futura gestão. Contudo, as outras correntes do PT são contra a aliança com Sarto e defendem manutenção na oposição.

A Executiva da sigla se reúne nesta terça em busca de uma definição. Entre os que defendem a posição de oposicionistas, argumentos incluem o aumento no número de votos na sigla. “A população viu em nós o instrumento para enfrentar tanto a hegemonia dos Ferreira Gomes quanto a alternativa bolsonarista do Capitão Wagner”, dizem em uma proposta de resolução a ser apreciada nesta terça.

Os destaques das últimas 24h resumidos em até 8 minutos de leitura.