Triste fim dos jumentos

Escrito por Gilson Barbosa ,
Gilson Barbosa é jornalista
Legenda: Gilson Barbosa é jornalista

O jumento será, sempre, um imorredouro símbolo do Nordeste e dos muitos serviços prestados ao seu povo através dos tempos. É difícil, exatamente por tal fato, crer que hoje essa espécie esteja sendo tão maltratada, quando, ao contrário, deveria ser exaltada pela parceria que sempre teve com os sertanejos na luta diária e difícil pela sobrevivência. O jumento, nosso irmão, como diz a música interpretada por Luiz Gonzaga (1912-1989), está sendo cruelmente dizimado em frigoríficos legalmente autorizados para tal, no município baiano de Amargosa.

O Frinordeste, de propriedade da JBS, é a maior dessas instalações industriais. De uma população estimada em 900 mil animais, em 2010, restam agora cerca de 400 mil, numa perigosa tendência de extinção da espécie em breve, nas terras nordestinas, se nada for feito para reverter a situação. O jumento, vítima do desprezo e da exploração que sustenta essa matança legalmente autorizada (são quase 60 mil animais abatidos por ano!), tem sua pele transformada em medicamentos contra insônia, anemia e até impotência sexual pelos chineses, enquanto a carne é enviada ao Vietnã, para lá ser consumida.

Esquecido e abandonado á beira das estradas, para morrer pela fome ou pelo atropelamento, o jumento movimenta, no exterior, bilhões de dólares. Li todas essas informações em artigo há pouco publicado sobre o tema e, indignado, reforço a denúncia. Empresários chineses, de olho na alta demanda e lucratividade, passaram a ter o Brasil como alvo de seus altos rendimentos.

Cerca de 400 jumentos chegam ao Frinordeste em caminhões fechados, depois de longas viagens. Animais debilitados pelo cansaço, machucados ou já mortos são retirados dos veículos, depois de recolhidos nos mais longínquos pontos. São apanhados nas rodovias ou vendidos por pobres agricultores que trabalham no setor para fugir da fome! Só aqui, este símbolo de resistência virou sinônimo de “trambolho” para muitos, substituído pela motocicleta que hoje infesta o interior do Nordeste. Inconformado, deixo aqui patente minha tristeza e meu desconsolo. Os jumentos não merecem isto!

Gilson Barbosa é jornalista

Alessandro Almeida é diretor comercial da MRV&CO
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