O Cariri cresceu para quem?

Os avanços estruturais são inúmeros e estão em vários territórios da Região, mas não equacionam a questão ambiental

Escrito por Paulo Henrique Rodrigues , opiniao@svm.com.br
Legenda: Na última semana, houve a inauguração do teleférico do Caldas, que leva do distrito barbalhense ao topo da Chapada do Araripe
Foto: Divulgação

"O Cariri cresceu. Todo mundo vê." A letra da canção de Luiz Fidelis que ficou famosa na voz de Fábio Carneirinho é uma verdade para todos os que moram ou visitam Juazeiro do Norte, Crato e Barbalha.

Nos primeiros 20 anos deste século, a região metropolitana do sul do Ceará se desenvolveu em ritmo quase que chinês: arranha-céus, rodovias, viadutos, loteamentos, centros educacionais, centros de saúde pública e privada, o aeroporto entre os mais movimentados do interior do Brasil. Só que esse crescimento não equaciona a questão ambiental.

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Neste mês, houve a inauguração do teleférico do Caldas, que leva do distrito barbalhense ao topo da Chapada do Araripe, já em território da Floresta Nacional. A vista é deslumbrante. A visita está sendo agendada e tem sido difícil encontrar horários vagos. 

No ano que vem, Juazeiro do Norte ganhará um bondinho, saindo das cercanias do Vapt Vupt levando ao horto do Padre Cícero, o ponto de maior altitude da cidade, onde fica a estátua de mais de 20 metros do fundador. São importantes e necessários investimentos turísticos, numa região que tem essa vocação. Em contrapartida, a equação ambiental segue ignorada.

O próprio bondinho de Juazeiro do Norte tem problemas ambientais apontados pelo Ministério Público Estadual. Árvores e o leito de um rio não teriam sido respeitados. Mas o passivo ambiental é muito maior.

No Rio Salgadinho, o principal de Juazeiro do Norte, é de dar vergonha tamanha a poluição. O Granjeiro, que corta o Crato, vira uma vala de sujeira, algumas centenas de metros após nascer cristalino na encosta da Chapada do Araripe.

Os municípios responsáveis pela maior produção de resíduos sólidos do interior do Estado ainda não contam com um aterro sanitário. O descarte segue sendo feito em lixões, poluindo solo, água e ar. Os moradores do mais novo condomínio popular do Crato, por exemplo, estão convivendo diariamente com a fumaça tóxica que sai do lixão.

Políticas ambientais

Esse desenvolvimento o Cariri ainda não vê. É baixo, se comparado à infraestrutura, o investimento em políticas ambientais, que teriam impacto na saúde e no bem-estar das pessoas.

Assim, pede-se licença aos poetas para reescrever a letra, transformando-a em rima rasa deste autor num esforço de provocação: o Cariri cresceu, mas sem planejamento; todo mundo vê que nossos serviços ambientais estão virando um tormento.

Seguindo neste ritmo, em pouco tempo, em algumas comunidades, principalmente as mais pobres, respirar ar limpo e ter acesso à água potável serão atividades quase que impossíveis, uma prova cabal do nosso fracasso enquanto desenvolvimentistas.

 

Consultor pedagógico
Davi Marreiro
16 de Abril de 2024