O Brasil paralelo de Bolsonaro

Escrito por Igor Mascarenhas , igormasc@gmail.com

Legenda: Igor Mascarenhas é educador
Foto: Arquivo pessoal

Quando o capitão Bolsonaro escreveu o artigo “O salário está baixo” na revista Veja, o atual presidente já dava mostras de um comportamento que ia além da mera insubordinação militar: ele é, antes de tudo, um subversivo. Bolsonaro vem subvertendo o sistema desde seus tempos de capitão do exército.

Assumir um comportamento paralelo ao oficial é sua tônica: fez isso ao defender milícias cariocas – um poder paralelo ao do Estado - na Câmara dos Deputados, em 2008, e ao dizer em 2003 que “Enquanto o Estado não tiver coragem de adotar a pena de morte, o crime de extermínio (...) será muito bem-vindo.”.

Também adota uma estratégia de comunicação de forma paralela à tradicional: o Twitter, e não as mídias tradicionais ou a imprensa oficial. O chamado “gabinete do ódio” é fomentado por uma mídia igualmente paralela, que vive de fake news, “notícias” que criam uma realidade alternativa.

Paralelo também é o gabinete que o aconselha em relação à Covid-19 e que provocou quase meio milhão de mortes até agora. Até mesmo seu ideólogo favorito é alguém que vive à margem do mundo acadêmico e que, na verdade, despreza esse mundo: Olavo de Carvalho.

Bolsonaro precisa desse sistema paralelo, fora dos circuitos de consagração política e acadêmica tradicionais. Estes o desprezam devido ao seu comportamento errático e conspiratório e à sua militância a favor de soluções violentas e antidemocráticas.

Dentro da política liberal, o presidente não conseguiria satisfazer suas ambições, pois elas envolvem a negação da ciência, das instituições, dos direitos humanos e até dos ideais iluministas. Ele precisa e só sabe agir paralelamente às instituições, porque estas funcionam como contrapesos a aspirações autoritárias.

Dessa forma, como diz o professor Steven Levitsky, de Harvard, em seu Como as Democracias Morrem, golpes vêm sendo dados com a destruição das instituições democráticas, aos poucos, pelo próprio governante. Esse é o objetivo de Bolsonaro: destruir, por dentro, o sistema que, para ele, representa o impedimento às suas aspirações, no entanto, para isso, ele cria sempre um outro, não oficial e ilegal, mas leal aos seus ideais.

Igor Mascarenhas 
Educador e sociólogo

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