‘Internet’ a lenha

Assim, era necessário o uso de um rádio potente, que possuía as faixas de ondas médias, tropicais e curtas

Escrito por Gilson Barbosa ,
Jornalista
Legenda: Jornalista

As gerações atuais, inundadas pela profusão de informações de todo gênero e a todo momento, provenientes da internet, nem imaginam como era, num passado não tão longínquo assim, saciar a sede de informações e de notícias. Quem era curioso por saber o que acontecia no mundo recorria, então, às poderosas emissoras de rádio internacionais, que transmitiam noticiários em dezenas de idiomas e em horários diferenciados para todos os continentes, na faixa de ondas curtas. Geralmente as transmissões só eram captadas à noite, com melhor audibilidade, pois durante o dia praticamente não as ouvíamos.

Assim, era necessário o uso de um rádio potente, que possuía as faixas de ondas médias, tropicais e curtas. Eu possuía um rádio Philips, transistorizado (mais avançado para a época, já sem o uso de válvulas e, sim, de circuitos e transístores), de tamanho médio, porém portátil, no qual ouvia, todas as noites, muitas dessas emissoras. Eram os tempos da Voice of America (ou Voz da América, transmitindo de Washington, nos EUA), da Rádio China Internacional (de Pequim), da Rádio Bonaire (situada na ilha homônima do Caribe, integrante do Reino dos Países Baixos), da Rádio Moscou (com sede na capital da então União Soviética), Rádio Vaticano e da Rádio Suécia (que emitia sua programação a partir de Estocolmo), entre várias outras.

Havia uma oscilação no som transmitido pelas emissoras, característica das ondas curtas. Ora as escutávamos bem, ora eram quase inaudíveis. Mesmo assim, com essa precariedade, era gostoso saber que lá de longe uma programação variada em português nos brindava com programas musicais, noticiários, seções em que as pessoas, naqueles países distantes, divulgavam seus nomes e endereços para fins de correspondência internacional.

Escrevi para várias dessas emissoras e delas recebi resposta. Era a época das cartas. No caso da Rádio Suécia, em 1978, chegou-me às mãos uma correspondência com um folheto e uma flâmula da emissora, bem como um postal comemorativo da ascensão ao trono do rei Carlos XVI Gustavo (1946-), ocorrida em 15 de setembro de 1973 e que completou, em 2023, seu cinquentenário. Guardo essas recordações como testemunhas de um tempo bem diferente que passou, mas que permanece vivo na memória, pelo interesse que sempre tive em descobrir a informação, a arte, a cultura na época da “internet” a lenha, o que tínhamos naquele momento. E era bom!