Fraternidade: sobre como forjar laços e quebrar barreiras

Escrito por Lúcia Helena Galvão ,

Fraternidade, em sua etimologia, trata da relação entre irmãos. FRATER = irmãos. Mas como fazer isso em um mundo tão polarizado, que prega o individualismo acima do bem comum?

Lembremos que, se somos irmãos, é porque temos uma fonte em comum. Pode ser um pai e uma mãe física, pode ser uma mesma cidade, um mesmo país, um mesmo movimento de idealistas que trabalham juntos, uma mesma natureza humana.

Para termos o sentimento de fraternidade, o primeiro ponto é termos consciência dessa fonte comum, que em geral não temos. O segundo ponto: quando reconhecemos alguém como irmão, temos mais paciência, mais tolerância, mais capacidade de reatar laços, porque não se pode desistir de um irmão.

Se colocarmos a humanidade em grupos cada vez maiores, não de uma vez, porque a natureza não dá saltos, mas primeiro o vizinho, a comunidade, a cidade... – ao ir ampliando a noção de família, vai-se ampliando a noção de irmandade, também gera uma maior capacidade de inclusão, de tolerância, e todas as virtudes de base para a fraternidade.

Como viabilizar isso?

Da mesma forma que fazemos com aquilo que nos interessa: estudiosos dizem que se num período de 3 a 4 meses você realiza algo todos os dias, você tem a propensão a incorporá-lo como hábito. No campo das ideias concordamos, talvez esse seja o movimento necessário: romper a inércia de um comportamento anterior.

Façamos deste movimento a nossa proposta prática para incorporar a fraternidade em nossa vida: em um dia escolhido por você, procure fazer as mesmas coisas com uma postura mental diferente diante dos mesmos fatos. Depois, pode ir incluindo outros elementos paulatinamente.

Seja mais observador, mais intuitivo, perceba que você leva para a vida a semente dos fatos que começam a surgir, porque nós temos o poder pessoal de atrair para nós as coisas que são condizentes com nossa expectativa.

Segundo o filósofo Sri Ram, “Aquele que se entrega à causa da fraternidade encontrará infinita força e inspiração para si.” Ao nos entregarmos à missão da fraternidade, teremos força e inspiração, e é daí que vem a motivação para o dia.

Para isso, temos que ter a disciplina necessária para manter a nossa proposta acesa. Aquele que tem as rédeas de si próprio influencia mais gente do que ele mesmo.

Fraternidade é diferente de compaixão, de caridade, que estão ligadas a um momento. Fraternidade é uma postura, anda contigo o tempo todo.

A fraternidade nos aproxima do ponto central, onde todos nós nos unimos.

[Palestra integrante da programação da Semana da Filosofia 2021]

Lúcia Helena Galvão é filósofa e professora da Nova Acrópole

*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.