CPI do MST: preconceito contra quem produz
A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) é um fato lamentável que mostra como o Congresso Nacional possui uma maioria de parlamentares de uma direita e conservadora. Não há fato determinado para a abertura da CPI. O objetivo é tentar macular o MST e sua luta em favor da reforma agrária.
O Brasil possui 300 milhões de hectares de terra agricultável. Destes, apenas 100 milhões são usados para produção agrícola. Os outros 200 milhões são improdutivos. A CPI quer esconder problemas como o desmatamento, a grilagem de terras, o uso de agrotóxicos e a mão de obra análoga à escravidão. Somente este ano, 918 vítimas de trabalho escravo foram resgatadas, um recorde em 15 anos. Tentar criminalizar a luta pela reforma agrária é uma concepção política que remonta o período da ditadura militar.
Com maioria bolsonarista, a CPI foi criada para tentar desgastar o governo Lula. A nomeação de Ricardo Salles, como relator, e Coronel Zucco, como presidente, deixa isso claro. Ricardo Salles, ex-ministro do Meio Ambiente de Bolsonaro, já defendeu receber sem-terras à bala. Ele responde a processos por delitos cometidos durante suas gestões no Ministério do Meio Ambiente e na Secretaria de Meio Ambiente de SP. Uma das investigações mira seu envolvimento na exportação de madeira ilegal no Pará. Por sua vez, Zucco, outro apoiador de Bolsonaro, já chamou o MST de movimento "terrorista" e é suspeito de incentivar os atos antidemocráticos de 8 de janeiro.
O MST organiza áreas coletivas com cerca de 2 milhões de pessoas em pouco menos de 20 milhões de hectares. É o maior produtor de arroz orgânico da América Latina, com 100 sacas de arroz/hectare. É também um dos maiores produtores de leite do Brasil, com aproximadamente 7 milhões de litros de leite/dia. Cuida ainda de cadeias de produção de feijão, café, cachaça, cacau/chocolate, carnes, ovos, mandioca, dentre outras, realizando e participando de feiras em vários estados.
Durante a pandemia de Covid-19, o MST, solidariamente, doou cerca de 10 mil caminhões de alimentos (10 a 15 toneladas por caminhão) nas periferias das grandes cidades por todo o país. Já passou da hora de desfazer esta visão preconceituosa contra este importante vetor da agropecuária brasileira.
De Assis Diniz é deputado estadual