Água e equidade de gênero no NE

No Nordeste brasileiro, a gestão da água é complexa, especialmente durante períodos de seca prolongada, expondo desigualdades sociais e econômicas

Escrito por Gabriela Colares ,
Coordenadora dos projetos do Instituto Nordeste Cidadania (Inec) em parceria com a ONG Water.org
Legenda: Coordenadora dos projetos do Instituto Nordeste Cidadania (Inec) em parceria com a ONG Water.org

Ao celebrarmos o Dia Mundial da Água, em 22 de março, é crucial lembrar que o acesso à água potável não é apenas uma questão de sobrevivência, mas também de igualdade de gênero. Infelizmente, mulheres e meninas enfrentam obstáculos significativos, incluindo a falta de acesso à água para higiene pessoal, colocando-as em situações de vulnerabilidade. Essa realidade é ainda mais preocupante no contexto do Capitaloceno, que destaca o impacto humano nos sistemas naturais a partir de implicações socioeconômicas do capitalismo globalizado.

No Nordeste brasileiro, a gestão da água é complexa, especialmente durante períodos de seca prolongada, expondo desigualdades sociais e econômicas. A seca recorrente ameaça a subsistência de milhões de agricultores sem acesso a instalações sanitárias adequadas, com mulheres e meninas frequentemente enfrentando o ônus adicional de buscar água, o que pode ser perigoso, fisicamente exigente e um risco à saúde e à segurança.

Para enfrentar esses desafios, é fundamental uma abordagem integrada, incluindo investimentos em infraestrutura hídrica e programas de conscientização sobre o uso sustentável dos recursos. O microcrédito faz esse caminho, permitindo que comunidades implementem projetos de acesso à água, como a construção de cisternas e sistemas de irrigação. A exemplo do programa Agroamigo, operacionalizado pelo Instituto Nordeste Cidadania (Inec), que oferece microcrédito a agricultores familiares e permite ações estratégicas em parceria com a ONG Water.org, gerando soluções inteligentes que integram o uso da água tanto para fins agrícolas quanto domésticos.

O acesso desigual à água no Nordeste reflete disparidades de poder e renda, com as comunidades mais pobres sendo as mais afetadas pela escassez e degradação ambiental. É essencial que os governos implementem políticas que promovam a gestão sustentável dos recursos hídricos e incentivem práticas agrícolas resilientes à seca, considerando tanto as necessidades imediatas, como as dimensões econômicas, políticas e ambientais do problema. Isso requer o fortalecimento das instituições democráticas e a promoção da participação cidadã.