A vítima dos Macunaímas

Escrito por Davi Marreiro ,
Consultor pedagógico
Legenda: Consultor pedagógico

Em novembro de 2022, Macunaíma ‘trepado no jirau de paxiúba, espiando o trabalho dos outros’ bradou como um herói: “a educação é investimento no futuro do país e voltará a ser prioridade.” Na época seu objetivo foi denunciar os cortes cruéis no orçamento da educação. Todavia, uma vez que no Brasil existem duas línguas, uma falada e outra escrita, quem diria que, em menos de um ano, ele mesmo se tornaria o presidente protagonista dessa trama. Afinal de contas, foi este mesmo ‘coraçãozinho dos outros’, o responsável por bloquear, há pouco mais de oito meses, a liberação dos recursos outrora tão necessários para o futuro do país. Com um gesto magnânimo, o “Papai Grande”, na gíria familiar,” decidiu que investir na ignorância é a chave para o sucesso nacional.

Assim estamos, governados e desgovernados por Macunaímas. Visto que a preguiça reina, eles sempre recorrem à esperteza em vez do trabalho árduo. “São verdadeiros monstros, sim, filhos de Uirauaçus, isso quando consideramos a grandiosidade incomparável da audácia e a sapiência característica da espécie...” Contudo a cantilena dessa “raça refinadíssima de doutores” é melancólica, repetitiva e interpretada por: mɐ̃tɛʁ puˈdeʁ!

Conforme relatado pelo jornalista Mateus Vargas da Folha de São Paulo, na última semana o governo federal novamente reafirmou suas "medidas de austeridade". A educação, particularmente o setor de Ciência e Tecnologia, sofreu mais um corte orçamentário significativo de aproximadamente R$ 280 milhões. As iniciativas de assistência estudantil e pesquisa no ensino básico e universitário foram algumas das mais afetadas por essa redução. Enquanto isso, segundo dados divulgados pelo portal Antagonista, sob o olhar do "filho do medo da noite", o governo federal neste ano eleitoreiro investirá R$ 562 milhões para atividades de comunicação institucional e assessoria de imprensa, ou seja, propaganda institucional. Primeiro o brilho, depois a muiraquitã! Por fim, Mário de Andrade acertou em cheio ao retratar o seu herói "sem nenhum caráter", um personagem realmente muito representativo. É lamentável que hoje convivamos com alguns de seus representantes.