A casa e suas lembranças

Escrito por Gilson Barbosa ,
Gilson Barbosa é jornalista
Legenda: Gilson Barbosa é jornalista

Vejo, neste jornal, a notícia de que a última casa ainda residencial da Avenida Beira-Mar, edificada ainda no início da década de 60 – mais precisamente, em 1963, conforme o texto – em breve virá ao chão, vez que vendida foi a uma construtora que ali implantará mais um empreendimento milionário.

Informação até surpreendente, já que este articulista nem imaginava que ali, imprensado entre edifícios de alto padrão e pontos comerciais dos mais diversos, existisse ainda este último nicho familiar! Abala-nos a memória afetiva saber que essa última testemunha muda de todas as transformações urbanísticas da região - desde a construção dos primeiros edifícios, passando pelas muitas mudanças implantadas por sucessivas administrações municipais e a atual muralha de arranha-céus que afeta a ventilação da cidade - , afinal, tombará.

A especulação imobiliária, ávida por qualquer terreno valorizado na área, venceu inteiramente. Vai-se, assim, por completo, um pedaço da história da cidade, o fim de uma era em que as famílias, vivendo numa provinciana Beira-Mar, contemplavam, na cidade ainda tranquila, a areia e os coqueiros da praia.

Podiam conversar animadamente com os vizinhos e assistir ao diário espetáculo do nadir ao zênite, do nascer ao pôr do sol, num tempo em que coisas como a violência e o estresse do trânsito estavam ainda longe de serem parte do cotidiano local.

Dá para imaginar quantos fatos foram vividos pela família que, se ainda não o fez, em breve deixará o imóvel para sempre. Muitos alegres, outros, tristes, como assim é a própria vida! Cada casa guarda, em seu interior, lembranças, reminiscências dos que nela habitaram, principalmente se ali permaneceram por sucessivas décadas, como supomos ser o caso do imóvel da Beira-Mar!

É impossível, ao deixarmos um lugar onde vivemos por tanto tempo, convivendo com os familiares, não sentirmos uma ponta de emoção ou de saudade antecipada. São memórias de tempos passados, das recordações às vezes boas ou nem sempre assim, que cada um de nós experimentou. Realmente, como escreveu José de Alencar, tudo passa sobre a terra!

Gilson Barbosa é jornalista