25 mil faccionados
A existência de facções criminosas em Fortaleza é relativamente recente. Ainda assim, um novo relatório da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco), da Polícia Civil, estima em 25 mil o número de membros de determinada facção, coletivo que se formou a partir da união de um punhado de gangues locais em 2016.
As primeiras gangues juvenis se formaram em Fortaleza a partir do fim da década de 1980 e exerciam seus domínios em territórios pequenos, que não costumavam ultrapassar as fronteiras de algumas ruas ou de seus bairros. Foi apenas em 2016 que o cenário do crime na Capital fora dominado quase que integralmente pelas facções, através de um processo de consolidação nas periferias que se iniciou em 2014 com a progressiva substituição das antigas gangues.
Mesmo com esse processo de transformação obrigando o poder público a responder com investimentos robustos na área de segurança, não parece que temos motivos para acreditar que o problema esteja sendo resolvido. A ideia de que a prisão de líderes pode porventura desarticular esses coletivos criminais é enganosa; o assunto é em especial alimentado por discurso penalizante, midiático e policialesco.
Com o expressivo quantitativo de membros, o que não falta para esses grupos é capital humano para ocupar as funções deixadas em aberto; e com a presença massiva das facções nas prisões, os recém chegados são recebidos e passam a ocupar novas funções.
Se a aposta basal do governo for a captura dessas lideranças, é provável que continuemos a ver notícias de prisões acompanhadas de manchetes como essas, do DN dessa semana: "Líderes de organização criminosa comandavam facção de dentro dos presídios cearenses"; e "Com maridos presos, mulheres de chefes de facção assumem o tráfico de drogas". A crise na segurança passa essencialmente pela crise penitenciária.
Thiago Krubniki
Cientista Social