Um dos feridos durante o atentado ao ônibus do Fortaleza, Lucas Sasha detalhou o horror vivido na última quinta-feira. O veículo que transportava a delegação do tricolor foi atingido por bomba e pedras no trajeto entre a Arena Pernambuco e o hotel da equipe, em Recife, após o empate contra o Sport. Em entrevista para o Fantástico, da Rede Globo, o volante também explicou como está a recuperação e o que espera das autoridades.
"Já conseguiu voltar a treinar. Vi que não tinha sido nada muito sério com os ferimentos que eu tive, então, eu já coloquei na minha cabeça que o mais rápido possível queria deixar esse episódio para trás. Claro que eu tenho uma queimadura na perna, que ainda me machuca um pouco, mas ontem eu consegui treinar, treinar normal, e é o que eu mais quero. Eu quero voltar a minha vida normal, o mais rápido possível”, disse o jogador.
No sábado, o Fortaleza realizou treino aberto para receber o carinho dos torcedores após o atentado. Quatro dos seis jogadores feridos não treinaram. Lucas Sasha explica que os ferimentos dele ocorreram mais do lado esquerdo: o braço, a perna e também um corte na cabeça. O volante estava ao lado do lateral Dudu, outro ferido durante o ataque realizado por torcedores do time pernambucano.
"A gente sempre senta um perto do outro no ônibus, e era um momento meio que de rotina para nós, né? Saindo do estádio, indo pro hotel, e eu estava mexendo no meu celular. Estava até tirando um print de uma foto que minha mulher tinha postado no Instagram com meu filho. E de repente tudo aconteceu assim diante dos nossos olhos”, detalhou Sasha.
"Eu estava mexendo no meu celular, com fone de ouvido, que normalmente pós jogo eu não coloco o fone de ouvido, mas dessa vez eu estava. De uma maneira muito rápida, eu vejo um clarão na minha frente, algo passando bem perto de mim. A gente tem um reflexo de se defender, eu meio que me escondi e logo vi que tinha acontecido alguma coisa, porque já começaram os gritos e o pessoal gritando “ai, ai, ai Socorro”, e enfim. Eu corro agachado, porque eu não sabia o que estava por vir, né? Não sabia se era o era tiro, se era a bomba, se era pedra, se ia vir mais pedras, se ia vir mais bomba. A gente fica meio atordoado no momento, então eu corro meio abaixado, vou até a frente do ônibus, e daí que começo a notar o que tinha acontecido comigo. Enfim, aí eu começo a tentar entender o que que que estava acontecendo ali”, pontuou.
"Eu estava de fone, então não afetou nada a minha audição. Eu nem escuto muito o barulho da bomba, eu vejo mais o clarão. É, e também estava mexendo no celular assim, então também foi mais difícil de vir alguma coisa pro meu olho. É questão de centímetros pra cá, centímetros pra lá e hoje a gente poderia estar contando uma história totalmente diferente, né? É, pra mim foi assim pro Dudu também. Foi assim para o próprio Escobar, que que machucou bastante a cara. Mas se a Pedra bate um pouquinho mais pra cá, já corria um outro risco, então."
O TRAUMA
"Nunca tinha passado por nada parecido com isso. E a sensação de você se sentir tão vulnerável, tão exposto assim, é horrível. Parece que não tem para onde você ir, que você não tem como se proteger, sabe? Logo que acontece a gente não sabe se tem uma outra emboscada na frente. A gente não sabe se tem mais torcedores esperando a gente. A gente não sabia se parava um ônibus, porque se para o ônibus e se esses torcedores quiserem entrar no nosso ônibus. É uma situação que você se sente muito vulnerável. É horrível de se viver", reforçou o atleta.
"Eu falo por mim, eu posso dizer, acho que por todos no nosso elenco, acho que a gente não tem hoje condição de jogar, sabe? Pelo trauma que foi, pelo susto, pelos momentos de terror que a gente viveu. É muito, muito além de futebol, sabe? Tudo isso envolveu as nossas vidas, envolveu um atentado contra as nossas vidas. Então pensar em futebol, pensar em planejar um jogo taticamente tecnicamente hoje tá ainda está muito difícil", completou.
"Optei por encarar realmente o lado mais positivo da coisa. Por mais que seja um absurdo a gente ter que ver lado positivo no meio desse desse atentado, né? Eu preferi encarar dessa maneira, como um Livramento de Deus. Não é sobre o que aconteceu, mas o que poderia ter acontecido, sabe? Hoje nós estamos todos aqui. Nós estamos vivos, nós estamos aptos. A minha cabeça e o meu coração e estão com um sentimento de gratidão enorme porque a gente está aqui. Eu pude ver novamente meu filho, abraçar minha mulher. Isso não tem preço, sabe?", disse o jogador.
PEDIDO DE UNIÃO
"Hoje a gente fala e todo mundo usa a mesma frase que a gente espera aqui, que as pessoas possam possam ser pegas e que as autoridades possam tomar alguma medida contra eles, mas acho que cabe muito a nós hoje, nós jogadores de futebol, nossa classe das pessoas que que trabalham no futebol, da gente se unir, sabe? Porque a gente espera muito uma É uma posição das pessoas acima de nós e essa posição não está vindo. Já faz dois anos hoje que o Bahia sofreu o mesmo incidente e não aconteceu nada. E hoje eu posso falar que se a gente não tomar uma atitude diferente, daqui uma semana ninguém mais fala sobre esse esse acidente que ocorreu com o Fortaleza, sabe? Acho que nós, jogadores de futebol, nós da classe do futebol, a gente tem que se unir para fazer algo diferente. Não adianta a gente só sentar e esperar e da nossa casa falar, eles têm que tomar alguma medida. Não acho que nós temos que fazer alguma coisa. Não sei como, não sei o quê, mas que alguma coisa tem que ser feita, alguma coisa tem que ser diferente", finalizou.