Com novo status, Ceará amplia investimentos para 2021 e projeta R$ 12 milhões em compras de atletas

Consolidado pelo 4º ano na Série A do Campeonato Brasileiro, Alvinegro muda patamar e forma de atuação no mercado. Especialistas apontam novo status no cenário nacional e crescimento sustentável como grande trunfo

Com quatro rodadas restantes para o fim do Campeonato Brasileiro, o Ceará está bem encaminhado para assegurar vaga na Copa Sul-Americana e ainda possui chances de classificação até para a Taça Libertadores (embora tenha ficado difícil). Independente do torneio internacional que disputará, é certo que o Vovô está assegurado na Série A do Brasileirão para a próxima temporada. E no 4º ano consecutivo disputando a elite do futebol nacional, o Alvinegro ampliará ainda mais o poder de investimento para 2021.

As primeiras movimentações do Ceará no mercado da bola, com o Benfica vendo com bons olhos o empréstimo do atacante colombiano Yony González ao Vovô, que também busca a contratação do centroavante Jael, já dão dimensão de como o clube elevou o sarrafo na busca por reforços.

São dois jogadores com boas possibilidades de mercado e que possuem experiência em grandes competições. Esta cultura, aliás, já havia se iniciado em outubro, quando o Ceará escolheu Felipe Vizeu como primeira grande investida no mercado internacional. O atacante de 23 anos, com mercado e forte concorrência, e o acerto mostrou poder de negociação do Alvinegro.

Orçamento para 2021

Neste ano, o clube terá orçamento recorde, com a nova receita estimada de R$ 151,9 milhões, um aumento de 51% em relação ao ano anterior. É o maior valor na história do futebol cearense – e um dos maiores do Nordeste, ficando atrás somente do valor previsto pelo Bahia para 2020, que era de R$ 179 milhões, mas não se confirmou por conta da pandemia.

As despesas totais foram orçadas em R$ 140 milhões, sendo R$ 100,5 milhões dedicados ao futebol profissional.

Os valores já dão dimensão de como o Vovô pretende entrar com força na temporada, o que implica também em investimentos mais robustos.

Investimento em jogadores

Na projeção orçamentária do Ceará para 2021, chama atenção o valor dedicado para aquisição de jogadores. O clube planejou investir R$ 12 milhões somente na compra de direitos econômicos de atletas.

Além disso, destinou também R$ 8,2 milhões em luvas e comissões na aquisição de atletas, algo fundamental nas negociações com jogadores e empresários.

Em 2020, o Vovô já dava sinais de que estava preparado para esta mudança de patamar. No ano passado, somente com a aquisição de jogadores, o Ceará investiu cerca de R$ 8,1 milhões, com as compras de Charles (50% dos direitos econômicos por R$ 3 milhões), Bruno Pacheco (40% dos direitos econômicos por cerca de R$ 2,3 milhões), Mateus Gonçalves (40% dos direitos econômicos por R$ 2 milhões) e a aquisição do volante Marthã, por R$ 800 mil.

Cenário Nacional

Para Rodrigo Capelo, jornalista especializado em negócios do esporte, repórter do Globoesporte.com e comentarista do SporTV, o Ceará tem mudado de status no cenário nacional e deve passar a mirar objetivos maiores no Brasileirão.

"O Ceará está numa fase em que já conseguiu consolidar a presença na Primeira Divisão. E isso pode ser perdido se fizer muita coisa errada e se cair. Mas começa a chegar num ponto em que tem que mirar um pouco mais pra cima. O objetivo deixa de ser estar apenas na Primeira Divisão, mas ocupar o meio da tabela, chegar mais próximo a uma zona de Libertadores para conseguir uma classificação de vez em quando", afirma o jornalista.

O economista Fernando Ferreira, dono da empresa Pluri Consultoria, especialista em Consultoria em Gestão, Governança, Finanças e Marketing Esportivo, fala como o Ceará é um dos clubes em ascensão no futebol brasileiro.

"A percepção tem sido muito positiva. Tempos atrás, o Bahia era o clube com maior expressão do Nordeste, até midiática. Mas você repara que o trabalho do Ceará e a consolidação no cenário nacional chamam atenção, e isso vem fazendo com que o clube ganhe cada vez mais robustez e credibilidade de mercado. O Ceará tem uma imagem percebida no Sudeste e Sul como uma gestão muito eficiente, pés no chão, que não faz loucuras e tem consistência".

Crescimento sustentável

Rodrigo Capelo fala como o Alvinegro tem se encaixado nas mudanças atuais do cenário econômico do futebol brasileiro.

"Algumas percepções históricas, que foram construídas a partir de Campeonatos Estaduais, um eixo Rio-São Paulo muito forte, preconceituoso e discriminatório, estão mudando hoje em dia. As placas tectônicas do futebol brasileiro estão se mexendo. Não é rápido, nem todo mundo consegue ver, mas os lugares de cada clube, do ponto de vista prático, estão sendo trocados. Tem clubes que estão ascendendo e ficando, de maneira estruturada, que é o caso do Ceará. Até tem arrecadação mais baixa, mas pouca dívida, com administração organizada, transparência, controles e muitas coisas que antes eram desestruturadas".

O jornalista ainda ressalta a importância que o crescimento seja sustentável.

"Tem que fazer investimento, crescer a folha salarial, de maneira saudável, com segurança e responsabilidade. Mas tem que começar a gastar um pouco mais, a fazer coisas que o Ceará até hoje não pôde fazer".

Fernando Ferreira destaca ainda como o Ceará tem se tornado mais que um clube emergente.

"Estava visível a ascensão do Ceará. E isso é um processo longo. É um clube que está se consolidando como de Série A mesmo, e fazendo uma trajetória que me lembra muito a do Athletico-PR, que hoje está em condições melhores que muitos dos 12 'gigantes'. Vejo o Ceará da mesma maneira, é um pouco além já do emergente. Está colhendo frutos, mas é uma coisa que não tem descanso. Cada vez mais vai colhendo bons resultados, mas precisa administrar", finaliza.