Clubes divulgam projeção orçamentária recorde e possibilitam arrecadação de mais de R$ 200 milhões para o ano de 2020. Investimento será destinado, principalmente, ao setor esportivo, mas retorna também em obras e empregos
O futebol cearense em 2019 é um retrato de paixão, profissionalismo e receita. O salto de patamar foi concedido - com a permanência de Ceará e Fortaleza na 1ª divisão - e se transformou em manutenção da hegemonia. Assim, o Estado caminha soberano como o único do Norte-Nordeste com dois representantes garantidos na Série A do Campeonato Brasileiro. Mas o caminhar é além: o impacto das instituições centenárias já rompe o escopo esportivo.
A conclusão é tida ao analisarmos os orçamentos projetados por Vovô e Leão para 2020. Ambos aprovados por unanimidade pelos Conselhos Deliberativos e que, sim, são os maiores da história dos clubes, com R$ 100 milhões e R$ 109 milhões em montante, respectivamente.
Não à toa despertou o interesse até do Governador do Estado, Camilo Santana, que revelou nunca ter assistido tanto futebol como na atual temporada. "Fui um dos que mais torci para manterem os dois cearenses na Série A de 2020. Nunca acompanhei tanto o esporte como esse ano. Tem efeito na autoestima e no orgulho da população. Depois tem a economia com negócios, jogos na Arena Castelão, transporte e restaurante. O Estado tem apoiado os dois times, é visibilidade”, declarou.
A divulgação vem estampada no próprio nome das duas instituições, sediadas na Capital. Tratadas como marcas, funcionam como empresas e, juntas, empregaram 439 pessoas no último ano - 222 ao Tricolor e 217 no Alvinegro. Isso porque a maturação na Série A é sinônimo de avanço interno, mais precisamente, ampliação de departamentos em tricolores e alvinegros.
Traçando como parâmetro os últimos três anos, os dois clubes evoluíram em receita, número de sócio-torcedores e também estrutura. Com gestão qualificada, atrelada ao desempenho em campo, conseguiram ampliar a projeção orçamentária em até três vezes - caso do Ceará, que tinha um aporte financeiro de R$ 30 milhões em 2017.
“Temos Ceará e Fortaleza entre as 7 maiores públicos do Brasil, isso mostra a nossa força em escala nacional. O clube não tinha o perfil de contratar, agora estamos nesse patamar. E isso abre precedente para que a gente acrescente no orçamento a venda de jogadores, por exemplo. Usamos 12 milhões para comprar jogadores e, em 2019, ganhamos 14 milhões com a venda deles, tudo porque conseguimos adquirir os direitos desses atletas”, explicou João Paulo, diretor de finanças do Vovô.
Investimento
Do montante total previsto, a expectativa do time de Porangabuçu é investir 59% do valor diretamente no futebol profissional. A decisão foi tomada para melhorar o rendimento nas competições futuras e se justifica pelo grande aparato estrutural que o clube montou durante a permanência na 1ª divisão, sendo o único representante cearense e chegar ao 3º ano na elite durante os pontos corridos.
Somente em 2019, o clube reformou o centro médico e o vestiário, fez a aquisição de equipamentos de fisiologia e fisioterapia e ainda quitou as parcelas restantes d o CT Cidade Vozão, localizado na Itaitinga. O espaço tem sediado os treinos das categorias de base e do plantel feminino. No Brasileirão, o time principal chegou a fazer uso dos campos enquanto o CT de Porangabuçu recebia melhorias.
A gestão interna do Ceará ainda carrega uma peculiaridade: segundo regimento, determinados membros da diretoria não são remunerados. Sob o mandato do então presidente da instituição, Robinson de Castro, que teve início em 2016, o time ampliou os departamentos internos e contratou gerentes para áreas como o jurídico, o comercial e a comunicação, alavancando a profissionalização.
O último setor que sofreu alterações foi o destinado ao futebol, que recebeu um novo executivo e um gerente dedicados ao trabalho de análise de reforços e transações.
Ascensão meteórica
O Fortaleza segue os passos do crescimento atrelado ao desempenho em campo das últimas competições. Os seguidos acessos da 3ª divisão para a 1ª, somados a classificação para a Copa Sul-Americana, contribuíram com o salto de patamar da equipe de 101 anos.
Para o presidente do clube, Marcelo Paz, o impacto futebolístico extrapola os muros do Pici, agora Centro de Excelência, principalmente com o maior evento da equipe: a partida de futebol.
“São 38 grandes eventos, se contabilizarmos 19 partidas em casa para Ceará e Fortaleza. Tenho pesquisas que comprovam que um jogo repercute 48 horas antes, no dia e ainda 24 horas depois, ou seja, são quatro dias de mídia espontânea direta. Sem contar que movimentos os hotéis, restaurantes, shoppings e as lojas com a movimentação desses torcedores”, afirmou.
Em plena ebulição, o Leão tem como foco o fortalecimento da própria estrutura e emprega 22 funcionários, entre operários e engenheiros. O aparato envolve a construção de mais duas lojas oficiais na próxima temporada, o que expande o montante para 10 - todas administrados pelo time.
Vale ressaltar que a diretoria tricolor, com o Ceará, faz uso da Arena Castelão de forma integrada pelo Governo. Dessa forma, nos dias de jogos, os dois clubes se responsabilizam por todos os funcionários que atuam no equipamento, entre seguranças, responsáveis pelas catracas e vendedores.