Justiça decreta prisão de médico e prefeito afastado de Uruburetama investigado por abuso sexual

José Hilson Paiva é suspeito de abusar sexualmente de várias mulheres enquanto realizava atendimento ginecológico na cidade, desde a década de 1980

Escrito por Redação ,
Legenda: Além de ginecologista conceituado, apelidado de “Mão Santa”, Hilson de Paiva foi prefeito de Uruburetama em 1989, vice-prefeito em 2012 e eleito para o atual mandato com 76% dos votos
Foto: Foto: JL Rosa

A Justiça decretou, nesta sexta-feira (19), a prisão de José Hilson Paiva, médico de Uruburetama suspeito de abusar sexualmente de várias mulheres enquanto realizava atendimento ginecológico na cidade. Os abusos eram filmados por ele mesmo, sem o consentimento das mulheres. As vítimas denunciam que o médico e prefeito, agora afastado, cometia os supostos crimes desde a década de 1980.

Conforme o advogado de José Hilson Paiva, Leandro Vasques, , o prefeito afastado deve se apresentar às autoridades policiais ainda nesta sexta-feira (19). Em nota, a defesa afirmou que a prisão preventiva é incabível por considerar que "os fatos em questão datam de muitos anos atrás, o que elimina o requisito da contemporaneidade exigido pelos tribunais para a decretação da segregação cautelar".

A decisão ainda inclui um pedido de busca e apreensão em endereços indicados pela autoridade policial, localizados tanto em Fortaleza quanto na cidade de Uruburetama. A medida é para apreender computadores, celulares, tablets, HDs externos, CDs e DVDs gravados, receituários médicos, prescrições, agendas de consultas, além de demais objetos relacionados aos fatos delituosos. 

"A prisão preventiva se faz necessária afim de preservar higidez das provas a serem produzidas em juízo eis que da leiura das peças deprende-se que o representado venha utilizando sua inflência para se manter impune ao longo de vários anos do que se pode deduzir a possibilidade de ele, o representado, em liberdade embaraçar investigação policial e instrução criminal", diz o documento na decisão emitida pelo juiz Jose Cleber Moura do Nacimento. 

Com o afastamento da prefeitura, após a repercussão das denúncias, o médico saiu de Uruburetama e veio para Fortaleza. 

O Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE) havia pedido a prisão preventiva do médico na quarta-feira (17).  A Promotoria de Justiça de Uruburetama argumentou, no pedido de prisão divulgado na quinta-feira (18), que o médico poderia comprometer as investigações por sua "influência no município e no meio político".  

Para a Promotoria, Paiva poderia "coagir, constranger, ameaçar, corromper, enfim, praticar atos tendentes a comprometer a investigação do Ministério Público e da Polícia Civil". 

O Sistema Verdes Mares teve acesso a 63 vídeos feitos pelo próprio médico. Em alguns, ele aparece com a boca nos seios das pacientes ou tentando penetrá-las sob o pretexto de ser um procedimento médico para diminuir inflamações. 

Profissionais da Associação de Medicina Brasileira assistiram às imagens e avaliam que há “claramente estupro das pacientes”. 

As primeiras denúncias contra José Hilson ocorreram em 1994, mas o caso foi arquivado. As mulheres afirmaram que não denunciaram por medo ou porque dependiam do prefeito para manter emprego ou ter acesso a serviços públicos. 

Em 2018, quatro mulheres voltaram a denunciar Hilson Paiva por abuso durante atendimento ginecológico. O juiz arquivou o caso, e as mulheres foram obrigadas a pedir desculpas ao então prefeito para evitar serem processadas por calúnia e difamação. Apenas uma delas se recusou e manteve a denúncia. 

Após repercussão do caso em matéria veiculada pelo Fantástico no último domingo (14), José Hilson foi afastado da prefeitura de Uruburetama, expulso do partido PCdoB, ao qual era afiliado, e impedido de exercer a medicina por seis meses em decisão do Conselho Regional de Medicina do Estado do Ceará (Cremec). 

Investigação 

Pelo menos duas vítimas já foram ouvidas na unidade da Polícia Civil de Uruburetama até esta quinta-feira (18). Outras quatro mulheres estiveram na Delegacia de Cruz, onde José Hilson trabalhou como médico da Prefeitura entre 1992 a 2012 e manteve um consultório particular na cidade até 2018, onde também teria cometido os crimes. 

O MPCE afirma ainda que já investigava o médico desde junho deste ano, pelos mesmos vídeos obtidos pelo Sistema Verdes Mares. O órgão responsável pela apuração é o Núcleo de Investigação Criminal (Nuinc) e, até o momento, seis vítimas e uma testemunha já foram ouvidas. 

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