Advogado é apontado como suspeito de feminicídio da namorada

A vítima, identificada como Jamile Correia, 46, foi deixada por Aldemir Pessoa Júnior no IJF, inconsciente e com um tiro no peito, sob alegação de que ela tinha tentado se matar. A Polícia, no entanto, não acredita nessa versão

Escrito por Emerson Rodrigues/Jéssica Costa/Emanoela Campelo de Melo , seguranca@verdesmares.com.br
Legenda: Jamile de Oliveira e Aldemir Pessoa Júnior namoravam há cerca de cinco meses. Os dois estavam morando juntos

A Investigação sobre a morte misteriosa da empresária Jamile de Oliveira Correia, 46, cuja suspeita inicial de suicídio teve desdobramentos no dia seguinte ao sepultamento (2). A apuração da Polícia Civil coloca o advogado Aldemir Pessoa Júnior como o suspeito de ser autor do feminicídio da namorada. A delegada Socorro Portela e o delegado Felipe Porto, responsáveis pelo caso, não quiseram dar entrevista nem fornecer detalhes das investigações. A Polícia Civil informou, em nota, que o caso está em andamento e não vai se pronunciar para não comprometer o trabalho policial.

A reportagem apurou que tudo aconteceu entre o fim da noite do dia 29 de agosto e a madrugada do dia 30, deste ano, em um condomínio de luxo, na Rua Joaquim Nabuco, Meireles. Após uma briga iniciada ainda na entrada do prédio entre o advogado e Jamile, que resultou num hematoma no olho dela, a empresária subiu para o apartamento às pressas, e o advogado a acompanhou. Já nos primeiros minutos do dia 30 de agosto, Jamile sai do apartamento carregada pelo advogado e o filho adolescente dela com um tiro no peito, disparado por uma pistola calibre 380, que pertence a Aldemir Pessoa.

Um vídeo das câmeras do elevador do prédio, que o Sistema Verdes Mares teve acesso, com exclusividade, mostra quando o menino de 14 anos de corpo franzino pega a mãe pelos braços e Aldemir segura pelas pernas. Em determinado momento, o advogado carrega a mulher apenas por uma perna para colocá-la no elevador do prédio. Conforme uma fonte ligada à família da vítima, Aldemir Pessoa levou Jamile baleada para o Instituto Doutor José Frota, mesmo ela tendo plano de saúde privado, e informou aos médicos que ela tinha tentado se matar. O advogado deixou Jamile sozinha, em estado grave, na unidade hospitalar e voltou para o apartamento dela, onde ele estava morando há cerca de cinco meses com a vítima e o filho dela.

Gravidade

O que intrigou os investigadores é que, mesmo diante da gravidade da situação, o advogado não avisou à Polícia sobre o caso, nem aos familiares de Jamile. A reportagem apurou que ele limpou o apartamento e usou o WhatsApp de Jamile, respondendo mensagens como se fosse a vítima.

A família só foi informada sobre o caso no dia seguinte (30), às 18h30. Jamile Correia morreu às 7h do dia 31 de agosto no IJF. A situação começou a mudar quando o caso chegou ao conhecimento da Polícia Civil, no dia seguinte ao sepultamento, e as investigações tiveram início.

No 2° Distrito Policial, a história contada pelo advogado não convenceu a Polícia, conforme apurou a reportagem. Segundo uma fonte (identidade preservada), Aldemir é atirador desportivo e não entregou as chaves do apartamento de Jamile.

Legenda: O vídeo mostra Jamile sendo carregada pelo namorado e pelo filho

O advogado continuou usando os bens dela, recebeu aluguéis dos imóveis que ela tinha e quis ficar com a guarda do menino. O adolescente, filho da vítima, foi tirado de Aldemir no dia 2 de setembro, no 2º DP, e entregue a uma tia paterna. O Conselho Tutelar acompanhou a oitiva do adolescente na Delegacia. O pai do adolescente faleceu no dia 3 de agosto de 2017 durante um acidente de trânsito na Avenida Engenheiro Santana Júnior, bairro Papicu.

 

Depoimento

Aldemir disse, na Polícia, segundo uma fonte, que ele e o menino tentaram evitar o disparo, mas a trajetória da bala no corpo de Jamile não condiz com o relato do advogado, de acordo com o laudo cadavérico. Na última sexta-feira, ele foi apontado como suspeito de ser o autor do feminicídio. A arma, que teria sido usada na morte, foi apreendida.

Uma pessoa ligada à família da vítima contou estar abalada com a morte de Jamile. Segundo a mulher, que pediu para não ser identificada, a amiga e Aldemir não mantinham uma relação amistosa: "Tudo isso me abala muito. A única coisa que ele queria dela era o patrimônio. Quando o marido dela faleceu, ele deixou um patrimônio alto. Ela dizia que saía com ele e estava se divertindo, mas que não podia se envolver com uma pessoa que não conhecia. Teve uma vez que eles saíram e ele agrediu ela, deu um murro no olho da Jamile. Não sei de muita coisa porque ela era muito discreta, não gostava de expor sua vida", disse.

A mulher acredita que Aldemir planejou o assassinato e ainda revela que o suspeito queria que Jamile assinasse um papel repassando a ele todo o seu patrimônio. "Na minha cabeça, ele arquitetou tudo. Fez confusão e matou ela. Não digo que tenho suspeita, digo que ele atirou e matou ela dentro do closet do apartamento. Ele tinha uma folha onde dizia para ela passar todo o patrimônio dela para ele. Ela disse que ele podia matar ela e ela não passava. Ela dizia para mim que ele era um carrapato, que mandava ele sair do apartamento e ele não saía. Ele disse que se ela mandasse de novo ele sair, não ia ser bom para ela, então aí já era uma ameaça", acrescentou.

Suspeito

Por telefone, o suspeito informou à reportagem que o filho de Jamile também estava no apartamento no dia do suposto suicídio. Segundo ele, não houve assassinato, e as suposições sobre o crime só acontecem porque a mulher nunca tinha apresentado indícios de que seria capaz de se matar: "Eu não a matei. O filho dela estava comigo no apartamento. Quer uma prova maior do que esta? Nós morávamos juntos há cinco meses. Patrimônio por patrimônio, eu tenho o meu, até passei meu carro para o nome dela poucos dias antes de tudo acontecer, não se trata disto".

Aldemir recorda que arrombou a porta do closet e já se deparou com a namorada com a arma apontada para o próprio peito: "foi um disparo só. Nós íamos casar agora dia 18, no dia do aniversário dela. Foi um suicídio e, mesmo assim, de qualquer forma, tenho minha consciência tranquila".

Outra pessoa ligada a Jamile reiterou não acreditar na hipótese do suicídio. O entrevistado destacou que a empresária era uma pessoa alegre, que amava o filho, gostava de se cuidar e sempre falava que não queria deixar o adolescente sozinho.

"Ela nunca mostrou nenhum sinal que tinha depressão e sempre fazia planos. Era uma pessoa preocupada em se cuidar, em estar sempre bem. No dia do enterro, ninguém acreditou no choro dele. Não caía uma lágrima", ponderou o entrevistado.

Acidente matou marido de Jamile há dois anos

O marido de Jamile Correia, o empresário José Aluísio Correia Neto, de 54 anos, morreu no dia 3 de agosto de 2017 de forma trágica em um acidente envolvendo cinco veículos, na Avenida Engenheiro Santana Júnior, em Fortaleza. A vítima dirigia um veículo Chevrolet Corsa Classic quando foi surpreendida por uma Range Rover, vermelha, que descia do viaduto em alta velocidade. A condutora do Range Rover, alegou que teve um mal súbito e acelerou o veículo. Em seguida, ela teria desmaiado. O carro desceu em disparada, atingiu um veículo Fiat Palio, um Honda WRV e um caminhão. O Corsa guiado por Aluísio ficou preso no caminhão. O homem morreu na hora. Além da condutora da Range Rover, outras duas pessoas ficaram feridas. O caso tramita na esfera criminal e cível. Após iniciar o relacionamento com Jamile, o advogado Aldemir Pessoa Júnior passou a ser o representante jurídico dela nesse caso.

 

 

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