'Não vou desistir', diz estudante de 44 anos alvo de preconceito e deboche de colegas em Bauru
Patrícia Linares contou que sonha em ser biomédica desde adolescente
Desistir dos sonhos não é uma opção para Patrícia Linares, 44 anos, estudante que foi vítima de deboche e preconceito de três colegas de turma de uma faculdade privada de Bauru, São Paulo.
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Completando mais um ano de vida nesta terça-feira (14), em entrevista ao G1, Patrícia contou como se sentiu quando soube do vídeo gravado pelas colegas.
“Uma colega veio me dizer que fizeram um vídeo caçoando da minha idade, e aí ela me mostrou o vídeo. Como eu estava com muito medo do trabalho, até porque é algo novo para mim, eu comecei a chorar”, relembra ela, que soube do vídeo pouco antes da apresentação de um trabalho.
Após a repercussão do caso, Patrícia encontrou uma rede apoio em outros estudantes da faculdade. Na sexta-feira (10), colegas do curso se encontraram com Patrícia e se mostraram revoltados com o caso. O grupo prestou solidariedade e entregou cartas, flores e chocolates.
“Eu estou estarrecida com essa corrente de amor que eu tenho recebido. A gente vê muitos relatos na internet de pessoas que sofrem preconceito, mas eu não sabia que tinha tanta gente bacana, que também já passou por esse tipo de coisa. Eu chorei, mas eu tenho pessoas que cuidam muito de mim”, contou.
Volta aos estudos
A universitária disse que a ideia de voltar a estudar surgiu durante a pandemia, quando a loja que mantinha há quase 11 anos passou por dificuldades financeiras. Após quase três décadas do fim do ensino médio, Patrícia decidiu buscar vaga na faculdade e teve apoio de familiares.
“O meu esposo me disse: ‘se você tem o desejo de estudar, a gente vai fazer o possível pra você estudar, pra ter uma nova profissão’. Fechar a loja me abalou demais. Então eu tinha que vivenciar outras coisas. Todo mundo se reuniu pra me ajudar e comecei esse ano a graduação."
A mãe, enfermeira, foi inspiração na hora de escolher cursar Biomedicina: “Tinha que ser na área da saúde”, relatou.
Dos inúmeros caminhos que Patrícia aspira percorrer, o único que ela diz não querer é o da desistência. Por isso, mesmo em meio à polêmica, retornou às aulas na segunda-feira (13). “É um sonho de adolescência que nunca pude realizar porque tive várias interrupções de estudo. E agora também não vou desistir, o sonho não morreu dentro de mim”, afirmou.
Relembre vídeo polêmico
O vídeo, que viralizou nas redes sociais na sexta-feira (10), mostra três colegas de turma de Patrícia ironizando sua idade: “Gente, quiz do dia: como ‘desmatricula’ um colega de sala?”. Logo, outra responde: “Mano, ela tem 40 anos já. Era para estar aposentada”. “Realmente”, concorda a terceira estudante.
Em seguida, a pessoa que grava o vídeo diz: “Gente, 40 anos não pode mais fazer faculdade. Eu tenho essa opinião”.
Conforme o g1, a estudante Bárbara Calixto disse que as três estão arrependidas do que falaram e que o vídeo foi uma "brincadeira de mau gosto".
Ela afirmou que as imagens foram postadas apenas para amigos próximos, no Instagram, mas acabou saindo da roda de amigos e viralizou.
Estudantes podem responder na Justiça
Além de Bárbara, as outras jovens que aparecem no vídeo são as estudantes Beatriz Pontes e Giovana Cassalatti. As três podem responder na Justiça pelo episódio.
"Nunca foi na intenção de dizer que pessoas de mais idade não podem adquirir uma graduação, pois não tenho esse pensamento. Foi uma fala imprudente e infeliz que tomou uma proporção que não imaginávamos", disse uma das estudantes.
Resposta da Universidade
A Unisagrado divulgou nota horas depois que o vídeo viralizou. No comunicado, afirma que não compactua com qualquer tipo de discriminação e que acredita que “todos devem ter acesso à educação de qualidade, desde pequenos até quando cada um quiser, porque educação é isso: autonomia”.
A publicação também diz que “as oportunidades não são iguais para todo mundo em todos os momentos da vida. Sabemos, por exemplo, que os pais, muitas vezes, abrem mão da sua formação para oferecer as melhores oportunidades para seus filhos e, somente depois, optam por se profissionalizarem”.
Segundo uma das jovens que aparece no vídeo, a faculdade orientou as estudantes e "deu a oportunidade de recomeçar e amadurecer, mudar nossos pensamentos e perceber que comentários assim, sendo brincadeira ou não, são levados muito a sério".