Dia de Santa Bárbara: entenda o sincretismo religioso da data e qual a relação com Iansã
Algumas religiões celebram as divindades nesta quarta-feira (4)
Algumas religiões, como o catolicismo e a umbanda, celebram nesta quarta-feira (4) o Dia de Santa Bárbara, apontada como protetora dos raios e dos trovões, além de protetora dos artilheiros. No Brasil, a data também pode ser associada à divindade Iansã (Oyá), cultuada, por exemplo, pelo candomblé.
A convergência da data acontece devido ao processo de sincretismo religioso, que acontece quando há a fusão entre diferentes doutrinas, cujos elementos permanecem com interpretações próprias. O babalorixá Leo de Oxum, que segue o candomblé há 35 anos, explica que a celebração de Iansã em 4 de dezembro acontece principalmente no Estado da Bahia ou em terreiros que seguem o axé baiano.
"A gente acaba sofrendo essa influência cultural da Bahia, como dia 2 de fevereiro é Dia de Iemanjá [mesma data do Dia de Nossa Senhora dos Navegantes], então o dia 4 a Bahia comemora Iansã e, automaticamente, todos os terreiros, principalmente aqueles que têm a sua raiz ancestral oriunda de algum axé da Bahia, também passa a comemorar 4 de dezembro como também o Dia de Iansã, mas, na verdade, hoje é o dia de Santa Bárbara", detalha.
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A mãe Ângela, que atua pela umbanda, detalha que, neste dia, a divindade também pode ser cultuada por algumas casas da religião, mas não é o caso da dela, que nesta quarta celebrará Santa Bárbara. "Cada pai ou cada mãe sabe de uma informação diferente. A minha nunca vai ser igual a da Maria, nunca vai ser igual a do Pedro, né? Cada casa cultua de sua forma."
Apesar das duas serem associadas devido ao sincretismo e possuírem relação com as tempestades e os raios, é importante destacar que elas não são a mesma divindade.
"A gente não tem como associar, porque Santa Barbara é branca e Iansã é uma mulher negra, uma orixá negra. Então, se você associa Santa Barbara à Iansã, às vezes, isso pode soar como desapropriação cultural", como esclarece o babalorixá.
Conheça Santa Bárbara
Na Idade Média, Bárbara era filha de um rico e ciumento senhor, que a mantinha fechada em uma torre durante a sua ausência. Segundo o livro “Um Santo Para Cada Dia”, escrito por Mario Sgarbossa e por Luigi Giovannini, a jovem era trancafiada pelo pai, que temia que a excepcional beleza dela atraísse pretendentes que não interessavam.
Após se converter à fé cristã, a moça atraiu a ira paterna, que seguia uma religião politeísta romana, então ela fugiu. Condenada a morte, teve entre seus mais cruéis acusadores o próprio pai, que no momento da execução quis substituir o algoz. “Mas quando a espada cortou o pescoço da jovem mártir, um raio atingiu o desumano pai reduzindo-o a cinzas”, detalha a publicação.
Segundo mãe Ângela, a morte da santa aconteceu em 4 de dezembro, por isso a divindade é homenageada nesta data. No Brasil, Santa Bárbara é considerada a padroeira da artilharia — uma das armas do Exército.
Conheça Iansã
Símbolo da coragem, da batalha, da luta, das tempestades e dos raios, o babalorixá Leo de Oxum explica que Iansã é a representação da mulher empoderada, que trabalha, que faz seu nome sem precisar se esconder atrás de uma presença masculina.
"Iansã é a representação daquela mulher que defende sua família, seus filhos com unhas e dentes, que não tem medo de nada. [...] Então, toda pessoa de Iansã, todo filho ou filha de Iansã, pega da sua mãe essa austeridade, esse empoderamento, esse espírito de liderança. São pessoas que já chegam mostrando, até marcando o seu território, chamam a atenção, são falantes, que gostam de falar, de gesticular, de mostrar que estão ali, presentes, fazendo o que querem."
"A cor de Iansã prevalece o vermelho, a terracota também, o marrom também é cor de Iansã. Ela é representada pelo búfalo, pelos ventos. Ela é dona dos ventos, das tempestades, dos raios", completa.