Entenda o que está acontecendo no Equador, país que passa por onda de violência
Presidente do Equador decretou estado de exceção em todo país na segunda-feira (8)
Nos últimos anos, o Equador tem enfrentado diversas ondas de violência com sequestros de policiais e fugas de presos. Na última segunda-feira (8), o chefe da principal quadrilha criminosa do país, Adolfo Macías, conhecido como "Fito", fugiu do presídio em que ele estava. O homem pertence ao grupo Los Choneros.
Por conta dessa fuga, o presidente Daniel Noboa declarou estado de exceção por 60 dias em todo o país, inclusive nas prisões. A medida inclui um toque de recolher de seis horas, a partir das 23h locais (1h de Brasília).
Além da fuga de "Fito", um dos chefes da Los Lobos, Fabricio Colón Pico, fugiu nesta terça-feira (9). Ele tinha sido preso na sexta-feira (5) por sequestro e pela suposta responsabilidade em um plano para assassinar a procuradora-geral.
No cenário de crise, o Equador é um país situado entre a Colômbia e o Peru, os maiores produtores de cocaína do mundo. Em 2023, o país encerrou o ano com mais de 7,8 mil homicídios e 220 toneladas de drogas apreendidas, novos recordes para o país de 17 milhões de habitantes.
Desde 2021, os confrontos entre presidiários deixaram mais de 460 mortos. Além disso, os homicídios nas ruas entre 2018 e 2023 aumentaram quase 800%, passando de 6 para 46 por 100.000 habitantes.
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Privatização da segurança pública
Para o professor de relações internacionais da ESPM, Leonardo Trevisan, a crise está relacionada com a privatização da segurança pública. Em entrevista ao Uol News, nesta terça-feira (9), ele relembrou o assassinato ao candidato à presidência do Equador Fernando Villavicencio, que recebeu três tiros em agosto de 2023.
"A questão da segurança pública é a só a parte mais visível desse iceberg. Esse episódio de hoje remonta ao candidato assassinado em agosto. Estava visível o descontrole absoluto. Qual a solução que as urnas apontaram? A solução das urnas foi entregar o Estado ao homem mais rico do Equador", disse Leonardo.
"Noboa que prometeu exatamente isso que está fazendo: privatizar a segurança pública, transformar a segurança pública em um negócio muito eficiente. Acho que esse talvez é o processo mais periclitante e o que estamos assistindo é o resultado disso".
"No Equador, teve uma absurda privatização da segurança pública, talvez o mais alto índice de toda América Latina: o país tem mais de 125 mil homens armados em segurança privada, isso é o dobro dos policiais", acrescentou.
Fuga de chefe de grupo criminoso
Esta é a primeira crise enfrentada pelo governo de Noboa, que assumiu o poder em novembro de 2023 com a promessa de atacar com rigor as quadrilhas do narcotráfico, vinculadas a cartéis colombianos e mexicanos.
"São dias extremamente difíceis porque a decisão importante é enfrentar frontalmente estas ameaças com características terroristas", assegurou o secretário de Comunicação do governo, Roberto Izurieta, em entrevista ao canal digital Visionarias.
Fito cumpria pena de 34 anos de prisão no presídio Regional de Guayaquil por crime organizado, narcotráfico e homicídio. Los Choneros disputam com cerca de 20 quadrilhas a rota do narcotráfico em uma guerra sangrenta que assombra o país.
Mortes e prisões
A crise de segurança e a onda de violência que atingem o Equador já deixaram pelo menos 10 mortos, conforme informações de autoridades locais. O presidente Daniel Noboa classificou 22 facções criminosas como grupos terroristas.
As autoridades também relataram o sequestro de sete policiais. Dez prisões foram feitas em relação aos crimes, disse a polícia.
Ainda segundo balanço parcial divulgado pela Polícia Nacional do Equador, na madrugada de quarta-feira, 70 pessoas foram detidas.