Conheça Yamandú Orsi, candidato da esquerda que venceu as eleições presidenciais no Uruguai
Pupilo do ex-presidente uruguaio José "Pepe" Mujica, o chefe de estado eleito sucederá Luis Lacalle Pou em 1º de março de 2025
O esquerdista Yamandú Orsi, pupilo do ex-presidente uruguaio José "Pepe" Mujica, é o novo presidente do Uruguai, após vencer o segundo turno nesse domingo (24) contra o candidato do partido governista de centro-direita Álvaro Delgado, segundo resultados oficiais.
Com 94,4% dos circuitos eleitorais apurados, Orsi obteve 1.123.420 votos, contra 1.042.001 de Delgado, informou o Tribunal Eleitoral. Seu adversário Álvaro Delgado, candidato do partido no governo, de centro-direita, reconheceu a vitória de Orsi após a divulgação das projeções das pesquisas.
"Hoje os uruguaios definiram quem exercerá a Presidência da República. E quero enviar aqui, com todos esses atores da coalizão, um grande abraço e saudações a Yamandú Orsi", disse Delgado, cercado pelos parceiros da aliança governante que o apoiou no segundo turno.
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Buzinas e gritos de euforia eclodiram na capital Montevidéu, reduto da Frente Ampla no país, quando as projeções foram divulgadas. A Justiça Eleitoral espera ter o resultado oficial por volta das 22h (mesmo horário em Brasília).
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva parabenizou Orsi na rede X. "Essa é uma vitória de toda a América Latina e do Caribe. Brasil e Uruguai seguirão trabalhando juntos no Mercosul e em outros fóruns pelo desenvolvimento justo e sustentável, pela paz e em prol da integração regional", afirmou.
Com Orsi, a Frente Ampla retorna ao governo que perdeu em 2020 após três mandatos consecutivos, um deles sob Mujica (2010-2015). No Uruguai, o voto é obrigatório e não existe o voto consular.
Quem é Yamandú Orsi
O professor de história Yamandú Ramón Antonio Orsi Martínez, de 57 anos, é apadrinhado pelo popular ex-presidente José "Pepe" Mujica. De perfil moderado, ele é, como Mujica, descendente de espanhóis e italianos, educado em escolas públicas e comprometido com a igualdade, o DNA da idiossincrasia uruguaia. Nasceu na zona rural, em uma casa sem luz, e cresceu na pequena cidade de Canelones.
Em 1991, formou-se professor de História e lecionou em escolas de Ensino Médio do interior até 2005, quando iniciou sua carreira no governo de Canelones, primeiro como secretário-geral por quase 10 anos e depois como prefeito por dois mandatos. Ele renunciou ao cargo para disputar as internas partidárias de junho, que venceu com mais de 60% dos votos, superando em muito a ex-prefeita de Montevidéu Carolina Cosse, que contava com o apoio de comunistas e socialistas e se tornou sua companheira de chapa.
Quando jovem, Orsi cuidava da loja de seus pais, foi coroinha na Igreja Católica e dançarino de folclore. Em 1989, aderiu ao Movimento de Participação Popular fundado por Mujica. Foi casado duas vezes, a última com a mãe de seus filhos gêmeos de 12 anos.
O homem que dizia ter medo da lua quando criança já disse que se prepara para ser presidente há muito tempo. No entanto, não apresentou um plano de governo antes das eleições, o que suscitou críticas de seus opositores. Ele também foi questionado por não participar de debates, embora tenha concedido entrevistas a muitos veículos de comunicação na reta final da campanha.
O professor de história sucederá ao presidente Luis Lacalle Pou no dia 1º de março, com um nível de aprovação próximo de 50%, mas constitucionalmente impedido de uma reeleição imediata.
No primeiro turno, em 27 de outubro, Orsi teve 17,2 pontos percentuais a mais que Delgado, que no segundo turno contou com o apoio de todos os partidos da coalizão governista, que juntos obtiveram 47,7%.
Mudança segura e não radical
O Uruguai, a democracia mais sólida da América Latina, tem uma alta renda per capita e níveis mais baixos de pobreza e desigualdade em comparação com o resto da região.
Mas o elevado custo de vida e a criminalidade estão no centro das preocupações dos eleitores neste país agrícola, com 3,4 milhões de habitantes e 12 milhões de cabeças de gado.
"Para os laburantes (trabalhadores), estes cinco anos não foram nada bons", disse à AFP Gustavo Maya, entregador de gás de 34 anos, que apoia Orsi. "Ando o dia todo na rua e o que me preocupa muito é a insegurança", reclamou.
William Leal, pedreiro de 38 anos, apoiou Delgado. "Quero que este governo continue porque houve muito mais trabalho no setor da construção", disse.
Após votar na cidade de Canelones, 50 quilômetros ao norte de Montevidéu, Lacalle Pou garantiu uma transição "com a maior informação possível".
Orsi, que votou muito próximo do circuito do presidente, disse que espera encontrar-se "o mais rápido possível" com Lacalle Pou.
Nenhum dos dois blocos terá maioria parlamentar, já que nas eleições de outubro a Frente Ampla conquistou 16 das 30 cadeiras no Senado, e a coalizão governista, 49 dos 99 assentos na Câmara dos Deputados. "Será uma boa oportunidade para buscar acordos", disse Delgado, ex-secretário da presidência de Lacalle Pou. "Todos concordamos com a necessidade de acordos", disse Orsi.
Os analistas não preveem uma mudança de rumo: Orsi prometeu "uma mudança segura que não será radical".