Antiamericanismo cresce no Irã e no Iraque após morte de general

Milhares de pessoas, enlutadas pelo assassinato do líder da tropa de elite do Irã, ocuparam as ruas de Bagdá aos gritos de "América é o grande satã"

Escrito por Redação ,
Legenda: Ataque que matou um general iraniano detonou uma onda de antiamericanismo no Irã e no Iraque
Foto: Foto: AFP

Um dia depois da morte do general iraniano Qassim Suleimani, o sentimento de antiamericanismo tomou conta, nesta sábado, das ruas de Bagdá, capital do Iraque, onde ocorreu, na sexta-feira (3), o ataque militar dos EUA com mísseis contra o aeroporto onde foi abatido o líder das Forças Quds, tropa de elite da Guarda Revolucionária do Irã. Gritando frases como "América é o grande satã" e "morte aos EUA e à Israel", os enlutados foram às ruas, vestidos de fardas militares pretas, carregando bandeiras do Iraque e das milícias iraquianas apoiadas pelo Irã.

Além dos gritos nas ruas, a situação dos militares americanos na capital iraquiana também é tensa. Neste sábado, dois ataques visaram quase simultaneamente a Zona Verde de Bagdá e uma base aérea iraquiana que abriga soldados americanos ao norte da capital, conforme autoridades dos serviços de segurança.

Dois morteiros caíram na Zona Verde, onde está localizada a embaixada dos Estados Unidos, atacada na terça-feira por milhares de combatentes e partidários pró-Irã, informaram autoridades da segurança do Iraque e da Zona Verde.

Segundo fontes da segurança no local, no mesmo momento, menos de 100 quilômetros ao norte, dois foguetes Katyusha caíram na base aérea de Balad, que abriga soldados e aviões americanos,

De acordo com o comando militar iraquiano, os ataques não fizeram vítimas. Logo após esses disparos, drones dos EUA sobrevoaram a base para missões de reconhecimento, segundo as fontes.

Os apelos por "vingança" aumentam em Bagdá e em Teerã, enquanto os americanos já consideram há vários meses as facções armadas pró-Irã no Iraque uma ameaça mais perigosa do que os jihadistas do grupo Estado Islâmico (EI).

Desde o fim de outubro, 13 ataques com foguetes atingiram os interesses dos EUA no Iraque, matando um americano em 27 de outubro em uma base no centro do país. Nenhum ataque foi reivindicado, mas Washington acusa as facções pró-Irã da Hachd al-Shaabi - uma coalizão paramilitar integrada ao Estado iraquiano - de serem responsáveis.

Ocupação

O ataque dos EUA que matou um general iraniano fez o Iraque recordar os anos seguintes à invasão americana em 2003, com facções que ameaçam novamente as tropas americanas no país e o temor de uma guerra no Golfo.

O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, afirmou que "o mundo não pode arcar com outra guerra no Golfo".

O ataque supõe uma escalada nas tensões entre o Irã e os EUA no território iraquiano e desencadeou críticas contra Washington, como nos anos após a invasão que derrubou o ditador Saddam Hussein.

"A retórica antiamericana retorna", diz o especialista Renad Mansour. "Os EUA não fizeram algo tão agressivo em muito tempo, por isso trouxeram lembranças da ocupação militar americana no Iraque".

Soberania

O primeiro-ministro iraquiano, Adel Abdel Mahdi, condenou o ataque como uma violação da soberania e do mandato do Exército americano.

Cerca de 5.200 soldados americanos estão mobilizados no Iraque para treinar e aconselhar as tropas locais na luta contra o que resta do grupo jihadista Estado Islâmico.

As facções pró-iranianas pedem há meses que o Parlamento revogue o acordo bilateral que permite a presença das tropas americanas no Iraque. Vários líderes da Hashd Al Shaabi também pediram a saída das forças americanas. Um deles, Hadi Al Ameri, instou os deputados a "tomar uma decisão corajosa".

Por sua vez, o clérigo Moqtada Sadr reativou seu Exército Mahdi, uma milícia que lutou contra as tropas americanas após a ocupação, mas que se dissolveu quase uma década atrás. Qais Al Jazali, um líder paramilitar, também pediu que seus combatentes "estejam preparados".

E o Kataeb Hezbollah, uma facção de linha dura da Hashd Al Shaabi, previu que o ataque americano será "o começo do fim da presença dos Estados Unidos no Iraque e na região".

O parlamento iraquiano realizará uma sessão hoje, e os deputados podem pedir a expulsão das tropas americanas. "Os iraquianos estão se dando conta que os Estados Unidos não são aliados de longo prazo", aponta o especialista Renad Mansour. "Agora, claramente o Irã tem a vantagem no que diz respeito à influência no Iraque", diz ele.

Treinamento suspenso

A Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) suspendeu, neste sábado, as operações de treinamento das forças de segurança no Iraque após a morte do general iraniano Qassim Suleimani em ação dos EUA no país

Alertas nos EUA

Nos EUA, riscos de ataques levaram o Departamento de Segurança Interna a fazer um alerta sobre a possível invasão a sistemas e computadores. Nova York, Washington e Los Angeles reforçaram a segurança por temerem ataques

Medidas de segurança

O governo da Alemanha elevou medidas de segurança contra ameaças. As medidas visam proteger cidadãos e propriedades americanas e judaicas no país.