Bairro em zona de risco de colapso de mina em Maceió registrou mais de mil tremores em cinco dias
A possibilidade iminente de ruína da região fez a prefeitura municipal declarar estado de emergência por 180 dias
O bairro Mutange, em Maceió (AL), localizado em zona de risco de colapso de mina, registrou mais de mil tremores em cinco dias. A informação foi repassada pelo governo federal nesta sexta-feira (1º), após reunião com a Defesa Civil Nacional, que está na cidade por conta dos abalos sísmicos causados pela atividade de mineração da Braskem, que isolaram bairros e deixaram desabrigados.
"A título de informação, no período de 19 a 24 de novembro, foi registrado um total de 1.011 eventos sísmicos na área. Além da quantidade elevada de abalos, observou-se que a profundidade dos sismos se tornava mais rasa, indicando uma possível movimentação da cavidade em direção a superfície", informou o diretor de obras da Defesa Civil Nacional, Paulo Falcão.
Além do bairro Mutange, os bairros que mais sentiram tremores foram Pinheiro e Bebedouro, locais que já foram isolados e tiveram famílias realocadas. Conforme a Defesa Civil de Alagoas informou ao Uol nesta sexta, a mina da Braskem pode colapsar a qualquer momento.
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“A Defesa Civil Nacional e o Gade (Grupo de Apoio a Desastres) já monitoram a situação do lugar há muito tempo. Por determinação do presidente Lula e do presidente em exercício, Geraldo Alckmin, estamos com todo o nosso aparato de prontidão para auxiliar Alagoas em caso de necessidade”, informou Waldez Góes, ministro da Integração e Desenvolvimento Regional.
A mina de sal-gema da Braskem, no bairro do Mutange, se movimentou mais de 1 metro em apenas 48 horas, segundo a Defesa Civil de Alagoas.
A estrutura, que vinha se movimentado aproximadamente 50 cm por dia, teve o deslocamento intensificado nos últimos dias. A possibilidade iminente de ruína da região fez a prefeitura municipal declarar estado de emergência no local, na quarta-feira (29), pelo período de 180 dias.
Desabrigados
A Prefeitura de Alagoas montou um esquema de abrigos provisórios para famílias que precisarem. Conforme atualização da Secretaria de Desenvolvimento Social, Primeira Infância e Segurança Alimentar (Semdes) na tarde desta sexta, 83 núcleos familiares aceitaram ajuda.
A maioria decidiu ir para a casa de parentes e amigos. Os abrigos provisórios foram montados em seis escolas municipais de Maceió e na Cassa de Passagem Familiar.
Os locais possuem colchões, lençóis, kits de higiene pessoal e limpeza, água e alimentação, além de atendimento de equipes da Secretaria Municipal de Saúde.
MAPA DA ÁREA DE RISCO
As áreas onde estão localizados os imóveis, destacados em vermelho, passaram de criticidade 01 — classificação de menor risco — para criticidade 00 — maior risco — e precisam ser desocupadas.
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Em nota, a Defesa Civil detalhou que permanece em alerta máximo devido ao risco de colapso de uma das minas na região do antigo campo do CSA. Estudos constataram um aumento na movimentação do solo na Mina 18, o que indica a possibilidade de surgimento de uma cratera.
Histórico
A instabilidade no solo de Maceió foi causada pela extração de sal-gema do subsolo e ocasionou o afundamento de cinco bairros. Essas localidades foram ou estão sendo parcialmente desocupadas.
Após a extração do minério, as minas ficaram cheias com um líquido químico que vazou, formando vários desabamentos. Os tremores seriam também relacionados a acomodação do solo, a partir dos deslocamentos no subsolo.
A prefeitura de Maceió e a Baskem fecharam um acordo em julho deste ano, assegurando ao município uma indenização de R$ 1,7 bilhão por conta do afundamento dos bairros. O caso teve início em 2018, data do primeiro tremor ocorrido, e prejudicou mais de 60 mil moradores.
De acordo com o órgão, os recursos serão destinados à realização de obras estruturantes na cidade e à criação do Fundo de Amparo aos Moradores (FAM).